Sexta-feira, 29 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Opinião

PERPLEXIDADES CIDADÃS


PERPLEXIDADES CIDADÃS - Gente de Opinião

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte (MG)

A política brasileira tem configurado cenários que deixam os cidadãos perplexos.  Palco de muitas aventuras e disparates, a política, que deveria ser instrumento de construção do bem comum, é vivida de modo inadequado. E as consequências são evidentes: inúmeros prejuízos que pesam sobre os ombros do povo. Candidatar-se é fácil, e talvez nem seja tão difícil obter algum sucesso no processo eleitoral. Exigente é cultivar a competência para garantir o bem do povo, por meio da execução de projetos que busquem o desenvolvimento integral.  Essa fragilidade no perfil de representantes eleitos surpreende ao assistirmos muitos deles exercerem a função de juízes sem a necessária competência e seriedade moral. Faz até lembrar o conhecido episódio dos conterrâneos religiosos de Jesus que trouxeram uma mulher, surpreendida em flagrante adultério, para que fosse condenada. Bastou uma indicação do Mestre - “Quem não tiver pecado, atire a primeira pedra” - para que todos eles, um a um, se afastassem da condição de juiz.  

Os vícios terríveis no mundo da política, dos conchavos à defesa de privilégios e benesses, que injustamente corroem o erário, emolduram o conjunto das peças que produzem outra perplexidade cidadã: a falta de credibilidade nos discursos dos representantes do povo. A política parece ser o lugar da falácia, em vez de ambiência marcada pela transparência e honestidade. Grande é a perplexidade diante das feridas que vão sendo abertas na democracia, em razão de operações que ferem legalidades. Faz-se o que se quer, por interesses partidários e eleitoreiros, e o pior: verifica-se a perversidade quando se passa por cima de pessoas e histórias, desrespeitando a população. Vale tudo para se alcançar a vitória partidária.  Prevalecem os interesses particulares ou de pequenos grupos. Em segundo plano, fica o compromisso com o desenvolvimento integral. 

Há uma miopia que satisfaz governantes, políticos e construtores da sociedade no leito de suas garantias e deixa o Brasil paralisado, convivendo com a vergonha da miséria e das exclusões, com a carência de infraestrutura e a incompetência para valorizar as riquezas do país. Esse cenário de atrasos alimenta a violência, o ódio e a discriminação rancorosa, vingativa. Agrava feridas abertas que deveriam fazer com que muitos assumissem suas responsabilidades - especialmente os que detêm poder e influência.  Mas para isso, a primeira indicação é cultivar a simplicidade de uma postura séria no exercício da política e em diversas outras circunstâncias. Uma qualidade que define competências para se buscar o bem comum. Com seriedade, é possível eliminar certos hábitos culturais de quem tem gosto por assentar-se em inverdades. Sem seriedade, cedo ou tarde, haverá a ruína de projetos, o comprometimento de serviços e o enfraquecimento da democracia. 

É ilusão achar que há força democrática em muitas situações ocorridas no mundo político. Por isso, com frequência, o povo não identifica credibilidade em seus representantes, inclusive quando os eleitos ocupam-se da tarefa de julgar. Julgar, pelo bem da verdade e da justiça, é um ato de extrema nobreza. Porém, esse exercício exige seriedade e, sobretudo, moralidade pública. Caso contrário, sobram hipocrisias, hegemonias de grupos, riscos de retrocessos, visões ultrapassadas e comprometedoras do bem maior. O exercício da política só merecerá crédito quando se tornar efetiva a prática que busca solucionar as causas estruturais da pobreza e de outros descompassos vergonhosos. 

Política que não resolve os problemas enfrentados pelos mais pobres permanece mergulhada na lama de mazelas que tornam a sociedade e sua democracia muito frágeis. Consequentemente, faz surgir novas crises. É incontestável que a desigualdade é a raiz de todos os males sociais. Por isso, diante de tantas perplexidades advindas da política, espera-se que a promoção da dignidade de cada pessoa seja reconhecida como pilar. E esse caminho começa pela via da seriedade, única forma de eliminar as perplexidades cidadãs.

Gente de OpiniãoSexta-feira, 29 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

A concessão de abono natalino a servidores públicos

A concessão de abono natalino a servidores públicos

Pessoalmente, não vejo nenhum problema no pagamento de abono natalino a servidores públicos, desde que seja autorizado por uma lei, apesar de muita

25 de novembro - a pequena correção ao 25 de abril

25 de novembro - a pequena correção ao 25 de abril

A narrativa do 25 de Abril tem sido, intencionalmente, uma história não só mal contada, mas sobretudo falsificada e por isso também não tem havido

Punhal verde amarelo

Punhal verde amarelo

Tive acesso, sábado, dia 16 de novembro, a uma cópia do relatório da Polícia Federal,  enviado pela Diretoria de Inteligência Policial da Coordenaçã

Pensar grande, pensar no Brasil

Pensar grande, pensar no Brasil

É uma sensação muito difícil de expressar o que vem acontecendo no Brasil de hoje. Imagino que essa seja, também, a opinião de parcela expressiva da

Gente de Opinião Sexta-feira, 29 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)