Domingo, 4 de dezembro de 2016 - 19h13
As manifestações deste domingo contra a corrupção e em apoio à Lava Jato emparedaram o Congresso e especialmente o presidente do Senado, Renan Calheiros, um dos alvos dos protestos, que em nota algo enigmática pareceu admitir o adiamento da votação do projeto sobre abuso de poder, apontado pelo juiz Sergio Moro como ameaça à Lava Jato. Mas se Renan capitular, livrando também Temer do dilema de sancionar ou vetar a proposta, que fará o baixo clero da Câmara, que deu o golpe e empossou Temer buscando apenas a boia de salvação? Todos os caminhos levam ao agravamento da crise: ou partirão para novos confrontos com o Judiciário/Ministério Público, ou começarão a desistir de Temer, que não serviu para estancar a sangria, nem estabilizar a política, nem recuperar a economia.
As manifestações foram expressivas e tiveram caráter político-ideológico claro: foram conduzidas pelo “Vem pra rua” e outros grupos de direita que impulsionaram o impeachment da ex-presidente Dilma, foram contra a classe política e contra o Congresso, que errando ou acertando, representa a população. Logo, foram nefastas à democracia. Representaram também segmentos de extrema-direita, que no Rio formaram um bloco pedindo a volta dos militares. Representaram ainda o moralismo conservador, com críticas à decisão do STF que descriminaliza o aborto até o terceiro mês de gravidez. Foram grandes mas não representam o país. Esta semana veremos novos protestos, puxados pelos movimentos sociais de esquerda, contra a política econômica recessiva do governo e a PEC 55, sob o slogan “Fora Temer”. O racha do país volta a revelar sua extensão, apontando para a única saída consistente e segura, a convocação de eleições diretas.
A nota de Renan, emitida nesta tarde de domingo, diz: “O presidente do Senado, Renan Calheiros, entende que as manifestações são legítimas e, dentro da ordem, devem ser respeitadas. Assim como fez em 2013, quando votou as 40 propostas contra a corrupção em menos de 20 dias, entre elas a que agrava o crime de corrupção e o caracteriza como hediondo, o Senado continua permeável e sensível às demandas sociais.”. A permeabilidade significa que o Senado se vergará aos protestos e adiará a votação do abuso de autoridade? É o que parece.
O deputado Silvio Costa (PTB do B-PE), vice-líder da oposição, adverte:
– Renan e o Senado não podem capitular. Acabei de escrever ao Rodrigo Maia (presidente da Câmara) sugerindo que ele use a TV Câmara para um pronunciamento em que esclareça o que a Câmara votou. A população foi envenenada pela histeria dos procuradores, pelas versões de que estraçalhamos as propostas contra a corrupção. O que fizemos foi ajustá-las à Constituição. A população, se esclarecida, entenderá que não podemos criar a figura do dedo duro remunerado. Que não podemos flexibilizar o habeas corpus, como fez a ditadura. Estão querendo encurralar o Congresso – diz ele.
Mas, encurralada, esperando pelas delações da Odebrecht, o que fará a base de Temer? Agravar a crise, com mais medidas que confrontam o Judiciário-Ministério Público, ou desistir da pinguela Temer. Isso é o que veremos a partir de amanhã, quando deputados e senadores voltarem a Brasília digerindo as manifestações de hoje.
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