Segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013 - 06h50
Bruno Peron
Que significa estar informado num mundo de abundâncias em que todos têm algo a comunicar? De anúncios publicitários nas vias públicas e telefonemas comerciais na privacidade do lar a notícias em tempo real pela televisão e atualizações das redes sociais virtuais, muitas são as tentativas de informar-nos sobre aquilo que os emissários consideram importante que os destinatários saibam.
A primeira distinção que é necessário fazer neste exercício inquiridor sobre o significado de estar informado é entre quantidade e qualidade. O rápido desenvolvimento técnico dos meios de comunicação nos oferece, por um lado, um bombardeio informacional; por outro, há que aferir quanto destes códigos se traduz em conhecimento e serve para o aprimoramento cidadão e moral.
Pacotes de televisão por assinatura oferecem 100, 200 e até 400 canais para que o espectador não se queixe de que não tem o que assistir; jornais impressos dão maior cobertura a acontecimentos locais e regionais a fim de manter suas vendas frente às mudanças de hábitos dos leitores; programas radiofônicos alternam seus conteúdos musicais com mensagens publicitárias para angariar fontes de financiamento; a telefonia investe na convergência digital entre voz, imagem, música e informação.
Diante da remanescência dos meios tradicionais de comunicação, a Internet aparece como a grande organizadora dos espaços públicos. A era digital que se instaura é responsável por trocas de informação que vão desde lamúrias e regozijos em jogos eletrônicos e fofocas em redes sociais até o comércio eletrônico e mensagens profissionais trocadas por correio.
O grande invento do século XX - a Internet - determina os rumos informacionais no século XXI.
Um dos desafios é o de como administrar a quantidade de informação a fim de que parte dela se converta em conteúdo de qualidade. Aposta-se assim no aumento do nível educativo e da capacidade de conhecer o distante e mostrar-se a distância. A alternidade passa a ser necessariamente uma relação harmônica.
As indústrias da cultura e da comunicação não perdem tempo no desfrute dos recursos técnicos modernos. Nunca se escutou e trocou tanta música, ou se viram tantos filmes como nos tempos da Internet em banda larga e da profusão de conteúdos, ainda que de forma pirata e insuficientemente controlada. Em menos de uma hora, é possível baixar toda a discografia de cantores famosos pela Internet.
Ainda não medimos as consequências da abundância informacional. Uma delas é o preparo de um jovem para usufruir destes recursos em prol de seu aprimoramento ou se, do contrário, ele torna-se refém de um modo de vida enclausurado e alienante. As políticas de Estado são anacrônicas neste aspecto porque ainda não enxergam as novas formas de exercer a cidadania (por exemplo, na blogosfera). Enquanto um grande volume de negócios se movimenta pelos meios de comunicação (muitos dos quais não se sujeitam aos custos de frete nem ao pagamento de impostos), as políticas públicas oferecem travas burocráticas às rádios comunitárias e incentivos fiscais ao cinema dos peixes grandes.
Não me convenço, portanto, de que as ferramentas de informação por si sós possam nortear os usos e abrir as portas do mundo para um usuário desprevenido. Não creio que se deve prescindir dos meios tradicionais onde o espaço público encena-se cara a cara em contraste com um futuro digital incerto. Critico, deste modo, o ensino a distância e a substituição completa do material didático impresso pelo deixe-se-levar dos recursos mais modernos da tecnologia.
É preciso muita coerência na família e na escola para que os parentes e os educadores acompanhem a evolução da geração mais recente e apliquem medidas corretivas. A época digital trará benefícios se houver ciência de que há outra forma de interagir com a informação. Os espaços públicos podem ser, assim, ambientes de abertura ao mundo em vez de claustro da ignorância e do pequeno convívio.
Tenhamos cautela para que a abundância não nos desinforme.
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