Domingo, 15 de outubro de 2017 - 09h36
Reginaldo Trindade[1]
Não era 25 de julho. O cidadão precisava renovar sua carteira de habilitação, lembrando-se disso sabe Deus como. Raramente nos lembramos de renovar a CNH, talvez porque ela tenha validade por muito tempo. A raridade impõe-nos o esquecimento e, muito comumente, o constrangimento de sermos surpreendidos até em “blitz” com o documento já vencido.
Com a lembrança casual da necessidade de renovar a carteira de habilitação, programou a ida ao Detran. Embora pudesse ir num dia comum de trabalho, já que não tinha que bater ponto, achou melhor ir durante uma folga. Ao homem público não basta ser honesto, tem que parecer honesto.
O processo todo de renovação foi muito rápido e simples. O requerimento foi feito via Internet, não consumindo mais que alguns poucos minutos, contados desde a busca inicial pelo Google até a finalização do procedimento.
Depois, bastou uma visita à repartição pública para atender às demais burocracias inerentes à renovação da CNH. Tudo muito rápido mesmo. Tão rápido que quase retirou a carteira já renovada no mesmo dia!
Só não conseguiu essa proeza porque teve acusado um problema na “vista”. Com isso, a médica requisitou exames, laudo de oftalmologista e o cidadão acabou tendo que retornar noutro dia.
Mesmo assim, na segunda vez em que se dirigiu ao departamento de trânsito, já de posse do laudo, conseguiu retirar a nova carteira.
Mais cinco anos de tranquilidade. E de esquecimento!
Ou seja, o que antes demandava aborrecimentos, tempo (muito tempo) e, não raro, até intermediação de despachantes, foi feito assim de forma simples, rápida, indolor.
As pessoas tendem a demonizar todo e qualquer serviço público no país. Como se as repartições fossem, de norte a sul, completamente desidiosas, para dizer o mínimo, no cumprimento do dever que lhes compete.
Está certo que, infelizmente, os serviços públicos nessa continental terra estão ordinariamente muito abaixo do que seria razoavelmente de se esperar de pessoas que, não raro, estão entre as mais bem remuneradas do mercado de trabalho.
Mas, não se quer realçar em que medida os serviços públicos são (ou não) eficientes, tampouco se os funcionários são bem ou mal remunerados; nem ainda se um bom salário é condição necessária para trabalhar bem e atender, de forma minimamente condizente, a população.
O que se quer salientar mesmo é que a voracidade com que o ser humano – brasileiro em especial – se dispõe a criticar o outro ao menor sinal de tratamento ruim (no caso, o servidor que atende em repartição pública ou mesmo o serviço público em si) não se verifica quando o tratamento é bom – nessa hipótese, para as reverências devidas.
Elogia-se muito pouco no país. Não apenas o serviço/servidor público.
Raramente reverenciamos um empregado que se comportou bem, um filho que se dedicou a uma prova ou concurso. Nossa ânsia é sempre em apontar erros ao menor sinal de qualquer falha, fazendo-o, para piorar, normalmente, em público.
Essa lógica é cruel demais. Deixa transparecer que existem mais pessoas más que boas; que o ser humano erra mais que acerta...
Deveríamos elogiar mais que censurar.
___________________________________
Podemos aprender muitas lições do trânsito. Abençoadas lições.
Sim! O trânsito, que, no Brasil, mata mais que muitas guerras, pode ser sinônimo de vida, solidariedade, gentileza.
Basta que todos queiram. E ajam de acordo!
Das vezes todas que um motorista apressado lhe pediu passagem em quantas você deu?
Em quantas dessas ocasiões você permitiu – de bom grado – que ele passasse?
Finalmente, em quais oportunidades você o fez com o coração a gargalhar e um sorriso estampado no rosto?
Acaso lhe ocorreu que o motorista com pressa poderia/poderá ser você mesmo?
Acaso lhe ocorreu que o motivo da pressa poderia/poderá ser a salvação de um filho doente, o primeiro encontro com o amor de sua vida, a tentativa de mostrar pontualidade numa importante entrevista de emprego?
Se fosse mesmo você o motorista apressado a pedir passagem e fosse qual fosse a razão, acaso você não gostaria que os seus colegas de volante permitissem?
Se eles o fizessem –de bom grado, com o coração radiante e um sorriso estampado no rosto – o mundo não seria um lugar melhor para viver?
A regra de ouro – não fazer a outrem o que você não gostaria que ele lhe fizesse – está presente em, provavelmente, todas as religiões do mundo, apenas com as variantes próprias de cada credo.
Essa regrinha tão singela, tão autoevidente, se cumprida fosse, resolveria todos os problemas do mundo.
Se você fizer sua parte pode até ser que nem todas essas mazelas sejam resolvidas, mas, com certeza, a Terra será um lugar melhor – um pouquinho que seja. E esse pouquinho poderá significar muito na vida de uma pessoa...
[1] Procurador da República. Responsável, no Estado de Rondônia, pela Defesa do Povo Cinta Larga desde abril/2004. Pós-Graduado em Direito Constitucional. Membro da Academia Rondoniense de Letras.
Pensar grande, pensar no Brasil
É uma sensação muito difícil de expressar o que vem acontecendo no Brasil de hoje. Imagino que essa seja, também, a opinião de parcela expressiva da
A linguagem corporal e o medo de falar em público
Para a pessoa falar ou gesticular sozinha num palco para o público é um dos maiores desafios que a consome por dentro. É inevitável expressar insegu
Silêncio do prefeito eleito Léo Moraes quanto à escolha de nomes para o governo preocupa aliados
O silencio do prefeito eleito de Porto Velho, Léo Moraes (Podemos), quanto à escolha de nomes para comporem a sua principal equipe de governo vem se
Zumbi dos Palmares: a farsa negra
Torturador, estuprador e escravagista. São alguns adjetivos que devemos utilizar para se referir ao nome de Zumbi dos Palmares, mito que evoca image