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Sem os pobres não há Natal



Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo de Juiz de Fora (MG)

Os momentos em que mais me sinto feliz durante o ano têm sido os dias que passo entre os pobres. Algumas vezes vou à obra Pequeninos de Jesus, celebrar, rezar, tomar alguma refeição com os pobres mais pobres da cidade de Juiz de Fora.

Todos os anos, às vésperas de Natal não deixo de ir e procuro passar algumas horas entre os moradores de rua e outras pessoas marcadas pela situação de pobreza extrema ou de pesado sofrimento.

Um grupo de muitos voluntários católicos, juntamente com alguns diáconos permanentes, passa o ano inteiro com eles, indo todos os dias, para servir-lhes o café da manhã, acudi-los nos problemas de saúde, encaminhá-los aos recursos possíveis, oferecer-lhes tratamento dentário, higiene corporal, corte de cabelo, e serviços em geral. Promovem campanhas para angariar roupas, calçados e outras coisas necessárias, além de algum numerário para despesas em favor dos pequeninos. Às vezes encontram sucesso na obra da caridade, às vezes não. Às vezes encontram apoio social, às vezes não. Às vezes encontram compreensão, às vezes não. Às vezes encontram pronta adesão às campanhas, às vezes não. Tudo oferecem a Deus que enviou seu Filho para nascer pobre entre os pobres de Belém. Move-lhes o coração a palavra de Cristo: Tudo o que fizerdes ao menor dos meus irmãos é a mim que estareis fazendo (Mt. 25, 45).

O Natal tem que ser a festa dos pobres, da caridade, da solidariedade, da comunhão de bens, da gratuidade, pois Deus ao enviar-nos a Salvação o fez por todos estes meios e foi extremamente misericordioso com nossa miséria humana.

A ternura do Natal, sua celebração litúrgica e social enche o coração de alegria quando é revestido de seu verdadeiro sentido: o esplendor da luz de Deus acontecendo na alma humana, ensinado o que é mesmo viver.

O Papa Francisco nos presenteou com este pensamento: No coração de Deus, ocupam lugar preferencial os pobres, tanto que até Ele mesmo «se fez pobre» (2Cor 8,9). Todo o caminho da nossa redenção está assinalado pelos pobres. Esta salvação veio a nós através do «sim» duma jovem humilde, de uma pequena povoação perdida na periferia de um grande império. O Salvador nasceu num presépio, entre animais, como sucedia com os filhos dos mais pobres; foi apresentado no Templo, juntamente com duas pombinhas, a oferta de quem não podia permitir-se pagar um cordeiro (cf. Lc 2,24; Lv 5,7); cresceu num lar de simples trabalhadores e trabalhou com as suas mãos para ganhar o pão. Quando começou a anunciar o Reino, seguiam-no multidões de deserdados, pondo assim em evidência o que Ele mesmo dissera: «O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para anunciar a Boa-Nova aos pobres» (Lc 4,18). A quantos sentiam o peso do sofrimento, acabrunhados pela pobreza, assegurou que Deus os tinha no âmago do seu coração: «Felizes vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus» (Lc 6,20); e com eles se identificou: «Tive fome e destes-me de comer», ensinando que a misericórdia para com eles é a chave do Céu (cf. Mt 25,34-40). (Evangelii Gaudium, 197)

Descobri uma coisa: se o Natal não incluir efetivamente os pobres não será autêntico e pouco valerá celebrá-lo.

Feliz Natal!

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