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Tesoureiro Temer


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A denúncia da delação premiada de Marcelo Odebrecht de que Temer lhe pediu 10 milhões de reais em dinheiro vivo num jantar realizado no Palácio do Jaburu, em maio de 2014, 4 milhões dos quais teriam ido para a campanha de Skaf ao governo de São Paulo e 6 milhões para Eliseu Padilha, mais a delação de Sérgio Machado de que 1,5 milhão da propina arrecadada no esquema Transpetro Temer pediu para a campanha de seu protegido a prefeito de São Paulo e a revelação da Justiça Eleitoral de que ele doou 100 mil reais para duas campanhas de deputados federais aponta para uma nova linha de investigação até agora desconhecida.

Além de ser vice-presidente da República e presidente nacional do PMDB Temer era e é o tesoureiro arrecadador do partido, ou seja, passavam e passam por suas mãos todas as doações de campanha do partido, das mais ínfimas às mais eloquentes e, como se sabe, as principais doações vinham de porcentagens acertadas entre as estatais do setor elétrico e petrolífero, principalmente, como tem sido revelado pela Lava Jato.

O espectro de atuação dele, no que tange às arrecadações de campanha é muito maior do que se imaginava. Maior do que o de Eduardo Cunha e o dos principais senadores do PMDB.

A Veja tenta atenuar o envolvimento de Michel Temer com a Odebrecht usando verbos invertidos nas duas manchetes da capa desta semana: “Odebrecht cita Temer” e “Marqueteiro destrói Dilma”.

A leitura das duas matérias deixa claro que as manchetes corretas deveriam ser: “Odebrecht destrói Temer” e “Marqueteiro cita Dilma”.

O que é mais grave? O dono da maior empreiteira do país contar que o vice-presidente da República e presidente nacional do PMDB pediu (e recebeu) 10 milhões em dinheiro vivo num jantar no Palácio do Jaburu, em maio de 2014, que foi confirmado tanto por Temer quanto por seu braço direito, Eliseu Padilha ou o marqueteiro revelar que Dilma lhe garantiu que dinheiro não faltaria na campanha de 2014 quando ele alegou que na de 2010 ele suou para receber o que fora acertado?

A alegação de Temer de que a doação foi legal não tem pé nem cabeça, pois doações legais não são feitas em dinheiro vivo, o TSE determina que sejam depositadas na conta bancária do partido. Ademais, a doação foi contabilizada no “caixa paralelo” da Odebrecht. E, por último, se fosse legal não faria sentido constar de delação premiada que se destina a tirar Odebrecht da cadeia.

Por mais que Veja tente igualar o que se imputa ao presidente interino e à presidente afastada, atribuindo peso maior até a Dilma, o fato é que ela não foi delatada por nenhum empreiteiro – e se Odebrecht a tivesse delatado, Veja teria sido informada – e jamais pediu doações de 10 milhões à sua campanha em pleno Palácio do Planalto.

Ao pedir dinheiro vivo a Odebrecht na residência oficial da vice-presidência da República, que não lhe pertence, mas ao estado brasileiro, Temer agiu, nas sombras, não apenas como vice decorativo, não apenas como presidente de longo curso, mas como tesoureiro do PMDB.

Não se sabe de que forma e aonde a dinheirama foi entregue. Para elucidar esse e outros detalhes e dúvidas, tais como, por exemplo se essa foi a única vez que Temer agiu assim ou se continuou pedindo doações por baixo do pano depois e se continua pedindo até hoje, o caminho seria instaurar uma CPI, a forma mais republicana de apurar denúncias desse calibre, assim como aconteceu em 1992, quando a mesma Veja publicou a entrevista de Pedro Collor que denunciou os inúmeros ilícitos de seu irmão presidente.

Ainda na edição desta semana, na coluna “Radar” Veja também informa que o ministro do STF Gilmar Mendes entrou com processo para cassar o registro do PT “por usar recursos públicos nas campanhas do partido”.

O ministro, para ser justo, que é o que se espera de juízes, principalmente do STF, deveria abrir outro processo, para cassar o PMDB “que controlou desde a redemocratização cargos estratégicos da máquina pública, como diretorias da Petrobrás e de estatais do setor elétrico”, como diz a própria Veja na matéria acerca de Temer, muito antes, portanto, do PT chegar ao poder, em 2002.

Se Gilmar Mendes vê motivos para extinguir um partido que controlou a máquina estatal por 13 anos, em parceria com o PMDB, diga-se, como pode ignorar aquele que a controlou por 30, sem a participação do PT?

Os senadores ansiosos para confirmar o afastamento de uma presidente acusada de crime de responsabilidade, mas que não tem uma delação na Lava Jato, não podem, como avestruzes, ignorar que a delação de Odebrecht destrói o passado, o presente e o futuro de Temer.

Se o fizerem, correm o risco de destruir os votos que receberam, seus mandatos e o que ainda resta de democracia em nosso país.
 

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