Sábado, 13 de dezembro de 2014 - 08h55
Quando não se conhece algo e isso nos traz uma preocupação somente as coisas negativas são ressaltadas. Dirigir um automóvel sempre fez parte dos meus desejos de realização, assim como sempre foi destacado por mim. Nunca me imaginei dirigindo.
Depois de quase dois anos de acompanhamento psicológico, este ano de 2014, enfim, passei a ser mais um dos motoristas brasileiros a conviver com os problemas inerentes, antes imperceptíveis.
Durante o longo período de inatividade só foram acumulados os malefícios dessa atividade, pois, para mim, sair com um carro era como se me preparasse para entrar numa guerra. Não era um medo tão injustificado assim. No Brasil, mata-se mais no trânsito do que em qualquer guerra declarada no mundo. Se o número de mortes é grande, o de feridos é incalculável.
Sem retirar nenhuma das restrições, na rua existe colaboração entre as pessoas, e não só a tragédia imaginada. As pessoas colaboram mais do que a gente percebe quando não faz parte dessa loucura de dirigir.
A mania de levar vantagem indevida em tudo está muito presente nas atitudes dos brasileiros em geral. Com os motoristas não poderia ser diferente e talvez isso seja uma das maiores causas dos acidentes. O sinal amarelo serve para avisar que a velocidade deve ser reduzida para abrir passagem ao outro lado. Aqui, é quase unanimidade a aceleração automática do carro para alcançá-lo no início do vermelho. Tanto que é comum o congestionamento aumentar devido ao bloqueio dos cruzamentos.
Não há quem gosta de ser acossado por outro, mas existem ultrapassagens feitas em momentos emergenciais. Quando um motorista pede passagem, a tendência do outro é encarar isso como uma afronta, um desaforo, uma provocação e aí vem a grosseria, o revide, em lugar de cortesia ou colaboração.
Também há o vício de se encarar o trânsito como uma disputa automobilística, como afirmação de superioridade. Isso se constata pela diferença do tratamento privilegiado dado a quem tem carrões daqueles que têm carros simples ou verdadeiras “latas-velhas”.
Como todos os demais segmentos, o trânsito é reflexo do comportamento e da cultura de cada sociedade.
Mas, sem dúvida, há demonstração de solidariedade a todo instante nesse universo até então desconhecido para mim. Ainda é preciso que as pessoas agradeçam mais quando recebem apoio, já que não é habitual; um farol, uma buzinada, um aceno qualquer.
E se cada novo motorista se autovigiar para não adquirir o hábito da pressa, um passo importante será dado para diminuir essa carnífice que teima em não arrefecer. Parece contraditório ou uma dicotomia extrema. Ou não? Como diria um famoso baiano.
Pedro Cardoso da Costa
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