Sábado, 20 de dezembro de 2014 - 10h07
Dom Zanoni Demettino Castro
Administrador diocesano de São Mateus-ES e arcebispo coadjutor de Feira de Santana-BA
Entre os dias 4 e 8 de dezembro de 2014 representei a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil no diálogo entre os Pastores da Igreja e os representantes dos países que foram ao Peru participar da 20ª Conferência Mundial do Clima, COP 20 , ocorrido na Cidade de Lima com o título: “Encontro de alto nível para o desenvolvimento autêntico e cuidado da criação: proposta para um novo acordo global para a mudança climática”.
Estiveram presentes neste significativo evento Bispos de todos os Continentes: Dom Sithembele Anton Sipuka, de Umtata, África do Sul; Dom Theotonius Gomes, de Dhaka, Bangladesh; Dom Marc Stenger, de Troyes, França; Dom Zanoni Demettino Castro, de Feira de Santana, Brasil; Dom Salvador Piñeiro García-Calderón, Dom Pedro Barreto Jimeno, arcebispo de Huancayo, Peru; Dom Richard Alarcon Urrutia, de Tarma, Peru; Dom Jaime Rodriguez, de Huanuco, Peru; e Dom Alfredo Vizcarra, do Vicariato Apostólico de San Francisco Javier de Jaen, Peru. Dos governos estavam presentes os representantes da França, Alemanha, Reino Unido, Itália, Chile, Bolívia entre outros.
Neste momento quando nos alegramos com o protagonismo do Papa Francisco no histórico restabelecimento das relações entre Cuba e o os Estados Unidos e compreendendo que o cuidado com a criação está no coração do Evangelho, as palavras de Sua Santidade dirigidas às lideranças dos movimentos sociais são inspiradoras quando nos sentamos à mesa para dialogar com aqueles que farão um acordo em prol do nosso planeta: “Não se entende que o amor pelos pobres está no centro do Evangelho. Terra, teto e trabalho – isso pelo qual vocês lutam – são direitos sagrados. Reivindicar isso não é nada raro, é a doutrina social da Igreja”.
Os Bispos, no intuito de acompanhar o processo político e ser porta-vozes dos pobres, expressaram em nota dirigida aos negociadores nas conversações sobre o clima que a “humanidade no Planeta Terra está destinada a viver em igualdade, justiça e dignidade, paz e harmonia em meio à ordem da Criação”. Para os Bispos o aquecimento global é também fruto do sistema econômico global dominante que colocou o mercado e o lucro acima do ser humano e do bem comum, e por isso clama "por uma nova ordem econômica e financeira". Insistem os Bispos que é urgente suprimir gradualmente as emissões de combustíveis fósseis, levando a um uso de 100% de energias renováveis, com acesso à energia sustentável para todos, e que fossem estabelecidas as bases para um acordo internacional vinculante no próximo ano em Paris. “É preciso um acordo global justo e juridicamente vinculativo com base nos direitos humanos universais aplicáveis a todos", que mantenha o aumento da temperatura global abaixo dos 1,5 graus Celsius, em relação aos níveis pré-industriais - um limite ainda mais rígido do que os 2 graus apontados pelos cientistas do clima de forma a evitar efeitos piores da mudança climática.
Neste encontro, o Presidente da COP 20, Dr. Manuel Pulgar Vidal, Ministro do Meio Ambiente do Peru, reconhecendo que as alterações climáticas são uma realidade com implicações éticas e globais, assinala a importancia do papel da Igreja, acollhendo as contribuições dos Bispos e colocando-se à disposição para ser a ponte entre a COP20 e a COP 21, enfatizando que a Igreja é uma grande aliada para se chegar a acordos substantivos para o cuidado do nosso planeta. É preciso que toda sociedade se mobilize. Sua opinião também foi partilhada pelos representantes dos governos como a embaixadora da França no Peru, Laurence Tubiana. Pare os dirigentes se deve ir além dos acordos. É hora de agir.
Na vigésima Conferência sobre o clima estiveram presentes representantes de 195 paises com a tarefa de elaborar um esboço de um acordo para que as nações se comprometam em reduzir as emissões de gases de efeito estufa e ofereçam ajuda financeira para o Fundo Verde para o Clima, criado para ajudar os países em desenvolvimento na adaptação e mitigação de esforços relacionados às mudanças climáticas. Um acordo, então, será assinado no próximo ano em Paris, local da 21ª Conferência das Partes.
A questão das mudanças climáticas diz respeito a todos nós, pois atinge diretamente as nossas vidas. “Precisamos todos nos envolver na estrada para Paris como um ponto de partida para uma nova vida em harmonia com a Criação, respeitando os limites do planeta". Nossa mensagem argumentam os Bispos,"está enraizada na experiência e no sofrimento" de comunidades pobres e vulneráveis. Pedimos também novos modelos de desenvolvimento e estilos de vida, que sejam compatíveis tanto com o clima e que sejam capazes de afastar as pessoas da pobreza".
Fonte: CNBB
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