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Um espectro de 'pavor e medo' do comunismo, ronda mais uma vez a nação brasileira


 Um espectro de 'pavor e medo' do comunismo, ronda mais uma vez a nação brasileira - Gente de Opinião

Prof. Edilson Lobo

Quando vejo essas postagens no face, colocando matérias requentadas como dizia minha mãe do tempo do ronca, ou veiculando vídeosadredemente editados e descontextualizados da sua fonte original, repetindo a exaustão a mesma cantilena, do perigo que representa o comunismo, o socialismo, o esquerdismo, Cuba, chavismo, etc, a sensação que tenho é que estou vivendo num outro planeta.

Francamente, ao fazer esse terrorismo justamente às vésperas de uma eleição, muito provavelmente essa meia dúzia queorquestra essa farsa, acredita que a maioria do povo brasileiro tem miolo mole, é retardada, extremamente desinformada, ou por outra, possui memória curta. Já vimos esse filme antes.

Pior é que vejo pessoas supostamente “bem informadas”, servindo a esses interesses fascistas.

Achar que o governo petista hoje, representa uma ameaça ao regime democrático, simplesmente por estabelecer relações com alguns países da América Latina, considerados de esquerda e, vê em Cuba, um inimigo com o qual se deve manter distância, é de uma miopia sem tamanho.

Imagina se as duas maiores potências do mundo China e Estados Unidos, uma de regime capitalista a outra com um sistema, para alguns comunista, para outros híbrido, se dessem ao luxo de não estabelecerem relações com países considerados de outros regimes. Certamente não seriam as potências que são hoje. Por uma razão muito simples, os mercados seguem uma dinâmica em franco processo de expansão e as nações buscam ampliar as suas zonas de influência, na perspectiva de disputarem esses mercados. Essa é uma lógica, da qual, país nenhum pode fugir, a não ser que queira ficar condenado a uma autarcia.

Qual o perigo que representa Cuba? Um País nanico, (uma força de expressão), espremido numa ilhota, cuja economia está caindo pelas tabelas e, se não fora pela Abertura que está fazendo ao capital estrangeiro, (parece que os ferrenhos críticos de Cuba não sabem disso), justamente um recuo do regime castrista, a situação estaria muito mais grave. É este o país que nos mete medo? Tenham a santa paciência...

Vivemos um mundo em franco processo de globalização. O capital não tem pátria, nem cor ideológica. As plataformas produtivas estão aqui, na China, em Cuba, na Europa ou em qualquer lugar do mundo. A era da bipolaridade sucumbiu. Vivemos um mundo multipolar, onde os blocos econômicos se articulam em função das questões que estejam mais consentâneas com os seus interesses, tanto do ponto de vista político como das vantagens econômicas. Nessas circunstâncias, cada país, do ponto de vista geopolítico, tenta manter a sua liderança ou a sua inserção no mundo, de acordo com as suas potencialidades e capacidade de influir política e economicamente (não vou entrar no mérito das questões ético-finalistas), na perspectiva de estabelecer a sua hegemonia, no bloco ou nos blocos em que atua.

Se a situação conjuntural e estrutural brasileira, apresentam problemas, podemos dizer de complexa gravidade, e diga-se de passagem, são questões que só se acumularam ao longo da história, não vamos resolvê-los com soluções “redentoras”.

A democracia brasileira já alcançou a maioridade. Ela está apta a resistir determinadas turbulências sem sobressaltos. A sociedade está madura e consciente, digo melhor, devidamente estruturada nos valores democráticos e de liberdade, para não permitir que alguns golpistas, (não nos termos e circunstâncias que os petistas gostam de usar esse termo) tenham a pretensão de sequer ensaiarem, uma desestabilização de algo que foi construído com muito suor e sangue,por muitos brasileiros que doaram a vida para consolidar uma nação, livre dos regimes ditatoriais.

Qual a melhor forma de apear do poder um governo que não seja do agrado da maioria ou que não esteja correspondendo às expectativas do seu povo? Pelas vias democráticas lógico. Pela alternância de poder, através do voto representativo. Com todas as imperfeições ou limitações que esse sistema possa apresentar, ainda não inventamos outro que o substitua, sem ferir os princípios constitucionais mais republicanos. É assim que funciona nos países civilizados. Reforçando o que o Jô Soares costuma dizer em seu programa, quando discute questões dessa natureza, a pior democracia, é melhor que o melhor dos regimes ditatoriais. Elementar.

Quem está pugnando pela volta dos generais e coronéis ao poder, muito provavelmente não sofreu na pele o que é ser usurpado de um dos bens mais preciosos do ser humano que é a falta de liberdade. Não imagina o que é ser tolhido da sua capacidade de expressar livremente seu pensamento, sem correr o risco de não voltar para casa no dia seguinte.Não faz ideia do que seja uma tortura física ou psicológica, proporcionada pelos aparelhos de Estado.

Setores da mídia que acalentam essa sandice, (ainda bem que são em números risíveis), devem estar com saudades da mordaça impingida pela chamada era de chumbo, quando suas linhas editoriaiseram previamente censuradas.Quem não se alinhava ao regime, ousando criticá-lode alguma forma, tinhaas salas dos seus jornaisinvadidas e as suas edições destruídas, sem contar com as pressões, ameaças de prisões e torturas aos  jornalistas.Vivia-se uma imposição, sobre o regime do medo.

Para refrescar a memória dos quese aventuram em tecer loas aoregime militar, lembro um caso bem emblemático, à propósito de liberdade de imprensa, já em vias do processo de reabertura, quase meado dos anos 80, quandonuma entrevista dada pelo general Newton Cruz em Brasília, o jornalista Honório Dantas da Rádio Planalto lhe fez uma “incomoda” pergunta. Ele, do alto da sua prepotência, pediu que o jornalista se calasse e o deixasse falar. Como o jornalista insistisse em fazer-lhe perguntas “incomodas”, o general furioso e aos berros, como se diz popularmente, aberturou-opelo colarinho, ordenando-lhe rispidamente, que lhe pedisse desculpas. Diante de uma ordem autoritária e ameaçadora, vinda de um general babando de ódio, o jornalista não teve outra alternativa que não fosse a de constrangido e de forma humilhante, ainda que acanhadodiante das câmeras e do público presente, se curvasse às ordens daquele megalomaníaco general. Um belo episódio, do qual nunca devamos nos esquecer.

Se o governo de Dilma apoiado por Lula já não representa mais as aspirações dos brasileiros e brasileiras, então que as oposições de forma competente, saibam galvanizar politicamente esse descontentamento e formulem um projeto para o Brasil que esteja à altura de responder concretamente aos grandes desafios do país e que mereça a confiança da população. No mais, é respeitar as decisões das urnas, atentando sempre para o Estado Democrático de Direito.

Edilson Lobo é professor de Economia da UNIR

edilobo@bol.com.br

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