Sábado, 3 de agosto de 2013 - 15h20
Estou impressionada. Não sei o que dizer sobre os gênios que produzem nota pública como se por si só ela fosse capaz de retirar os entulhos malcheirosos do meio do caminho. Pior: nota carregada de hipocrisia, dessa maneira colocada para o debate de uma militância a cada dia surpreendida com a deformação política, para dizer o mínimo, de seus ungidos nas urnas.
Nota pública tem um propósito e objetividade, e se não há como esclarecer ou colocar em debate ingredientes delicados como os que estão ausentes no texto “Nota sobre a inclusão do Deputado Claudio Carvalho nas ações da Operação Apocalipse”, melhor que não seja elaborada e divulgada.
Mas o deputado, o gênio ou gênios ligados a ele, só pode ser isso, acham que podem enganar a galera, insultar a inteligência de militantes e não militantes sem ser incomodados e com a certeza de que a falta de memória do eleitorado não o deixará no limbo do ostracismo na próxima disputa eleitoral.
Infelizmente - o ofício nos impõe de forma recorrente o tema da corrupção na política, o que é pesaroso - a coluna irá reavivar alguns fatos “a fim de informar e incentivar o debate”, como conclama a nota da tendência ao qual o deputado seria ligado, divulgada ontem (2), na esperança despretensiosa de que militantes mais ardorosos ou ingênuos e eleitorado em geral não caiam na esparrela de um texto que se opõe cabalmente às revelações já trazidas à tona pelas investigações policiais. Conforme a leitura do inquérito - jornalista tem obrigação disso, puxa saco de deputado não -, eis o movimento:
1) Contra Cláudio Carvalho e os outros deputados existem fortes indícios de envolvimento nos crimes de peculato, falsidade ideológica, quadrilha e estelionato, e não tráfico de drogas, como diz a nota logo no início, o que é ressaltado para passar ao leitor a idéia de que o deputado é injustiçado, embaralhando informações processadas e divulgadas pela polícia até agora;
2) É obvio que o peculato – crime cometido por servidor público – está bem evidenciado, com a contratação de Andreia Argemiro de Macedo Braga, mulher do traficante Fernando da Gata, o que os correligionários tentam atenuar, dizendo que ela já trabalhava na Assembleia desde 2010, mas em momento algum rechaçaram sua condição de fantasminha bem paga para desfrutar das belas praias de Natal;
3) Dizem que Cláudio Carvalho passou a ser investigado a partir de maio de 2013, quando a fantasminha foi nomeada na comissão presidida pelo deputado, uma grande mentira. A polícia afirma que Cláudio Carvalho recebeu dinheiro da Organização Criminosa (Orcrim), e a irmã da deputada Ana da 8, Luciana Dermani Aguiar, disse em depoimento que receberam dinheiro sujo para campanha os deputados Adriano Boiadeiro e Claudio Carvalho; o candidato à prefeitura Lindomar Garçon e os vereadores Jair Montes, Cabo Anjos, Eduardo, Marcelo Reis e Pastor Delcio;
4) Áudios de conversas entre Jair Montes (um dos líderes da Orcrim) e Fernando da Gata, captados em 27 e 28 de março de 2012, poucos dias após as prévias em primeiro turno no PT para ver quem iria disputar a eleição para a prefeitura de Porto Velho, tratam de um animado Cláudio então vereador que queria agendar encontro para agradecer pessoalmente a Fernando pelo apoio obtido;
5) Na transcrição de gravações a que tive acesso não é dito o que seria esse apoio, mas há quem garanta dentro do partido ter sido dinheiro do tráfico para quitar a inadimplência de militantes, condição necessária para votar. Registre-se que no período citado Cláudio não era deputado, mas já era pessoa pública, de quem se exige seriedade e probidade, tendo assumido o cargo no final daquele ano, com a saída do deputado Jesualdo Pires, eleito prefeito de Ji-Paraná; e
6) Diálogo captado em 23 de maio de 2013 entre Mark Albernaz, para a polícia ativo membro da Orcrim, e Beto Baba, trata de dinheiro que teria sido dado para a campanha de Cláudio Carvalho, pelo qual a quadrilha estaria pagando juros, mencionando-se R$ 60 ou R$ 70 mil. Outras conversas entre eles tratam da nomeação de Andréia, cunhada de Mark, pelo deputado.
Existem mais indícios da relação promíscua entre um servidor público e integrantes de quadrilha que atua inclusive em outros estados, mas elementos por ora delineados dão mostra de que não dá para tapar o sol com a peneira e simplesmente passar a adotar, igual ao parceiro antigo de sindicato, discurso de destruição da reputação política por ser oposição ao governo estadual. É muita conversa pra boi dormir, tenham paciência.
MPE
Recebi manifestação do procurador-geral de Justiça, Heverton Aguiar, acerca da coluna de duas semanas atrás, quando considerei que o MPE exagerou ao criticar em longa nota e coletiva a juíza Sandra Silvestre porque ela teria citado no despacho pela manutenção do afastamento dos deputados a facilidade com que o deputado Hermínio Coelho teria acesso a autoridades, por sua condição, dando como exemplos o fato dele ter tido conhecimento da operação na véspera, e o telefonema trocado no dia da operação (4 de julho) com a direção maior do MPE.
Agradeço o documento enviado da lavra da juíza, e de sua leitura observo que ela considerou ter o procurador “dado explicações” para o deputado, no telefonema trocado, achando “grave” o procurador ter orientando o deputado retornar a Porto Velho, opinião que tem todo direito de emiti-la. Bastavam as explicações do Dr. Heverton e do Colégio de Procuradores sobre este ponto, feitas e prontamente entendidas. O remédio foi sim além do necessário.
Email: maraparaguassu@amazoniadagente.com.br
Fonte: Mara Paraguassu
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