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VILHENA: O DIA EM QUE A TERRA PAROU


“Ao decidirmos cancelar o carnaval entramos numa fase de reflexão. Queremos sensibilizar jovens e adultos para a alegria de um evento deste porte. Há outros meios de se divertir, “sem bebida”, disse o Prefeito de Vilhena ao jornal eletrônico Extra de Rondônia.”

Por: Altair Santos (Tatá)
 

A comunidade carnavalesca de Vilhena cumpre abstinência em forçado estágio reflexivo, para apreender a se comportar no carnaval. Com isso Pierrots, Colombinas, Arlequins e Zé Pereiras do Portal da Amazônia, no Cone Sul do Estado, nem desçam as fantasias dos cabides. Carnaval por lá esse ano, necas! A cultura popular no estado, mais precisamente o carnaval, sofre o seu primeiro revés nesse pouco auspicioso ano de 2015. Até então, mérito da capital, nos últimos dois anos, parece que a moda ta pegando. Em Vilhena não é uma enchente e sim, a violência o motivador da Prefeitura Municipal jogar a toalha e recuar na idéia de promover ou dar apoio ao folguedo.

Claro que violência tem de ser combatida, mas queremos entender esse, “alto lá!” pra cima da cultura popular? Justo a maior manifestação e expressão de massa, aquela que cala fundo no sentimento e querer da população, o elo dourado de sentimento e pertencimento estabelecido lá no recôndito do imaterial querer dos cidadãos, por sua cidade e seu lugar e, nele e com ele, interagir democrática e festivamente em tão nobre enlace. Carnaval: quem gosta vai e quem não gosta não vai. Ponto! Ambos estão certos em seus direitos! Daí querer tirar lascas da cultura em nome doutros direitos é aleijar a sociedade. Nem só de cimento, concreto e tijolo vive uma população!

Não sabemos do alastrado índice de violência que ora desestabiliza a paz na cidade a ponto de suscitar essa decisão da alcadia vilhenense! Nos pomos a indagar: vai a cidade ficar o sem o carnaval por medo ou precaução, dada a violência? Se, no caso de Vilhena a resposta for “sim”, a coisa por lá está de feio à pior, ou pra lá disso, fora de controle! Por essas, o perrengue momesco é justa conseqüência medrosa ou precavida, em caso de um possível desafio aos fronts violentos e ameaçadores, num território sem lei. Essa cidade precisa urgentemente de ajuda!

Porém, se nem for tanto assim, emerge a nossa reprovação aos atos de privação e negação da cultura popular, praticados sem maiores compreensões, respeitos, zelos e compromissos para com tão útil e servível bem de expressiva valia, para a vida e para a história cultural do povo e da cidade.  Somente quando gestores públicos irmanados a órgãos de fiscalização, acompanhamento, controle e repressão, tiverem diferenciada leitura e postura, para com “o que é cultura e seus valores” e “o que é mera diversão”, começaremos a pisar em solo de equilíbrio na garantiade direitos. Ademais, questionamos: não seria o caso de reforçar o aparato de segurança e repressão à violência e garantir o carnaval?

Classificamos como “pedagogia tosca” os ditos da idéia municipal manifesta em reportagem, anunciando o cancelamento do carnaval pra levar a população a um imposto retiro de reflexivo, para que vislumbre um novo modelo de festa popular sem violência. A comunidade carnavalesca de Vilhena está de castigo e, pela penalidade, parece ter sido previamente julgada e condenada por sua culpa, sua máxima culpa! E como fica a reflexão acerca da violência de todo dia e toda hora, praticados fora da quadra carnavalesca? Será proposta nova intervenção ou somente a violência praticada “no período do carnaval” é que machuca, fere e mata? A cidade vai interromper a sua rotina, pra refletir um novo modus vivendi, novo modus operandi, nova linha comportamental?

Infelizmente os atos de violência habitam o cotidiano urbano e rural e devem sim ser combatidos com ciência e rigor, sem que a dinâmica da vida que segue seja estagnada e os cidadãos privados de suas liberdades. Os meios de enfrentamento, estes sim, devem ser constantemente céleres na prática e na reflexão, na avaliação e na reformulação da segurança pública, sem por em marcha lenta ou atraso a trajetória social.

E que violência tão grande é essa que faz Vilhena desprotegida a ponto de prescindir do seu carnaval? Porque se é assim inseguro no carnaval, é também para sair de casa e ir às ruas, ao trabalho, à escola, à igreja, ao banco, ao mercado, à casa do vizinho... Pelo jeito a vida está inviabilizada, a cidadania cerceada, dá se a clausura é o dia em que a terra parou! 

E como dito no adágio popular que, “pau que bate em Chico também bate em Francisco”, vamos lá: ainda não digerimos o amargo drink do contragosto, daquela tal historia das bravias águas assistidas em solene parcimônia, centímetro a centímetro, régua acima, que aqui na capital, dizimaram moradias, plantações e, evidentemente o carnaval. Agora, vem do sul do estado essa de que a violência por lá, abafa as orquestras e seus clarins, ofusca o brilho da fantasia e emudece o canto da alegria.

Nos casos extremos de violência incontrolável, que colocam em estado de sítio a cidade e seu povo, as intervenções devem acontecer de imediato, sendo eficazes na proteção do bem maior que é a vida e também o patrimônio, dentre eles a cultura popular, um bem sagrado, um estado de ser e estar, constitucionalmente garantido e que não pode e não deve ser violado ao crivo do desinteresse, desconhecimento, pouco caso.

Não acreditamos em homens e gestores públicos fiéis ao dicotômico e viciado sacerdócio de gestão onde se constrói muros, pontes, calçadas, prédios e outros mais, achando isso ser tudo, sem ater-se às básicas e elementares importâncias da cultura e o seu poder de formação, informação e transformação para o cidadão e para a cidadania. Carnaval não mata, nem agride! Quem o faz, no carnaval ou fora dele, deve ser banido, em nome da paz e do aprimoramento social, sem levar o povo ao exílio em esquisitas e tortuosas quarentenas reflexivas.  

Ao que se prenuncia, pelos lados de cá, na capital, parece as coisas caminharem para termos a reedição de um bom carnaval. Queremos, merecemos, torcemos e estamos dispostos a contribuir pra isso! Tomara que os ventos do sul não soprem as mentes cá do norte do estado, varrendo o carnaval como desprezíveis folhas secas. Vilhena merece ter o seu carnaval e que sejam punidos os violentos de todo lugar e toda ordem. Ô abre alas!

tatadeportovelho@gmail.com

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