Quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013 - 06h04
Por: Altair Santos (Tatá)
Ó carnaval triste no qual Zé Pereira, nosso herói da época, não avistará o requebro da mulata faceira, não ouvirá as marcantes batidas dos surdos de primeira, segunda e terceira, nem deslizará macio asfalto a fora, cortejando a elegante e graciosa porta-estandarte. Ó carnaval triste que embalado pelo lamento da última cuíca chorona, em suspiro dolente, dobrará a esquina deixando cair da fantasia inocentes lantejoulas sem cor, tingindo o caminho com as marcas do desfile vazio. Ó carnaval triste que, sem escolas de samba, rouba a validade do nosso alvará de folião e empurra o rei da época a vagar na noite, em becos escuros, agonizando em tristeza, sofrendo em pensar no seu futuro incerto. E assim, lá vai Zé pereira, solitário vaga-lume na noite, uno bailarino atravessando a harmonia. E justo ele, o personagem que traduz cada um de nós! Levado pelo coração, até sairá nalguns blocos, mas não passará na avenida com as escolas. Zé Pereira, na quadra carnavalesca por todos nós é mais Zé, é mais Pereira do que qualquer dos brasileiros, um bastião do nosso corpo festeiro, hinário de nossa alma foliã, asa e bandeira nossa na arrebatadora e curta festa de poesia e melódicos ligeiros, cifrados nos sambas de enredo e nas tiradas das marchinhas. Dirigentes, brincantes e assistentes das escolas de samba da cidade porto, todos, sem distinção, não farão ecoar o grito de é campeão, é campeão! De resto, um troféu em forma de canto apático ao desfecho mórbido numa quarta-feira, cujo vento, sequer, soprará as cinzas da folia e da alegria auspiciando melhores tempos. Que nos seja, de uma vez por todas, de bom senso, responsabilidade, compromisso, organização, planejamento e audácia, a força, a vontade política e a competência de mantermos viva e aquecida a chama da defesa aos valores culturais. Porto Velho se zelosamente pensada e refletida, bem poderia buscar e construir, a partir dos registros - passados e presentes - do nosso carnaval, as laudas de uma rica, apaixonante, valiosa e envolvente história. Imaginemos quanta informação silenciada nas ausências sentidas de Eliezer Santos (Bola Sete), Tário de Almeida Café, Inácio Campos, Waldemar Holanda (Waldemar Cachorro), Armando Holanda (Periquito), Leônidas Carol O’Chester, Marise Castiel, Manelão. Além destes e outros notáveis,quantos anônimos deram seus contributivos e participaram desprendidamente em nome desse singular, irresistível e arrebatador festivo imaterial, chamado carnaval? Ainda presentes no cenário atual, Cabeleira, Bainha, Sílvio Santos, Mestre Oscar knightz, Carlinhos Maracanã dentre outros muitos, que formam um cast de personalidades do carnaval que ainda pode ser consultado. Urge que os interesse e valorização das artes, assim como o reconhecimento da cultura como instrumento de transformação da consciência crítica, a serviço da cidadania e da melhoria da qualidade vida sejam intensivamente buscados, perseguidos. Pelos versos e cores do carnaval, podemos criar importantes divisas pra nossa terra e nosso povo e erguer uma sólida estrutura de trabalho ininterrupto em torno da cultura e seus valores. Porto Velho em 2014 pode, deve e merece ser vista – interna e externamente – no ano do seu centenário, como cidade que pulsa crescimento, desenvolvimento e transformação. Pelo carnaval popular, blocos e escolas de samba podem atuar como tradutores fiéis dos atos e lustros deste primeiro centenário de nossa amada urbe. O Zé Pereira que existe em cada um de nós, deve ser audaz, corajoso, destemido e disposto a mudar as opacas cores de então, enfeitando a cena festiva dos 100 anos de Porto Velho com outros brilhos, diferente de como fora agora em 2013 que, indistintamente, de parte a parte, fizeram do carnaval “um copo cheio pela metade.”
O autor é compositor, músico e produtor cultural
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