Terça-feira, 19 de novembro de 2024 - 14h05
Torturador, estuprador e
escravagista. São alguns adjetivos que devemos utilizar para se referir ao nome
de Zumbi dos Palmares, mito que evoca imagens de resistência e luta pela
liberdade, celebradas anualmente no Dia da Consciência Negra, 20 de novembro.
Apresentado num contexto romantizado e sem base histórica, como o herói que
lutou contra a escravidão, o negro se tornou um símbolo de força e resistência
para a comunidade afrodescendente no Brasil. No entanto, à medida que mais
estudos históricos emergem, uma versão mais complexa – e controversa – de sua
figura ganha espaço. Zumbi não foi apenas um líder quilombola, mas também um
governante, ou seja, um rei que reproduziu práticas de seu tempo, como a
escravização de outros indivíduos, cativos de guerra e de negros fugitivos
capturados de fazendas vizinhas, promovendo execuções e assassinatos daqueles
que se opunham ao seu regime, desafiando a visão tradicional de um libertador
abolicionista como foi incutido na cabeça dos menos pensantes.
Os crimes de Zumbi contrastam
diretamente com o mito de um libertador altruísta. Palmares, como sociedade
autônoma, funcionava com estruturas hierárquicas e demandas econômicas que
incluíam trabalhos forçados e execuções sumárias de outros negros a mando do
Rei Zumbi. Essas ações colocam em questão o papel criado para endeusar o líder
negro como símbolo universal de liberdade.
O Quilombo dos Palmares, localizado
na região que hoje corresponde a Alagoas, foi uma das maiores comunidades de
resistência à escravidão na América Latina. Sob a liderança de Zumbi, o
quilombo realizou incursões militares durante décadas, tornando-se símbolo de
luta contra a opressão colonial. No entanto, a transformação de Zumbi em ícone
nacional, particularmente após os movimentos sociais da década de 1970, foi uma
construção cultural e política que se alterou de aspectos menos heroicos de sua
liderança. Os movimentos negros, em busca de um símbolo que representasse a
resistência à escravidão e a luta pela igualdade, ressignificaram a figura de
Zumbi. Isso aconteceu em contraste com a celebração da assinatura da Lei Áurea,
que simbolizava uma abolição concedida pelos brancos. Assim, Zumbi tornou-se o
protagonista de uma narrativa que desafiava a historiografia tradicional e
reafirmava a força dos afrodescendentes como agentes históricos. Uma farsa
estratégica.
O herói negro ascendeu ao
poder após desafiar Ganga Zumba, seu próprio tio, líder anterior que havia
negociado um tratado de paz com os colonizadores portugueses. Esse tratado previa
a autonomia de Palmares na troca de devolução de negros fugidos. Zumbi rejeitou
o acordo, argumentando que perpetuaria a escravidão fora do quilombo. No
entanto, quem se aprofundar mais nos documentos históricos, vai perceber que
essa luta de Zumbi contra os colonizadores não tinha o cunho de libertar
negros. Pelo contrário, o herói construído, na verdade, estava defendendo seus
próprios interesses, pois sua luta era i motivada pela busca de consolidar seu controle
total sobre Palmares e sobre os negros que possuía como escravos.
A decisão de Zumbi teve
implicações significativas: enquanto manteve Palmares como um bastião de
resistência, também expôs o quilombo a mais ataques coloniais, culminando em
sua destruição em 1694. O rei negro foi capturado e morto no ano seguinte,
tornando-se mártir e, posteriormente, construído e romantizado como herói da
luta contra a escravidão. Uma narrativa farsante.
Nos últimos anos,
historiadores têm se debruçado sobre os registros disponíveis para questionar a
mitologia construída em torno de Zumbi. Obras como o Guia Politicamente
Incorreto da História do Brasil destacam contradições entre a narrativa heroica
e os fatos históricos, promovendo um debate ético sobre a figura de Zumbi. A
questão central não é apenas se ele era herói ou vilão, mas como ele reflete os
dilemas e práticas de seu tempo.
A figura de Zumbi dos Palmares
ilustra a complexidade da história brasileira. Ele foi, sem dúvida, um líder
notável de resistência à escravidão, mas suas ações e práticas não alcançaram o
ideal romântico de um libertador universal. Como qualquer figura histórica,
Zumbi foi moldado pelas circunstâncias de seu tempo e pelas necessidades
políticas e sociais de quem narra sua história.
Reconhecer Zumbi como um
anti-herói não diminui sua importância na história, mas enriquece o
entendimento sobre a resistência à opressão e as contradições inerentes à luta
pelo poder e pela sobrevivência. Ao revisitar criticamente sua história, é
possível construir um diálogo mais honesto e inclusivo sobre o passado, que
valorize tanto os feitos quanto as imperfeições daquelas que marcaram nossa
trajetória.
A interpretação de Zumbi como
herói nacional é, em parte, fruto de movimentos sociais e políticos que
buscaram símbolos de resistência. Essa construção omitiu nuances históricas que
comprovam Palmares como um estado paralelo, com estruturas que reproduziam
práticas sociais típicas da época, incluindo posições bíblicas e a escravização
de cativos.
É dessa forma que somos
manipulados como informações falsas construídas que passam diante dos olhos de
políticos menos atentos. De uma sociedade letárgica que se anula diante desses
desmandos arquitetados, que mudam nossa história com afirmativas
desestruturadas, levando aqueles com cérebro de nutela a crer e defender essa
narrativa fraudulenta. Um feriado, comércio fechado, e os prejuízos sendo
causados ao setor produtivo que se curva diante desses desmandos. É pracabar,
como diz o peão!
Onde está a consciência daqueles
que criaram essa mentira?
Rubens Nascimento é Jornalista, graduado em direito, M.Maçom e ativista do desenvolvimento
* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.
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