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Zumbi dos Palmares: a farsa negra


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Torturador, estuprador e escravagista. São alguns adjetivos que devemos utilizar para se referir ao nome de Zumbi dos Palmares, mito que evoca imagens de resistência e luta pela liberdade, celebradas anualmente no Dia da Consciência Negra, 20 de novembro. Apresentado num contexto romantizado e sem base histórica, como o herói que lutou contra a escravidão, o negro se tornou um símbolo de força e resistência para a comunidade afrodescendente no Brasil. No entanto, à medida que mais estudos históricos emergem, uma versão mais complexa – e controversa – de sua figura ganha espaço. Zumbi não foi apenas um líder quilombola, mas também um governante, ou seja, um rei que reproduziu práticas de seu tempo, como a escravização de outros indivíduos, cativos de guerra e de negros fugitivos capturados de fazendas vizinhas, promovendo execuções e assassinatos daqueles que se opunham ao seu regime, desafiando a visão tradicional de um libertador abolicionista como foi incutido na cabeça dos menos pensantes.

Os crimes de Zumbi contrastam diretamente com o mito de um libertador altruísta. Palmares, como sociedade autônoma, funcionava com estruturas hierárquicas e demandas econômicas que incluíam trabalhos forçados e execuções sumárias de outros negros a mando do Rei Zumbi. Essas ações colocam em questão o papel criado para endeusar o líder negro como símbolo universal de liberdade.

O Quilombo dos Palmares, localizado na região que hoje corresponde a Alagoas, foi uma das maiores comunidades de resistência à escravidão na América Latina. Sob a liderança de Zumbi, o quilombo realizou incursões militares durante décadas, tornando-se símbolo de luta contra a opressão colonial. No entanto, a transformação de Zumbi em ícone nacional, particularmente após os movimentos sociais da década de 1970, foi uma construção cultural e política que se alterou de aspectos menos heroicos de sua liderança. Os movimentos negros, em busca de um símbolo que representasse a resistência à escravidão e a luta pela igualdade, ressignificaram a figura de Zumbi. Isso aconteceu em contraste com a celebração da assinatura da Lei Áurea, que simbolizava uma abolição concedida pelos brancos. Assim, Zumbi tornou-se o protagonista de uma narrativa que desafiava a historiografia tradicional e reafirmava a força dos afrodescendentes como agentes históricos. Uma farsa estratégica.

O herói negro ascendeu ao poder após desafiar Ganga Zumba, seu próprio tio, líder anterior que havia negociado um tratado de paz com os colonizadores portugueses. Esse tratado previa a autonomia de Palmares na troca de devolução de negros fugidos. Zumbi rejeitou o acordo, argumentando que perpetuaria a escravidão fora do quilombo. No entanto, quem se aprofundar mais nos documentos históricos, vai perceber que essa luta de Zumbi contra os colonizadores não tinha o cunho de libertar negros. Pelo contrário, o herói construído, na verdade, estava defendendo seus próprios interesses, pois sua luta era i motivada pela busca de consolidar seu controle total sobre Palmares​ e sobre os negros que possuía como escravos.

A decisão de Zumbi teve implicações significativas: enquanto manteve Palmares como um bastião de resistência, também expôs o quilombo a mais ataques coloniais, culminando em sua destruição em 1694. O rei negro foi capturado e morto no ano seguinte, tornando-se mártir e, posteriormente, construído e romantizado como herói da luta contra a escravidão. Uma narrativa farsante.

Nos últimos anos, historiadores têm se debruçado sobre os registros disponíveis para questionar a mitologia construída em torno de Zumbi. Obras como o Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil destacam contradições entre a narrativa heroica e os fatos históricos, promovendo um debate ético sobre a figura de Zumbi. A questão central não é apenas se ele era herói ou vilão, mas como ele reflete os dilemas e práticas de seu tempo.

A figura de Zumbi dos Palmares ilustra a complexidade da história brasileira. Ele foi, sem dúvida, um líder notável de resistência à escravidão, mas suas ações e práticas não alcançaram o ideal romântico de um libertador universal. Como qualquer figura histórica, Zumbi foi moldado pelas circunstâncias de seu tempo e pelas necessidades políticas e sociais de quem narra sua história.

Reconhecer Zumbi como um anti-herói não diminui sua importância na história, mas enriquece o entendimento sobre a resistência à opressão e as contradições inerentes à luta pelo poder e pela sobrevivência. Ao revisitar criticamente sua história, é possível construir um diálogo mais honesto e inclusivo sobre o passado, que valorize tanto os feitos quanto as imperfeições daquelas que marcaram nossa trajetória.

A interpretação de Zumbi como herói nacional é, em parte, fruto de movimentos sociais e políticos que buscaram símbolos de resistência. Essa construção omitiu nuances históricas que comprovam Palmares como um estado paralelo, com estruturas que reproduziam práticas sociais típicas da época, incluindo posições bíblicas e a escravização de cativos.

É dessa forma que somos manipulados como informações falsas construídas que passam diante dos olhos de políticos menos atentos. De uma sociedade letárgica que se anula diante desses desmandos arquitetados, que mudam nossa história com afirmativas desestruturadas, levando aqueles com cérebro de nutela a crer e defender essa narrativa fraudulenta. Um feriado, comércio fechado, e os prejuízos sendo causados ao setor produtivo que se curva diante desses desmandos. É pracabar, como diz o peão!

Onde está a consciência daqueles que criaram essa mentira?

Rubens Nascimento é Jornalista, graduado em direito, M.Maçom e ativista do desenvolvimento 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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