Sexta-feira, 20 de dezembro de 2024 - 17h50
Ministério
Público Federal (MPF) ajuizou 193 ações civis públicas contra 647 réus em razão
de desmatamentos ilegais na Amazônia registrados entre janeiro de 2020 e
dezembro de 2022. As ações foram propostas nos últimos dois meses e se referem
à 4a fase do Projeto Amazônia Protege, uma atuação
coordenada pela Câmara de Meio Ambiente e Patrimônio Cultural (4CCR). Ao todo,
os processos cobram mais de R$ 1,3 bilhão de indenização pelos danos causados
ao meio ambiente, além da reparação de cerca de 147 mil hectares de floresta
degradados. A área equivale a quase 206 mil campos de futebol. Os dados foram
divulgados nesta quinta-feira (19).
Baseadas
em laudos periciais produzidos a partir da análise de imagens de satélite e do
cruzamento das informações com bancos de dados públicos, as ações foram
propostas em quatro estados da Amazônia Legal: Amazonas, Mato Grosso, Pará e
Rondônia. Desta vez, o foco da atuação foram áreas de desmatamentos de 110
hectares ou mais. O estado mais afetado no período foi o Pará, com
aproximadamente 70 mil hectares de área devastada, resultando num total de 89
ações contra 369 réus, até o momento.
O
Amazonas segue como o segundo estado com maior área da floresta desmatada, com
36 mil hectares e 40 ações civis públicas propostas contra 161 réus. Em
seguida, estão os estados de Mato Grosso e Roraima, que juntos somam 50 mil
hectares de corte de vegetação nativa, além de 64 ações civis públicas contra
239 réus. O levantamento do MPF apontou ainda que, entre os pontos de
desmatamento ilegal identificados pelo projeto, 140 estão a menos de 30
quilômetros de unidades de conservação federais e terras indígenas, e oito
deles estão dentro dessas áreas.
Emissão de gases – A
quantidade de dióxido de carbono (CO2) emitido pelos réus durante a atividade
ilícita também foi contabilizada, chegando a 57,9 megatoneladas. Esse número
equivale a quase 10% da emissão em toda a Amazônia durante o ano de 2023,
conforme informações do Sistema de Estimativa de Emissões e Remoções de Gases
de Efeito Estufa (SEEG) do Observatório do Clima. Os dados mostram que, no ano
passado, a Amazônia emitiu 694 megatoneladas de CO2 na atmosfera, decorrentes
de atividades poluidoras na região. Considerando todos os biomas brasileiros –
Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal – a produção de
gás carbônico chegou a 1.400 megatoneladas no mesmo período.
Uma
das principais causas de alterações climáticas, a emissão de CO2 em grande
quantidade eleva a temperatura da terra com a poluição do ar, formação de
chuvas ácidas e o desequilíbrio do efeito estufa. Segundo o Serviço de
Monitoramento Atmosférico Copernicus (Cams), da União Europeia, o Brasil bateu
recorde para a emissão de dióxido de carbono em 2024, devido ao aumento das
queimadas. Entre janeiro e setembro, o país chegou a emitir 60 megatoneladas de
CO2, contabilizando o maior número desde 2007.
Resultados – O
Projeto Amazônia Protege foi lançado pelo MPF em novembro de 2017. Na primeira
etapa, foram instauradas 1.125 ações referentes a desmatamentos realizados
entre agosto de 2015 e julho de 2016. Na segunda, foram 1.414 ações por
supressão ilegal de floresta no período de agosto de 2016 a julho de 2017. Já
na terceira, foram 1.023 ações civis públicas pelo desmatamento de áreas entre
agosto de 2017 e dezembro de 2019. Somando esses números às ações ajuizadas
este ano, são mais de 3,7 mil processos contra o desmatamento ilegal na
Amazônia.
Até
o momento, o MPF já alcançou mais de 700 condenações no âmbito do projeto. Além
disso, os julgamentos das ações consolidaram jurisprudência favorável do
Superior Tribunal de Justiça (STJ) à utilização de imagens de satélite como
prova exclusiva para a punição de infratores ambientais. O entendimento foi
oficializado com a edição da Recomendação 99/2021 do Conselho Nacional de
Justiça (CNJ), que orienta a utilização de dados de sensoriamento remoto e de
informações obtidas por satélite na instrução probatória de ações ambientais
cíveis ou criminais. Milhares de hectares de floresta amazônica já foram
recuperados, muitos deles antes mesmo da decisão judicial condenatória.
Na
avaliação do procurador da República e coordenador do projeto, Daniel Azeredo,
os dados revelam a importância da continuidade do Amazônia Protege e seu
constante aprimoramento. “Nosso principal objetivo é retomar áreas públicas
desmatadas e griladas nos últimos cinco anos. A grilagem é uma prática em que
se usam, frequentemente, os chamados laranjas. Por isso, a retomada da área
afetada é a única medida efetiva para a regeneração da floresta”, explicou.
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