Quinta-feira, 17 de outubro de 2024 - 15h08
Atingidas
pela seca severa do rio Madeira, as comunidades ribeirinhas do Baixo Madeira,
em Porto Velho (RO), necessitam urgentemente de água potável. Em 24 de
setembro, o Ministério Público Federal (MPF), o Ministério Público do Trabalho
(MPT) e a Defensoria Pública da União (DPU) recomendaram que União, Estado e
Prefeitura de Porto Velho adotassem medidas coordenadas para fornecimento de
água potável, mas as providências não foram cumpridas. Assim, os órgãos
fiscalizadores entraram na Justiça para obrigar os governos federal, estadual e
municipal a efetivarem ações de fornecimento de água para as comunidades
ribeirinhas.
MPF, MPT
e DPU pedem que a Justiça Federal condene os governos a fornecer às comunidades
do Baixo Madeira atingidas pela seca extrema do Rio Madeira:
• água
potável em galões, fardos e caminhão-pipa;
• transporte para levar a água a todas as famílias atingidas, com atuação
articulada da Defesa Civil Estadual e Municipal, Corpo de Bombeiros Militar de
Rondônia, Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) e das
Forças Armadas;
• caixas d’água para armazenamento;
• quantidade mínima necessária de água para o consumo diário (50 litros por
pessoa);
• verbas federais e estaduais para aquisição das águas, por meio de convênios
de repasse de verbas e a respectiva prestação de contas;
• distribuição de alimentos, cestas básicas, materiais de higiene e
atendimentos de saúde;
• plano de trabalho conjunto e emergencial de construção de poços artesianos e
a ampliação do sistema de distribuição de água;
• instalação de cisternas, caixas d´águas e reservatórios de água;
• sistemas de filtragem e tratamento de água.
Os órgãos fiscalizadores também
pedem que, ao final do processo, a Justiça condene os réus a pagar indenização
por danos morais coletivos, sendo R$ 50 milhões a serem pagos pela União, R$ 30
milhões pelo governo do Estado de Rondônia e R$ 10 milhões à Prefeitura de
Porto Velho. Os recursos devem ser destinados a ações estruturais em cada
comunidade do Baixo Madeira, a ser executada pela Prefeitura, após oitiva
prévia de cada comunidade.
O direito de acesso à água é um
direito fundamental. A região mais afetada pela seca do rio Madeira é conhecida
como Baixo Madeira, localidade na zona rural do Porto Velho, se estendendo
desde a Cachoeira do Santo Antônio, na área urbana do Município, até a foz do
rio Madeira no rio Amazonas, já no Estado do Amazonas. A região é composta
primordialmente por comunidades ribeirinhas que possuem estreita relação com o
rio Madeira, onde vivem cerca de 7 mil famílias, em um total de 15 mil pessoas,
divididas em quatro distritos, São Carlos, Nazaré, Calama e Demarcação.
Decretos,
nada mais – Os governos federal, estadual e municipal reconheceram a gravidade da
situação, declarando situação de emergência:
Em 4 de julho, o estado de
Rondônia declarou situação de emergência estadual em virtude de estiagem. E em
26 de agosto, declarou situação de emergência em razão dos incêndios
florestais.
Em 8 de julho, a prefeitura de
Porto Velho também declarou situação de emergência ambiental decorrente do
cenário de extrema seca e da iminente possibilidade de desastre, afetando
principalmente a navegação e o acesso à água, alimentos e os atendimentos de
saúde na região do Alto, Médio e Baixo Madeira.
Em 18 de julho, a União
reconheceu a situação de emergência em decorrência da estiagem em 18 municípios
de Rondônia (Alta Floresta D'Oeste, Alto Alegre dos Parecis, Ariquemes, Campo
Novo de Rondônia, Cerejeiras, Cujubim, Espigão D'Oeste, Jaru, Ji-Paraná,
Machadinho D'Oeste, Ministro Andreazza, Nova Mamoré, Porto Velho, Primavera de
Rondônia, Santa Luzia D`Oeste, São Miguel do Guaporé, Seringueiras e Urupá).
No dia 23 de setembro, o Rio
Madeira atingiu o seu menor nível na história, com apenas 25 centímetros,
causando o desabastecimento de água, alimentos e o isolamento de diversas
comunidades ribeirinhas. O Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres
Naturais, unidade integrante do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação,
indicou seca extrema, severa e moderada no estado de Rondônia, e elenca como
uma das causas “as mudanças climáticas que estão gerando um aquecimento
progressivo da atmosfera e que tendem a produzir sequências mais longas de dias
sem chuva”.
Respostas
vazias – A
ação civil pública veio após respostas inconsistentes para a recomendação
enviada pelos órgãos fiscalizadores aos governos. O Estado de Rondônia não
enviou resposta. A Prefeitura de Porto Velho informou que instituiu um Comitê
de Gestão de Crise que tinha como plano promover perfuração de poços, captação
de água diretamente do rio ou nascentes próximas e aquisição de Sistema
Compacto de Potabilidade de Água. Mas nenhuma medida concreta foi adotada.
A União informou, em 4 de
outubro, que houve a abertura de crédito extraordinário para aquisição de
cestas de alimentos para comunidades atingidas pela seca. Cerca de 30 mil serão
fornecidas em Rondônia, estando incluídas entre os beneficiários as comunidades
do Baixo Madeira, com previsão de entrega para novembro. Informou ainda que há
o Programa Cisternas, executado em parceria com Estados, Municípios ou
entidades privadas sem fins lucrativos. Nesse programa já foram firmadas quatro
parcerias na Região Amazônica, porém nenhuma em Rondônia.
“A atuação conjunta não tem
existido, sendo um claro exemplo o fato de que vários municípios do país
receberam verba federal para lidar com a seca, o que não ocorreu em Porto Velho
porque não houve a solicitação formal a Prefeitura, que deveria ocorrer por
intermédio de um sistema informatizado. Não há nenhuma atuação coordenada entre
os três entes, o que seria de fundamental importância diante da grande dimensão
da região do Baixo Madeira e da quantidade de pessoas atingidas”, expuseram os
órgãos fiscalizadores na ação civil pública.
Até o momento, apenas sete mil
fardos de água foram entregues pela Defesa Civil, segundo informações dos
representantes dos moradores, e sem previsão de novas entregas. O principal
entrave tem sido o transporte, existindo milhares de fardos de água comprados
ou recebidos em doação que estão na Prefeitura e não foram distribuídos às
comunidades porque não se consegue transportar. Nas muitas comunidades em que
há necessidade de transporte fluvial ou aéreo (diante da seca que dificulta a
navegação no rio), o impasse é ainda maior e não houve a entrega de um fardo de
água sequer.
Assinaram a ação civil pública o
defensor público federal Thiago Roberto Mioto, os procuradores da República
Raphael Luis Pereira Bevilaqua e Gabriel de Amorim Silva Ferreira, e a
procuradora do Trabalho Camilla Holanda Mendes da Rocha.
Ação civil pública nº
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