Sexta-feira, 27 de setembro de 2024 - 14h18
Uma recomendação conjunta do Ministério Público Federal (MPF), do
Ministério Público do Trabalho (MPT) e da Defensoria Pública da União (DPU)
fixou prazo de 72 horas para que medidas de emergência sejam adotadas em favor
das comunidades ribeirinhas do Baixo Madeira, que sofrem com a seca extrema do
Rio Madeira.
De
acordo com o documento, o estado de Rondônia e a prefeitura de Porto Velho
devem distribuir água potável, mediante entrega de galões e fardos de água
mineral, bem como fornecer caminhões-pipa nos locais onde é possível o acesso
de veículos. A recomendação alerta para a necessidade de organizar o transporte
para levar a água a todas as famílias atingidas, com atuação articulada da
Defesa Civil Estadual e Municipal, do Corpo de Bombeiros Militar, do
Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e das Forças
Armadas.
Estado
e prefeitura também devem entregar caixas d’água para armazenamento e
considerar, na distribuição de água potável, que a Organização Mundial de Saúde
(OMS) estabelece que a quantidade mínima necessária de água para o consumo
diário é de 50 litros por pessoa.
Já
a União, por meio do Ministério da Defesa Social, deve repassar recursos para
aquisição das águas, com a posterior obrigação dos entes locais de cumprirem os
requisitos para os convênios de repasse de verbas e a respectiva prestação de
contas.
Outras recomendações – MPF, MPT e DPU também
recomendaram que a União, o estado de Rondônia e o município de Porto Velho
atendam, no prazo máximo de 10 dias, as demais necessidades básicas das
comunidades do Baixo Madeira, com distribuição de alimentos, cestas básicas,
materiais de higiene e atendimentos de saúde.
Além
disso, a União, o estado e a prefeitura devem estabelecer, em até 30 dias, um
plano para construção de poços artesianos e a ampliação do sistema de
distribuição de água, para garantir o acesso à água potável e para a
agricultura familiar. No mesmo prazo, devem ser instaladas cisternas, caixas
d'águas e reservatórios para armazenamento de água nas comunidades, além da
implementação de sistemas de filtragem e tratamento de água para assegurar a
qualidade do recurso disponível para consumo das famílias atingidas. A União, o
estado e a prefeitura também devem garantir a participação contínua das
comunidades no planejamento e execução do atendimento às demandas com relação à
segurança hídrica.
Por
fim, foi fixado prazo máximo de 72h horas para que a União, o estado de
Rondônia e o município de Porto Velho se manifestem sobre o acatamento da
recomendação e informem quais medidas já foram adotadas.
Reunião com ribeirinhos – Na manhã desta
quinta-feira (26), MPF, MPT e DPU reuniram representantes das comunidades
afetadas e também do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) para explicar
os detalhes da recomendação e ouvir seus depoimentos acerca da situação de
emergência ambiental. Os participantes relataram que as comunidades vivem da
pesca e da agricultura e que as duas atividades estão prejudicadas por falta de
água. Também ressaltaram que a distribuição de água pelo governo de Rondônia
tem sido insuficiente para atender todas as famílias.
O
procurador da República Gabriel de Amorim, a procuradora do Trabalho Camila
Holanda e o defensor público federal Thiago Mioto, responsáveis pela
recomendação, informaram aos ribeirinhos que estão empenhados em encontrar
soluções para os problemas das comunidades do Médio e Baixo Madeira e
colocaram-se à disposição.
No
Baixo Madeira, vivem cerca de sete mil famílias, em um total de 15 mil pessoas,
divididas em quatro distritos e dezenas de comunidades ribeirinhas, que sofrem
com os efeitos da estiagem prolongada. Tais famílias dependem da água do Rio
Madeira e de poços amazônicos, porém, com a seca do rio, que afeta inclusive o
lençol freático, desabastecendo os poços, essas famílias dependem agora de
doações de água ou precisam atravessar barrancos e se deslocar por até três
quilômetros para buscar a água que ainda há no rio.
Emergência climática – De acordo com a
recomendação, a Defesa Civil de Porto Velho possui 15.600 fardos de água para
entrega (cada fardo possui 12 litros), com a previsão de entrega de três fardos
por pessoa, porém sem previsão de novas compras. Além disso, aponta que a
prefeitura de Porto Velho não tem plano emergencial próprio para lidar com
eventos extremos de seca ou enchentes e, embora tenha declarado a situação de
emergência ambiental em razão do cenário atual, não informou o orçamento
destinado e nem empregou medidas efetivas para atender as comunidades atingidas
pela seca, especialmente na Região do Baixo Madeira.
A
recomendação ainda cita a evolução da situação de seca na região, conforme a
linha do tempo abaixo:
·
Em 4 de julho, o estado de Rondônia declarou situação de
emergência estadual em virtude de estiagem. E em 26 de agosto, declarou situação de
emergência em razão dos incêndios florestais.
·
Em 8 de julho, a prefeitura de Porto Velho também declarou
situação de emergência ambiental decorrente do cenário de extrema seca e da iminente possibilidade de desastre,
afetando principalmente a navegação e o acesso à água, alimentos e os
atendimentos de saúde na região do Alto, Médio e Baixo Madeira.
·
Em 18 de julho, a União reconheceu a situação de emergência em decorrência da
estiagem em 18 municípios de Rondônia (Alta Floresta D'Oeste,
Alto Alegre dos Parecis, Ariquemes, Campo Novo de Rondônia, Cerejeiras, Cujubim,
Espigão D'Oeste, Jaru, Ji-Paraná, Machadinho D'Oeste, Ministro Andreazza, Nova
Mamoré, Porto Velho, Primavera de Rondônia, Santa Luzia D`Oeste, São Miguel do
Guaporé, Seringueiras e Urupá).
· No último dia 23 de setembro, o Rio Madeira atingiu o seu menor nível na história, com apenas 25 centímetros, causando o desabastecimento de água, alimentos e o isolamento de diversas comunidades ribeirinhas. O Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais, unidade integrante do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, indicou seca extrema, severa e moderada no estado de Rondônia, e elenca como uma das causas “as mudanças climáticas que estão gerando um aquecimento progressivo da atmosfera e que tendem a produzir sequências mais longas de dias sem chuva”.
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