Terça-feira, 30 de novembro de 2021 - 13h44
A
Assembleia Legislativa de Rondônia promoveu na manhã desta segunda-feira, 29,
audiência pública para debater sobre a Cadeia produtiva extrativista da
Castanha do Brasil e o seu processo de industrialização e comercialização. A
iniciativa foi do deputado estadual e vice-líder do governo na Assembleia Ismael
Crispin (PSB) que conduziu o evento.
De
acordo com o parlamentar existe a necessidade de verificar os desafios que as
associações e cooperativas estão enfrentando para manter a produção da Castanha
em Rondônia. “Segundo dados da Sedam, cerca de 80% da castanha coletada em
Rondônia é enviada para a Bolívia de forma ilegal, e por preços abaixo do
mercado. Precisamos viabilizar condições de produção e industrialização desse
produto dentro da nossa região e com isso garantir o desenvolvimento da
economia”, disse.
Dados
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontam que Rondônia
produz em torno de duas mil toneladas por ano de castanhas, mas tem potencial
para produzir até 10 mil toneladas por ano, podendo gerar renda anual de mais
de R$ 200 milhões, somente com a castanha-do-brasil. A maior parte da produção
da castanha de Rondônia é realizada por povos indígenas, seringueiros e
quilombolas, responsáveis por ocupar uma área de 33% da extensão territorial do
Estado.
A audiência pública aconteceu no Plenário Lúcia Tereza e contou com a
participação do superintendente do Sebrae/RO Daniel Pereira, representantes da
Sedan, empresários, associações de produtores, extrativistas e produtores
rurais. “Estamos tratando de um momento importante nesta questão da castanha,
pois além da produção que vem numa crescente, poderemos agregar valor à matéria
prima, que é de suma importância, pois vai gerar mais renda, mais emprego e
maior valorização à nossa produção de castanha”, disse o deputado.
O
presidente da Associação do Povo Paiter Garahtin, Elielson Oypakomip destacou
que o transporte da produção é um dos maiores problemas para a venda da
castanha produzida na comunidade. Também destacou a importância de se organizar
a comercialização, para poder valorizar a produção.
“Comercialização
no mercado é muito baixa, tendo muitas vezes que vender o produto para
atravessadores, com preço muito abaixo de mercado. Precisamos de apoio neste
sentido para nos ajudar no transporte e na produção, podendo com isso, aumentar
a produção, melhorar a renda e continuar com o extrativismo da castanha como
fonte de renda do meu povo”, disse o líder Paiter.
Sávio
Gomes, presidente do Pacto das Águas parabenizou o deputado Ismael Crispin e a
Assembleia Legislativa pela iniciativa de se tratar o tema de suma importante
para s comunidades produtoras, bem como para a economia do estado. “Precisamos
identificar o custo dessa castanha, melhorar a produção e incentivar a
comercialização. Temos que encontrar um equilíbrio para ajudar na produção
sustentável dessa nossa Castannha do Brasil. É necessário se investir em
estrutura de armazenamento necessárias, precisamos dar condições de produção e
transporte e começar a pensar na industrialização. É necessário investir em
tecnologia para que esta cadeia seja mais competitiva. Rondônia não tem um
preço mínimo para a castanha descascada. Temos um grande potencial e precisamos
investir”, disse.
Dilielson
Fortunado, coordenador técnico do Projeto Reca Reflorestamento Econômico
consociado e adensado destacou que “a produção de castanha é a segunda maior
fonte de renda da associação e que precisa ser tratada não só como um produto,
mas como um bio-ativo importante para a nossa economia do estado. Essa nossa
discussão precisa se somar, pensando desde a base da produção até a
agroindústria. Enquanto não pesarmos na castanha como um produto ecológico, uma
fonte de economia ativa, nenhum projeto vai sair do papel”, disse.
Sandro
Souza da Silva Presidente da União das Cooperativas da Agricultura Familiar e
Economia Solidária do Estado de Rondônia destacou que no início dos anos 80 o
Brasil chegou a produzir 100 mil toneladas de castanha e em 2021, essa produção
foi reduzida a pouco mais de 30 mil toneladas do produto. “É um dado
lamentável, além de reduzir a produção, vemos que não tivemos incentivos e
investimentos no setor. Essa realidade precisa ser revertida e isso só acontece
com investimento. O estado precisa reconhecer a cultura da castanha como fonte
de renda e emprego e sobretudo, como fonte importante da economia local”,
destacou.
Marcelo
Ferronato, Biólogo da Ação Ecológica Guaporé (Ecoporé) destacou que o setor
teve redução na produção, mas ganhou no valor agregado da produção nos últimos
10 anos. “A produção de Castanha diminuiu de 40 mil toneladas em 2010 para 32
mil toneladas em 2019, porem o valor agregado aumentou no mesmo período. Em
2010 a Castanha do Brasil registrou seu valor de produção em R$ 55 milhões e em
2019 esse valor chegou a impressionantes R$ 135 milhões, o que mostra o
potencial da castanha para a economia e para os povos da Amazônia.
Charles
Gomes, representando a Associação dos Municípios de Rondônia (Arom) destacou a
importância da audiência pública e disse que a Arom está à disposição para
ajudar no desenvolvimento de programas de incentivo à produção da cadeia da
castanha no estado. “Em nome da Arom, coloco a Associação à disposição do que
for necessário para que possamos colaborar para o desenvolvimento do setor da
castanha no estado de Rondônia. Uma pauta importante e de extrema importância
para a economia da população, bem como dos municípios produtores”, disse.
José
Cícero, Secretário Municipal de Agricultura de Nova Mamoré disse que a audiência
Pública chegou no momento certo porque “precisamos que desta audiência Pública
saia um Norte para a produção e comercialização da castanha de Rondônia, para
que os nossos produtores de castanha de todo o estado possam ter um uma maior
orientação com relação a produção, podendo melhorar a produção e a renda, bem
como trabalhar a industrialização
Antônio Carlos Alencar, representando a Secretaria Estadual de Finanças (Sefin)
apresentou dados da produção da Castanha no Estado e a importância do produto
para a economia rondoniense, destacou a importância da parceria para a promoção
do setor. “A Sefin está à disposição para ajudar no que o setor de produção da
castanha do Brasil necessitar para promover o desenvolvimento do setor. Vamos
juntos construir o futuro deste setor que é de interesse das comunidades de
produtores rurais, indígenas e quilombolas e especialmente do Estado, uma vez
que gera o emprego e a renda que a nossa população tanto precisa”, disse.
O
diretor de governança climática e bioecomia da Secretaria de Estado de
Desenvolvimento Ambiental (Sedam) Diogo Martins parabenizou o Deputado Crispin
pela realização da audiência pública, destacando a importância da discussão do
tema para a economia e para a sustentabilidade do estado. “Parabenizo o
deputado pela iniciativa desta audiência pública tendo em vista a importância
da produção da castanha para Rondônia, não só na questão da bioeconomia como um
todo, mas também na valorização do produtor e de toda a cadeia produtiva. A
Sedam fica disponível para diálogos e propostas que sejam importantes para o
desenvolvimento do setor de produção de castanha. Queremos ajudar no
crescimento da produção de forma sustentável e estamos prontos para tratar do
tema de forma mais próxima”.
O
Deputado Estadual e primeiro secretário da Mesa diretora da Assembleia Jair
Montes (Avante) destacou a importância de se discutir a pauta da cadeia
produtiva da castanha do Brasil. Destacou a presença de mulheres no evento,
apontando a importância da participação feminina em discussões que envolvem a
comunidade, que envolve a produção, a economia, a política, a gestão pública,
destacando a necessidade. Parabenizou a iniciativa da discussão da produção da
Castanha no estado. “Esses produtores precisam de incentivo fiscal da Sefin,
precisam de apoio da Sedan, da Emater, precisam de um tratamento diferenciado
do que vêm recebendo. Vocês vieram ao lugar certo, buscaram a casa do povo, a
casa de vocês. A partir de agora vocês têm mais uma voz forte em defesa da
atividade de produção, comercialização e industrialização da castanha.
Precisamos organizar. A gente concede incentivo fiscal a tanta gente rica, que
muitas vezes nem cumprem o seu papel social de retribuição aos incentivos e
produtores importantes como a cadeia da castanha que não tem nada. Precisamos
mudar isso e vamos juntos buscar esses incentivos, melhorando a produção e
incentivando a comercialização e a industrialização desse produto que é nosso e
merece toda a nossa atenção”, disse.
O
ex-governador e atual superintendente do Sebrae em Rondônia Daniel Pereira
agradeceu à Assembleia Legislativa por ter abraçado essa iniciativa, que foi
indicação do Sebrae em função da importância da produção da castanha no estado
de Rondônia. “Nós gostaríamos de deixar aqui como sugestão de uma revisão
tributária focada na produção da castanha para redução da tributação sobre a
castanha, precisamos olhar para o mercado da produção, ajustar nossas tarifas
para atrair investidores. O Pará, por exemplo, tem uma política de incentivo
fiscal que atrai empresas para o setor. Temos empresas interessadas em investir
em Rondônia, com geração de mais de 100 empregos diretos, mas precisamos de uma
política tributária pelo menos igual ao Pará, para nos tornarmos atrativos para
a industrialização da castanha. Também proponho criarmos um concurso de
qualidade da castanha, assim como acontece com a cadeia do café e a cadeia do
cacau, para que possamos melhorar cada vez a nossa qualidade e produção, bem
como para mostrar para o mundo esse produto importante produto de origem
amazônica. Por último, também gostaria de deixar como sugestão um trabalho de
abordagem especial junto a países europeus como Alemanha, França, Inglaterra,
Noruega que defendem a preservação da Amazônia, Assim como os Estados Unidos
que também vive tratando dessa pauta, para que nos ajudem a financiar a
produção da castanha. A preservação da Amazônia passa pela produção sustentável
de seus produtos. A ideia é montarmos uma estrutura para oferecer a esses
países, de forma direta, apoio para a preservação, financiando a cadeia
produtiva, desde a produção até a industrialização, com tudo sendo feito aqui,
sem repasse de como comodites, para que não aconteça com a castanha como
aconteceu com a borracha, produto nosso, que foi levado embora e hoje outras
partes do mundo colhem os benefícios com a produção de borrachas e derivados
que deveriam ser nossos. Eles podem nos ajudar a preservar a Amazônia,
investindo na produção sustentável. Vamos mostrar que isso é possível e se eles
quiserem, têm como ajudar e não ficar apenas nas cobranças da pauta ambiental e
climática”, pontuou.
Ando
andamento a audiência pública, o deputado Ismael Crispin abriu a palavra para a
manifestação dos participantes do plenário. A primeira a falar foi Isabela
Lima, representando a Câmara Setorial do Agroestrativismo de Rondônia, que
apresentou um estudo sobre a produção de castanha em Rondônia, destacando a
importância de investimentos para o crescimento do setor.
Pauto
Watt, representando a Embrapa também fez uma apresentação sobre a atuação da
empresa e se colocou à disposição para colaborar no que for necessário para
implementar ações em prol do desenvolvimento da produção da castanha.
O empresário paulista Ricardo Rosa parabenizou a iniciativa inédita destacando
a importância de se construir um projeto de desenvolvimento do setor da
castanha do Brasil em Rondônia. Ele está disposto a implantar uma indústria de
beneficiamento da Castanha em Rondônia, gerando mais de 100 empregos diretos,
além de ajudar na promoção do produto só no Brasil como no Mundo, como já tem
feito nos últimos anos com a produção do Pará e de outros estados, onde já
possui a empresa instalada.
Em
contrapartida à fala do empresário, o representante da Sefin Antonio Carlos
Alencar destacou que a Secretaria está à disposição para ajudar na elaboração
de um projeto de incentivo fiscal para o setor, que o governo tem interesse nos
investimentos da iniciativa provada gerando emprego e renda e que fará o
possível para adequar a legislação tributária, deixando atrativa para os
investimentos. Pediu apoio da Assembleia para a elaboração e aprovação do
projeto.
João
Batista, Presidente da Cooperativa do Baixo e Médio Madeira (Coomad) disse que
a hora é oportuna para cuidar da preservação da floresta e que a Coomad tem um
projeto de reflorestar 40 hectares da floresta, uma boa parte com castanheira.
A Coomad possui uma indústria para beneficiamento de 240 toneladas de castanha,
que está desativada, mas em fase de retomada. “Queremos parabenizar pela
iniciativa da Audiência Pública e colocar a nossa cooperativa à disposição do
que for necessário para discutir e implementar ações que ajudem no crescimento
da produção e comercialização da castanha, pensando também na preservação e
recuperação da nossa floresta”, destacou.
Paulo
Haddad, presidente da Fundação de Amparo ao Desenvolvimento das Ações
Científicas e Tecnológicas e à Pesquisa do Estado de Rondônia (Fapero), disse
que a Fundação se solidaria à iniciativa da Assembleia e que está à disposição
para ajudar a compor uma discussão maior sobre a cadeia de castanha do Brasil
em Rondônia, pois vê a necessidade de desenvolvimento do setor e o potencial de
mercado para o produto genuinamente amazônico. “Vamos trabalhar juntos para
alavancar essa cadeia produtiva da Castanha. Parabenizo o deputado Crispin pela
iniciativa de discutir esse importante setor de nossa produção e me coloco à
disposição para construirmos essa viabilidade de produção através de estudos e
iniciativas que nos forem pertinentes em termos de Fapero”, disse.
Josias
Gavião, representante da Associação do Povo Gavião destacou que há muito tempo
vem tentando desenvolver um projeto voltado especificamente para a produção de
castanha, mas que não há políticas públicas que caminhem neste sentido “Só de
estarmos nesta reunião aqui, discutindo a cadeia da castanha já é um avanço.
Quem sabe em breve tenhamos aqui definida uma verdadeira políticas de incentivo
da cadeia da castanha, que hoje não é reconhecida, não é respeitada, embora
seja uma das atividades mais importantes das comunidades. Precisamos dar uma
atenção maior a essas associações, a estas comunidades, dando condições para
que eles possam trabalhar, possam produzir, possam ter uma fonte de renda
reconhecida e respeitada. Juntos poderemos desenvolver um trabalho importante
de valorização dessa atividade extrativista da castanha do Brasil”, disse,
antes de entregar lembranças do povo Gavião ao deputado Ismael Crispin e ao
ex-governador Daniel Pereira.
Na
sequência da audiência, técnicos da Secretaria de Estado da Agricultura
(Seagri), da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico e Infraestrutura
(Sedi), empresários do setor, representantes de associações de produtores e de
comunidades indígenas utilizaram a palavra e foram unânimes em parabenizar a Assembleia
pela iniciativa e a importância de discutir o setor produtivo de castanha no
estado.
Ao
fazer o encerramento do evento, o Deputado Ismael Crispin apontou o recebimento
de diversos encaminhamentos para o desenvolvimento do setor e ouviu do
ex-governador Daniel Pereira a possibilidade de realização de um Fórum
Internacional, que seria realizado em Rondônia, para discutir a cadeia
produtiva da castanha, em data ainda a ser marcada. “Quero agradecer a presença
de todos e tenho a certeza que a partir de agora conseguiremos alavancar
políticas públicas, programas de incentivos e ações focadas no desenvolvimento
da produção da castanha do Brasil em Rondônia. Vamos juntos construir uma nova
realidade para o setor. Conto com o apoio de todos vocês nessa nova empreitada
com o objetivo comum que é a valorização dos nossos produtores, valorização do
nosso produto e industrialização da nossa produção aqui em Rondônia, para que
possamos agregar valor, gerar emprego e renda para a população e dividendos
para o nosso Estado”, disse.
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