Segunda-feira, 2 de maio de 2022 - 16h50
A população do Distrito de Jacinópolis, no
município de Nova Mamoré, se reuniu na tarde deste domingo, 1°, com deputados
estaduais e representantes de órgãos estaduais e federais para discutir a
regularização fundiária do distrito, com destaque para o chamado "Bico do
Parque". A audiência é resultado de uma proposição do presidente da
Assembleia, Deputado Alex Redano (Republicanos) e contou com a presença de
aproximadamente 3 mil pessoas, que lotaram a quadra de esportes da Escola
Estadual Pedro Mendes Cardoso na tarde do feriado de 1° de maio. Também
participaram da audiência os deputados estaduais Chiquinho da Emater (PSB),
Eurípedes Lebrão (União Brasil), Adelino Follador (União Brasil), Cássia
Muletas (Podemos) e Geraldo da Rondônia (PSC).
A região está inserida nas alterações inclusas
no Projeto de Lei Complementar 80/20, de iniciativa do Executivo, que foi
aprovada pela Assembleia Legislativa e transformada na lei complementar nº
1.089, de 20 de maio de 2021. Ocorre que o Ministério Público de Rondônia
ingressou com Ação de Inconstitucionalidade sobre a referida lei complementar,
gerando um impasse jurídico, ainda sem solução, que inclusive já possui um
mandado de desocupação. O deputado Alex Redano disse considerar importante a questão
ambiental e as leis devem ser respeitadas, mas que defende que as pessoas que
ocupam áreas há anos em regiões já antropizadas, possam ter a sua atividade
produtiva respeitada e o seu reconhecimento pela posse e propriedade de suas
respectivas áreas.
A grande discussão gira em torno das alterações
nos limites do Parque Estadual de Guajará-Mirim, que teve áreas desafetadas,
mas teve incluso o chamado "Bico do Parque", com cerca de 5 mil
hectares, um corredor ecológico que interligará a Terra Indígena Karipuna ao
Parque Estadual. Na região do Bico do Parque residem mais de 40 famílias,
algumas há décadas ocupando a área. Moradores da localidade defendem que apenas
parte do Bico do Parque seja transformada em área de reserva, integrada ao
Parque Estadual Guajará-Mirim, com a outra parte sendo loteada com os
produtores que lá habitam. Essa tese é rejeitada pela Sedam, que acredita que
pelo valor ambiental da região, como corredor que interliga duas unidades de
conservação, não pode haver nenhuma atividade econômica na área, o que impede
inclusive de existir qualquer programa de regularização fundiária no local, por
exemplo.
Durante a audiência, o advogado Renan
Maldonado, representando a Associação dos Produtores de Jacinópolias, expos um
estudo feito junto com a assessoria do deputado Alex Redano, que apontou novas
medidas para a reserva, apontando, segundo ele, que não são 256 mil hectares,
mas sim 175 mil hectares e que o Estado não possui autonomia para fiscalizar ou
requerer qualquer ação, uma vez que o Governo Federal nunca efetivou a
transferência da área para o Estado de Rondônia. Segundo Maldonado, o que
existe é apenas uma minuta de contrato de cessão, que nunca foi assinada Ele
requereu aos deputados apoio para a formação de uma Comissão para conversar com
Juiz e presidente do Tribunal de Justiça e Ministério Público para que o prazo
para execução da ordem de despejo, que vence no próximo dia 14 seja suspenso.
Em nome dos moradores o Advogado também sugeriu uma reunião com a Secretaria de
Patrimônio da União (SPU) para pedir posicionamento a favor do povo, ou seja,
destinar área para fins de regularização fundiária e, se for o caso, pedir do
Incra o posicionamento favorável.
Diante das constatações apresentadas pelo
advogado da associação, o assessor Jurídico do gabinete da presidência, Dr.
Doca Santos foi taxativo em afirmar que “estamos discutindo essa questão no
fórum equivocado. Devemos discutir no fórum da Justiça Federal, que é realmente
o competente para debater a matéria e não no estadual, que não tem competência,
pois não existe nenhum documento em que a União atribua ao Estado de Rondônia a
responsabilidade pela área em discussão”, afirmou.
Para o presidente Alex Redano a situação é
muito preocupante, pois além dos moradores do Bico do Parque são outras
milhares de famílias que serão atingidas futuramente com essa ação, “que não
podemos deixar acontecer. Vamos unir todas as forças necessárias para que essa
ordem de despejo seja suspensa e que o povo tenha o seu direito de posse reconhecido,
pois já estão ocupando essa área há muito tempo, exercendo a função social da
propriedade, cuidando das suas famílias, produzindo alimentos, gerando renda e
divisas para o Estado de Rondônia”, disse. Redano continuou afirmando que
"temos uma posição muito clara quando ao assunto de Jacinópolis, assim
como tempo com o de Rio Pardo, onde fizemos outra audiência pública na semana
passada. Defendemos os trabalhadores rurais que estão na sua atividade,
retirando o sustento da terra para a sobrevivência de suas famílias. Considero
importante a questão ambiental e as leis devem ser respeitadas, mas defendo que
as pessoas que ocupam áreas há anos possam, em regiões já antropizadas, possam
ter a sua atividade produtiva respeitada", disse Redano.
Além do presidente da Assembleia, que conduzia
a audiência, todos os demais deputados estaduais presentes se manifestaram em
apoio da busca de uma solução permanente para o problema que se arrasta há
anos. Ao final da audiência Pública, que durou mais de 5 horas, foi decidido
pela formação de um grupo de trabalho, com representantes da população, da
assembleia, assessoria jurídica e parlamentares para que se possa agir de forma
célere e segura. A coordenação desse grupo ficou por conta do advogado da
presidência, Dr. Doca Santos, que deverá marcar uma reunião nos próximos dias
para o andamento dos trabalhos.
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