Segunda-feira, 20 de janeiro de 2020 - 12h46
Uma
bomba herdada de
administrações anteriores - indefectível espólio maldito do governo Confúcio
Moura - pode transformar em pesadelo o sonho que, especula-se, vem sendo
cuidadosamente acalentado pelo bem avaliado secretário de estado da Saúde,
médico Fernando Rodrigues Máximo: candidatar-se à Prefeitura da capital com o
apoio do governador Marcos Rocha. É óbvio que ele vai negar a ambição
eleitoral, mas o gargalo existe e está instalado no Hospital de Base: um
fortíssimo foco potencial de infecção hospitalar. Isso, sem contar a gravidade
da contaminação ambiental produzida pela dispendiosa lavanderia, que processa -
e mistura - também a lavagem das roupas do JP-II e Cosme & Damião. E
despeja mais de cem mil litros diários da água contaminada em um igarapé próximo.
O secretário, a bem da verdade, já encontrou o problema instalado e, se
dele não tomou conhecimento até agora, há que se creditar responsabilidade à
absoluta negligência dos setores da sua própria secretaria, bem como da Sedam.
Tanto a Vigilância Sanitária do estado como a fiscalização ambiental da Sedam,
extremamente rigorosos nas relações com a iniciativa privada, agem com cautela
e leniência no trato com a administração pública. Mas Fernando Máximo agora sabe, a partir das denúncias
veiculadas pelo radialista Fábio Camilo e confirmadas pelo professor de
Química, Cláudio Almeida, sobre focos de contaminação na lavanderia hospitalar
rede pública de Porto Velho. E a população também sabe e se apavora com a
perspectiva de buscar algum tratamento na rede pública e sair de lá infectada
com um mal maior, que muitas vezes se manifesta somente tempos depois.
O Blog
do CHA já levantou o problema há alguns anos. A
denúncia foi levada ao então secretário Williames Pimentel logo no início das
providências para a instalação da lavanderia em um pavilhão do HB. Ele atribuiu
a decisão às exigências do Tribunal de Contas e do Ministério Público, como
forma de evitar riscos de corrupção no setor. Mas com certeza deixou de se
cercar dos necessários cuidados técnicos. Foram instaladas máquinas de lavar
caríssimas, mas todas de 200 quilos, O resultado acabou por comprometer a
seleção, na origem, das roupas, já que as máquinas não operam com eficácia em
volume menor. Também deixou de ser
instalada uma caldeira, para aquecer a água usada na lavagem, e calandra para
passar os enxovais, fundamentais para o processo de desinfecção. Para completar,
foram selecionados, para operar o sistema, servidores da própria Sesau, sem a
capacitação técnica necessária.
O
resultado disso tudo foi o desastre que hoje
se observa. Enxovais manchados, com vida útil reduzida ao mínimo, custo
operacional elevado e funcionalidade nenhuma. A ponto de cirurgias serem com
frequência canceladas por falta de enxovais adequados. O sistema usa quatro
máquinas para secagem de roupas, com capacidade para processar 80 quilos, para
uma demanda estimada de 4 mil quilos. Cada secadora possui 36 resistências, que
consomem unitariamente 2,5 kWh, o que equivale ao consumo de um aparelho de ar
de 12 mil BTUs. Imagine-se o consumo de energia de 114 aparelhos desses
trabalhando o dia todo. Se a proposta original é combater a corrupção, não
sairia mais em conta para o erário investir em gerenciamento e fiscalização
mais capacitados?
Mas a gravidade da batata quente servida à mesa do secretário, com potencial
para comprometer, justamente em ano eleitoral, o trabalho do governador, pela
repercussão que, com certeza, haverá de chegar a Brasília, vai além de custos, pois
o que está sob sério risco é a saúde da população. Vale lembrar a recomendação
da Anvisa no estudo sobre Processamento
de Roupas de Serviços de Saúde - Prevenção e Controle de Riscos: "O processamento de roupas de serviços
de saúde é uma atividade de apoio que influencia grandemente a qualidade da
assistência à saúde, principalmente no que se refere à segurança e ao conforto
do paciente e do trabalhador. Daí a preocupação em relação aos riscos
existentes e à necessidade de um maior controle sanitário das atividades ali
realizadas".
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