Terça-feira, 28 de maio de 2019 - 11h10
A Medida
Provisória 870, editada por Bolsonaro para reestruturar administrativamente o
governo, inclusive com a redução do número de Ministérios, vence no dia 3 de
junho. E, a não ser que seja aprovada no Senado até lá, perde a validade.
E o governo
será obrigado a nomear mais sete ministros e trabalhar com um quadro exatamente
igual àquele que herdou de Michel Temer. Vai inclusive tirar de Sérgio Moro a
pasta da segurança pública - a menos que o super herói possa acumular dois
ministérios. Mas pelo menos por enquanto está tudo bem.
A MP foi
votada e aprovada no Plenário da Câmara e basta que seja aprovada sem
alterações no Senado para que seja transformada em lei.
Claro que "sem
maiores atropelos" é esperar muito do governo Bolsonaro. Quando não
existem problemas os próprios aliados se encarregam de inventar.
Como
acontece agora com o líder de seu próprio partido no Senado, o tal Major
Olímpio. Para ele não interessa se Bolsonaro tenha dito que é para deixar como
está, para não atrapalhar a tramitação da matéria, que vence na próxima
segunda-feira. "Ele não falou com a bancada" - disse o senador, como
a se queixar por abandono ou por não considerar merecedoras de crédito as
palavras do presidente.
Mas é aí que
a coisa pega. A MP foi alterada pelos deputados. O Coaf voltou do Ministério da
Justiça para a Fazenda, de onde tinha sido retirado para atender ao ministro
Sérgio Moro, que quer porque quer o comando do órgão, não importa que ele possa
continuar a fazer exatamente a mesma coisa no Ministério da Fazenda.
A menos que
Sérgio Moro pretenda usar o Coaf para investigar qualquer cidadão,
indistintamente e sem ordem judicial. Ele, afinal, precisaria então ser
lembrado de que não é mais juiz. Ou queira, como sugere o birrento Major
Olímpio, fazer baixar a crista dos deputados.
Como duvido que a maioria dos que estão hoje execrando os parlamentares
rondonienses que não votaram pela permanência do órgão sob o comando direto de
Sérgio Moro, informo que o Conselho de
Controle de Atividades Financeiras (COAF)
foi criado por FHC para identificar ocorrências suspeitas de lavagem de
dinheiro. Ou seja, tem total controle sobre a movimentação bancária de qualquer
cidadão.
Claro que isso facilita muito o trabalho da lava jato, especialmente pela
capacidade de vasculhar a vida do investigado sem a necessidade de autorização
judicial. É ilegal, claro, conforme estabelece o artigo 5º da Constituição. Mas,
para a equipe de Dalagnol, os fins justificam os meios no combate à corrupção.
De qualquer forma as coisas andam muito confusas no país. O Conselho
Penitenciário Nacional, parte do Sistema Único de Segurança Pública - SUSP, que
coordena (pelo menos deveria, se funcionasse) as ações das polícias, Forças
Armadas, academia, Ministério Público, Judiciário, sabia do que estava para acontecer
em Manaus.
Os vários serviços de inteligência em atividade no país felizmente já
conversam entre si. E não apenas sabiam do que iria acontecer como também sabem
que isso pode ser o estopim para atingir outros estados. A guerra entre as
facções, dezenas delas, está dentro do sistema prisional como um todo. E as
facções comandam a criminalidade e a violência que só aumentam do lado de fora.
Nada disso interessa, porém, no país da lava jato, que privilegia o
acessório - o Coaf - e esquece o
principal, a MP 870. Não interessa a quem agride, nas redes sociais, inclusive
os parlamentares rondonienses que não votaram a favor de Moro ou não puderam
comparecem à votação.
Foi o caso da deputada Mariana Carvalho, que não foi poupada, mesmo
quando representava o Brasil e foi
eleita relatora entre representantes de 179 países ligados à União
Interparlamentar - UIP - na Assembleia
Mundial da Saúde, realizada na sede da OMS, em Genebra. Pela primeira vez na
história um representante brasileiro ocupa cargo de tal magnitude,
especialmente porque estava em discussão a universalização do sistema público
de saúde.
Mas isso é assunto para outro artigo.
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