Terça-feira, 4 de dezembro de 2007 - 07h53
“O Comitê Estadual do Partido Comunista do Brasil e o Movimento Camponês Corumbiara publicam o “Manifesto ao Povo de Rondônia” acerca dos trabalhadores sem-terra massacrados em 1995.
Centenas de famílias ocuparam durante 25 dias uma pequena parte da fazenda Santa Elina e, na madrugada do dia 9 de agosto de 1995, aconteceu o massacre. Os camponeses que viveram a esperança da “terra prometida”, de repente, abismaram-se num inferno dantesco, onde homens foram executados sumariamente, mulheres foram usadas como escudos humanos por policiais e por jagunços; pessoas foram torturadas por longas horas e o acampamento foi destruído e incendiado.
Impunidade, descaso e arrogância dos poderes constituídos de Rondônia desafiam a lei, a população e o estado democrático de direito. Quem manda é o latifúndio e a pistolagem, que mata, massacra e dizima famílias inteiras sem que nada aconteça, fortalecendo-se como força paraestatal a serviço do capital.
Há 12 anos os brasileiros foram acordados com o noticiário mostrando corpos ao chão, cravados e chumbados à bala. Eram nove trabalhadores rurais que lutavam por um lugar ao sol, que buscavam um pedaço de terra para plantar e produzir o sustento dos seus familiares, interrompendo sonhos e esperanças. Inclusive de dezenas de crianças que de dia brincavam pelos campos, colhendo os frutos que sua mãe terra – dadivosa e fecunda – um dia lhes daria.
Sonhos, como os de Vanessa que, aos sete anos de idade, assistiu pela última vez o céu brilhar à noite; não o brilhar das estrelas, mas, sim, o de pólvoras e balas, que saiam de metralhadoras, fuzis e revólveres que ceifaram a sua vida, calaram seu cantar e exterminaram definitivamente seus sonhos e esperanças.
Na época do massacre, a polícia e os jagunços obrigaram os trabalhadores a comer o cérebro de seus companheiros mortos sob tortura. Pois, até hoje, ainda, há sete corpos desaparecidos, sem contar os sacos de ossos que desenterrados na área do massacre, em que constataram serem restos humanos.
Passaram-se 12 anos. Somente Cleudemir e Gilberto Ramos receberam uma injusta condenação. Foram punidos por lutar por liberdade, terra e trabalho. Porém, até hoje, seus algozes e mandantes continuam impunes como se crime nenhum tivesse sido cometido. Continuam fardados e cuidando da ordem pública, travestidos de cumpridores da “ordem” e da “lei”.
Cadê a desapropriação da Fazenda Santa Elina para os trabalhadores? O então presidente do Partido dos Trabalhadores, Luiz Inácio Lula da Silva, hoje no segundo mandato presidencial, visitou os massacrados e a área do confronto em Corumbiara. Lula disse que na Fazenda Santa Elina quem teria que entrar na próxima vez era o exército de trabalhadores. No entanto, ocorreu o contrário. Lá, entraram rebanhos de gado nelore e os camponeses até hoje vagam em busca de terra para produzir e sustentar suas famílias.
Os algozes, com o apoio do Estado e da cegueira da Justiça destruíram ilegalmente grandes áreas de floresta, irrigada com sangue dos camponeses assassinados e torturados pelas balas e mãos do Estado.
DIANTE DOS FATOS, EXIGIMOS:
- a imediata revisão do processo de corumbiara;
- punição e condenação dos mandantes e executores do massacre;
- indenização imediata dos familiares das vítimas; e,
- reforma agrária e ocupação das terras desapropriadas no estado”.
MANISFESTO DO
MOVIMENTO CAMPONÊS CORUMBIARA
COMITÊ ESTADUAL DO PARTIDO COMUNISTA DO BRASIL DE RONDÔNIA
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