Sábado, 28 de dezembro de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Vinício Carrilho

“7 de setembro”


“7 de setembro” - Gente de Opinião

Faz um ano, precisamente, nós escrevíamos aqui sobre o 7 de setembro. Lá como cá havia uma sombra, um fosso, a corrupção do ideário, a beligerância de quem sente prazer na dor pungente e na morte programada do povo. Método obscuro, típico do grupo ora no poder.

Isso aí não é o 7 de setembro, mas é o que se tornou. Com o aprisionamento do Estado pelo Governo, pelo Palácio, nem os três Poderes são exatamente três. Na prática são dois, pois o Legislativo (feito refém do Centrão, pragmático como ninguém) é dócil e obediente ao Executivo. O Judiciário, sobretudo o Supremo Tribunal Federal (STF), tem parcelas de resistência – ainda que o país “terrivelmente evangélico” por lá também esteja representado. Uma importante trincheira ainda está aberta.

No geral, esse 7 de setembro reflete a mesma obra fascista de aprisionar o Estado, a fim de que se executem as obras do Fascismo Nacional. Apenas a título de exemplificação, dos terrivelmente evangélicos que anseiam por um Estado Teocrático – os laivos do Estado Islâmico são vistos a olhos vivos –, vejam que a Polícia Rodoviária Federal recebeu uma cartilha incitando (hoje) à leitura da Bíblia, mas que (amanhã) poderá vir a ser cultuada obrigatoriamente. Talvez seja questão de tempo, a depender da evolução dia fatos.

A função da polícia, de qualquer polícia – desde a Politia, na Grécia antiga – não é rezar ou abrir-se para ver Jesus na goiabeira. Até porque nem todos gostam de goiaba e, também, porque goiabas podem ter bichos em seu ventre.

A polícia tem por funções essenciais três tarefas óbvias: prevenção, investigação e repressão ao crime. Rezando ou não, é isso que o povo espera, é isso que manda a Constituição Federal de 1988. Além do mais, crentes ou não, o povo ateu - e de qualquer denominação religiosa - igualmente merece uma atenção institucional – dentro dos marcos legais. Tanto quanto o policial ateu tem todo o direito do mundo de pregar o ateísmo, desde que sua pregação não interfira em seu trabalho.

Em contexto semelhante, as demais secretarias e ministérios andam conclamando os servidores públicos a participarem do cercadinho do 7 de setembro. Por hábito, os e-mails do tal “sougov” estão destinados à lixeira – exatamente porque o lugar do lixo é no lixo, mesmo. Simples assim.

Outra corrupção monumental do ideário está na apropriação indébita do “verde e amarelo” (com ou sem o escudo da CBF) como cores do governo – quando, na verdade, são as cores da bandeira. Neste caso, é a Nação que se curvou ao Estado, tendo-se corrompido o ideário nacional de acordo com os interesses palacianos.

O Duce fez essa cartilha, na Itália fascista. O que temos aqui é cópia barata – turbinada por redes sociais –, porém, com desfecho anunciado (aos olhos abertos) de fracasso, farsa ou tragédia. Que é tudo farsa já sabemos faz muito tempo; resta-nos verificar se será um fracasso retumbante ou a tragédia – há muito anunciada, em verde e amarelo. Aguardemos os próximos capítulos.

Apenas para registrar: a trilogia “Subterrâneos da liberdade” (Os ásperos tempos, A agonia da noite, A luz no túnel), de Jorge Amado, passada no período do Estado Novo, guarda impressionante similaridade com o cenário brasileiro de 2022. Um texto absolutamente atual, que precisa ser (re)lido por todos aqueles que se preocupam com os destinos da Nação. A história se repete…e tanto se repete que a misoginia - enunciada no debate de ontem - ainda nos assombra com o barbarismo imoral, como massacrou uma Teresa Batista Cansada de Guerra, do mesmo clássico de Jorge Amado.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoSábado, 28 de dezembro de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

 Toda tese é uma antítese

Toda tese é uma antítese

A ciência que não muda só se repete, na mesmice, na cópia, no óbvio e no mercadológico – e parece inadequado, por definição, falar-se em ciência nes

A Educação Constitucional do Prof. Vinício Carrilho Martinez

A Educação Constitucional do Prof. Vinício Carrilho Martinez

Introdução Neste texto é realizada uma leitura do livro “Educação constitucional: educação pela Constituição de 1988” de autoria do Prof. Dr. Viníci

Todos os golpes são racistas

Todos os golpes são racistas

Todos os golpes no Brasil são racistas.          Sejam grandes ou pequenos, os golpes são racistas.          É a nossa história, da nossa formação

Emancipação e Autonomia

Emancipação e Autonomia

Veremos de modo mais extensivo que entre a emancipação e a autonomia se apresentam realidades e conceitos – igualmente impositivos – que suportam a

Gente de Opinião Sábado, 28 de dezembro de 2024 | Porto Velho (RO)