Terça-feira, 10 de maio de 2022 - 13h44
Imaginemos uma sociedade entre duas pessoas: cada uma exercendo uma função diferente e complementar.
Mas com rendimentos iguais na exploração do negócio: 50% para cada uma.
Imaginemos que, após algum tempo, uma delas reivindique a criação da ideia do negócio e exija um bônus pelo trabalho criativo: trabalho intelectual e gestão das operações organizativas.
Na prática, a exigência seria de um bônus de mais 5% na rentabilidade.
Passaria de 50% a 55% da mais valia, do lucro.
Ao outro, o parceiro que não teve a "brilhante ideia capitalista", restariam 45% e não mais a partilha igualitária dos 50% originais.
A partir daqui teria início o discurso ideológico: a Ideologia "pacificadora", da "inexistência de exploração".
Veremos que o discurso por retribuição de mérito (meritocracia) esconde uma crescente espiral de exploração.
O capitalista, o detentor de 55%, diria ao sócio explorado de 45%: "veja bem, eu fiquei com 'apenas' 5% a mais do que você; afinal, tenho uma função organizadora do negócio e você 'apenas' a função de vender o resultado do negócio".
Pois bem, o capitalista colocou lógica no seu discurso. Sem dúvida.
Só "esqueceu" de demonstrar a matemática da exploração e da desigualdade.
O capitalista furtou-se de apresentar a lógica básica que se espelha da realidade.
E qual é a realidade?
É simples: da igualdade inicial, da diferença inexistente entre ambos (50% = 50%), em rápido movimento, não se alterou em "apenas" 5%, mas, sim, em 10%.
A diferença entre suas capacidades, trabalho, empenho, suor e lágrimas, foi precificada em 10%.
Significa que um vale 10% a mais do que o outro.
Na prática, portanto, não se agregou "apenas" 5% a alguém, como se retirou (por efeito de mágica), os mesmos 5% de outra pessoa.
Daí que a lógica capitalista passou de zero na diferença de exploração para 10%. Um vale "só" 45%, enquanto o outro embolsa 55%.
A DESIGUALDADE É DE 10% e não 5%, como quis empreender a meritocracia do explorador.
Sem contar o efeito dos juros compostos, pois no segundo mês a diferença entre ambos seria de 10% vezes 10% e o resultado já seria de 11%.
No terceiro mês a diferença seria de 12,1%.
E assim sucessivamente.
Conclusões:
Não há recompensa.
Não há construção.
Não há valor agregado.
A lógica é simples: pra um ganhar o outro tem, obrigatoriamente, que perder.
A meritocracia é um tipo de cassino difundido alegremente.
Veremos de modo mais extensivo que entre a emancipação e a autonomia se apresentam realidades e conceitos – igualmente impositivos – que suportam a
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Vinício Carrilho Martinez (Dr.) Cientista Social e professor da UFSCar Márlon Pessanha Doutor em Ensino de CiênciasDocente da Universidade Federal de