Quinta-feira, 1 de dezembro de 2022 - 16h25
Exmo. Sr. (futuro) Governador
Permita-me uma consideração que me veio agora à
cabeça, antes das minhas proposições mais relevantes, minhas súplicas na
verdade – já que o povo de São Paulo o escolheu, ao invés de um professor.
Eu
escrevo na qualidade de professor, e já se vão 30 anos de magistério. Aliás,
vossa excelência já ministrou aulas? Teve a sublime oportunidade, que nos
ocorre, aos pobres mortais, de ensinar, conversar e aprender sobre Ética,
Humanidades – e não os tecnicismos e o “lucro fácil do capital” –, com alunos e
alunas?
É muito
nobre excelência, deveria se permitir essa grandeza de espírito – inclusive,
pensando-se mais seriamente na defesa e na promoção do Espírito Público.
Em todo
caso, enquanto isso não ocorre, vou à minha digressão inicial:
1.
Aconteceu enquanto pensava se haveria
alguma razão para lhe escrever umas poucas linhas – nessa hora pensei que o
título (Carta ao Governador) me remetia ao passado mais estranho desse
país-continente, de todo o continente da América do Sul. Lembrei que os pobres
de antanho (e de sempre) e os amigos da corte escreviam exatamente assim:
pedindo favores ao novo déspota do sertão, ao Príncipe dos Escravos, aos
Caudilhos e aos coronéis empossados. É verdade que vossa excelência nem foi
diplomado ainda, e muito menos tomou posse, porém, de súbito me veio à memória
um Machado de Assis, um Graciliano Ramos, um Gabriel Garcia Márquez (aquele do
coronel que não recebeu uma mísera carta, sequer), um Raymundo Faoro, lembrei
da magnífica Tarsila do Amaral, puxando pelas minhas limitadas linhas de
literatura, e da cultura brasileira, as rédeas com as quais os senhores pavões
sempre ataram o povo, bem presas às cangalhas. É claro que já li muito mais do
que isso, mas, creio eu, por hoje lhe basta.
2.
Lembrei
na hora que deveria fazer uma referência aos Senhores Governadores que nunca
cuidaram do povo, que matavam o povo, ao invés de combaterem a miséria e a fome
desse povo (só cuidando dos ricos, da destruição da natureza e do próprio
Estado); lembrei que nem sonhando muito veria algo diferente neste mais
desenvolvido Estado da Nação. E lembrei de pedir-lhe, humildemente, em nome do
nosso povo:
Por favor, Ilustre (futuro) Senhor Governador, cuide
no povo como o senhor olha sua família – ou melhor, cuide do povo melhor do que
cuida da sua família. Digo isso genericamente, uma vez que a famosa “família
tradicional brasileira” – dotada de “cidadãos de bens” – cuida mal de si mesma
e dos outros, por óbvio.
Em todo caso, cuide da Educação Pública, aquela que o
Senhor recebeu ou gostaria (ou deveria) ter recebido, cuide para que o serviço
público não seja privatizado – o erário também, é óbvio.
Suplico que não privatize a água pública, a Educação
Pública, que invista em Saúde Pública, construa hospitais públicos – contrate
profissionais, servidores públicos decentes –, cuide do pouco meio ambiente
(degradado) que nos restou, cuide das universidades públicas estaduais, nos
moldes que o Senhor poderia ter frequentado.
Cuide ainda da merenda das crianças pobres e,
sobretudo negras. Cuide para que essas crianças tenham a esperança de se
tornarem adultas. Cuide dessas crianças com uma segurança pública capacitada,
humanizada, instruída juridicamente. Cuide para que os policiais recebam
conhecimentos reais sobre Direitos Humanos, para que não façam mais uma
“seleção natural racista”, ao promoverem incursões meramente repressivas em
comunidades, favelas, bairros e lares pobres e negros.
Teria muito a falar Senhor (futuro) Governador. Todavia, além de pedir-lhe que dê comida, saúde, educação e respeito (dignidade) aos pobres e negros, poderia lhe solicitar um compromisso público com tudo que nos faria ser um Estado menos fascista, racista, excludente e injusto.
Sem a expectativa de que um dia venha a ler esta carta
de um professor, despeço-me no desejo que o povo paulista (mormente os pobres e
negros) tenham melhor sorte do que esse “futuro prometido” que já começa a ser
cumprido.
Passar bem
Atenciosamente
Vinício Carrilho Martinez
Professor na ativa do magistério, por mais de 30 anos.
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