Segunda-feira, 23 de maio de 2022 - 17h30
Trata-se de uma resposta muito complexa e que, obviamente, deve recusar
toda forma reducionista de pensamento e de abordagem.
Sob a égide do capitalismo, obrigatoriamente, tem-se que levar em
consideração a força das contradições sistêmicas e sistemáticas.
A produção da vacina contra a Covid-19 é um exemplo simples: em tempo
recorde, tivemos respostas significativas que salvaram milhões ou mesmo bilhões
de vidas.
Porém, a desigualdade econômica brutal no planeta resultou no fato de
que a África vacinou apenas 15% do seu contigente populacional.
Desse modo, pode-se concluir, nesse esboço, que a Ciência salva, mas não
todo mundo.
Tal qual a realidade econômica exclui bilhões de pessoas da dignidade, a
Ciência segue sendo seletiva.
Isso sem considerar, ainda, que o que se chama de "inovação",
na prática, não ultrapassa limites estreitos. Vejamos:
1. O Cientista Materialista não condiz, imediatamente, com qualquer
pensamento libertário.
1.1 Aliás, pode ser absolutamente reacionário ou desumano, como o lendário
Menguele – algoz e agente do Nazismo alemão.
2. O Cientista Materialista (digamos socialista, humanista) está
submetido às relações capitalistas predominantes.
2.1 Isso quer dizer que, por mais que se empenhe na luta política contra
o sistema, seu desempenho é avaliado pelas mesmas métricas de
"relevância" aplicadas no chão de fábrica: oportunidade X
lucratividade.
3. A imensa maioria dos "exemplos de inovação" não passam de
upgrade do que já se assentiu como "relevante", quer dizer, produtivo
econômica e sistemicamente.
4. O Cientista Materialista (digamos inovador, criativo), via de regra,
será julgado por pares que desconhecem o que é criatividade e crítica, ou seja,
não conhecem apropriadamente o que é "inovação".
4.1 Salvo exceções (e exceções confirmam a regra), esses pares e seus
pareceres podem ser consubstanciados por suportes materialistas, contudo sem
que se apliquem à condição óbvia da Ciência: "propor criticamente".
5. Aplicando-se à duplicidade de suposta inovação (upgrade da mesmice),
esse tipo reduzido de Cientista Materialista, no fundo, é um mero servidor
burocrático do sistema operacional e produtivo.
6. Por isso mesmo, o substrato ou a legenda Materialista não confere
legitimidade científica a ninguém.
7. A Ciência Materialista, nessa breve abordagem, deve ser capaz de
revelar a "inovação societal": profundamente Ética e transformadora
do status quo.
7.1 Tão transformadora que o próprio "status" do tal Cientista
Materialista não coloque seu ego acima do Interesse Social e do Bem Maior, que
é a dignificação da vida social.
8. Nesse caso, revelando-se efetivamente, talvez o Cientista
Materialista (neste século XXI) promovesse o encontro entre o homo sapiens e o
homo faber – entre o pensador e o trabalhador.
9. Como se vê na lição de Gramsci - o encontro entre o homo sapiens e o
homo faber - um gênio do século XX, o Cientista Materialista não suporta os
limites do laboratório.
9.1 Trata-se de todos que se ponham a serviço da real "inteligência
social": do laboratório, escritório, gabinete, ao chão de fábrica.
10. A inovação, em Ciência Materialista, é essa que supera fortemente o
discurso capacitista da meritocracia capitalista.
11. A Ciência Materialista que interessa à Humanidade (desde Marx ou
Heráclito) é destinada à descompressão humana, à liberdade, à dignidade, à
capacitação inovadora capaz de trazer respostas saudáveis aos conflitos e
aflições humanas.
11.1 Fora disso, não há inovação, só réplica na esteira ou bolha de
produção capitalista.
12. Apenas desse modo pode-se falar de verdade na Ciência, como uma
verdadeira Ciência.
Portanto, sob esse prisma do Materialismo – que denominamos aqui
Materialismo Ético –, toda Ciência será uma Ciência Social; posto que a Ciência
Materialista tem que ser humana e humanizadora, assim como combater e tratar
com desânimo tudo o que desumaniza.
Por fim, numa última reflexão, pode-se dizer que saberíamos com exatidão
que toda Ciência é política, mas ainda veríamos o surgimento de uma Ciência
para a Política – não como pensava Weber, mas, sim, Gramsci: uma Ciência da
Polis.
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