Sexta-feira, 9 de dezembro de 2022 - 11h17
CARTA PARA UMA PEDAGOGIA POLÍTICA
POLÍTICA, CIDADANIA, DEMOCRACIA
Vinício Carrilho Martinez (Dr)
Professor Associado da ufscar/SP
Head of bras Research Group –
Constitucional Studies and bras Academic Committee Member
Https://youtube.com/c/aci%C3%aanciadacf88
Dia 8 de dezembro de
2022 deveria ser um marco nacional. Em sua razão faço uma carta política e
pedagógica, precisamente com o intuito de contribuir com a efetividade da
justiça social e política. Que façamos, desde agora, enquanto país, uma ampla
justiça política – pari passu ao combate à miséria social –, exatamente, para
que os piores crimes cometidos contra o povo, a constituição, contra a nação,
não fiquem no esquecimento da impunidade.
Nesse
texto propomos uma minuta, um projeto inicial em que possamos propor uma
verdadeira prospecção nacional – primeiramente, como ação político-pedagógica
de punição, no máximo rigor da lei, e de desnazificação do país (ADORNO, 1995).
Ação que combine uma reflexão conceitual e um conjunto de práxis que nos
permitam olhar o país, a cultura do povo – a nossa própria –, a definição
constitucional de dignidade humana, o objeto positivo de nossa carta política,
para efetivamente mudarmos esse país – tendo-se em conta o processo
civilizatório e o princípio do não-retrocesso social (moral).
Portanto,
não se trata apenas de prefixarmos, solidificarmos marcos teóricos de uma
significativa massa crítica. Apesar da suma importância, da urgência de
investigarmos a fundo a epistemologia política de que nos servimos
historicamente, apesar da extrema urgência de popularizarmos a devida compreensão
e entendimento da própria ciência da CF88 – especialmente para combatermos de
modo efetivo esse fenômeno da dissonância cognitiva coletiva –, nós precisamos
de caminhos práticos. Precisamos de práxis que oriente essa passagem do senso
comum (ainda mais iludido com fake news), sua transformação radical em bom
senso. Precisamos, desde ontem, de uma força de teleologia constitucional que
nos oriente na pólis, na política – quer seja no teatro de operações típico da
representação das teses entre adversários, quer seja na arena movediça em que
combatem os inimigos.
Precisamos
mais do que nunca, mais do que em 1988, do conhecimento alinhado às práticas
sociais, a fim de que possamos reconstruir o liame social para além da guerra
civil-ideológica. Precisamos nos recolocar como atores sociais e políticos e,
mais precisamente, como agentes públicos, políticos, na esfera de uma
reconstitucionalização democrática – dentro e a par do objeto positivo da CF88:
política, democracia, cidadania.
Nesse esforço de
transformação da massa embrutecida – alienada e alucinada, sob o condão da
dissonância cognitiva coletiva –, em massa crítica, a perspectiva científica
que nos interessa tem lastro na prospecção, na crítica, na intuição e interação,
na superação e na transformação da cultura, das institucionalidades, nas ações
sociais e políticas. Desse modo,
precisamos, desde já, modificar o entorno e a nós. Esse trabalho hercúleo
somente será possível se tivermos uma base institucional (procedimental e
dialógica) muito bem articulada (em ação e na conceituação). Junto a todo
sistema público, precisamente, da educação pública.
Em poucos anos seríamos capazes de formar, se
assim desejássemos enquanto nação, povo e institucionalidades, um conjunto de “cidadãos
governantes” (CANIVEZ, 1991), que se movessem do sofá, saíssem do whatsapp, em
direção à Ágora, em passeata pela cidadania ativa (BENEVIDES, 1991), reparadora,
transformadora, como verdadeira metáfora da vida pública. Esse veículo público
de transporte de significados efetivos deixaria de ser uma quimera, ou mera
figura de linguagem, como atualmente é. A consolidação da educação pública
também faria parte (enquanto parte ativa) dessa aproximação entre o pensador e
o trabalhador, entre as pesquisadoras e as professoras, entre todos os docentes
e o enorme corpo discente – no país todo, do ensino fundamental à universidade:
agora tomada como universo de conhecimento.
Esse é
o tripé – política, cidadania, democracia –, porque é o suporte da dignidade
humana, é o nosso coração constitucional, é o eixo dos direitos humanos e é (ou
deveria ser) a origem do princípio educativo. Literalmente copiando Paulo Freire,
posso dizer que:
A razão de
ser de minha esperança radica na natureza inacabada de meu ser histórico. Inconcluso,
mas consciente de minha inconclusão, me acho inserido num movimento permanente
de busca. Minha esperança se funda na impossibilidade de buscar
desesperançadamente. É neste sentido que tenho afirmado que não sou esperançoso
por pura teimosia, mas por uma questão de radicalidade ontológica. A nossa
esperança tem que ver com nossa capacidade de decidir, de romper, de escolher,
de ajuizar. Tornamo-nos seres éticos, conscientes, sonhadores, utópicos. Por
isso, seres a quem a esperança faz falta (p. 239).
E, por
fim, mas que nos remete ao início dessa carta, trago à lembranca nosso amigo Cidoval
Morais Sousa (PPGCTS) – com sua pedagogia da intrepidez, própria, inerente de
quem não se esconde, não se acovarda, não tem medo da luta e dos maiores
desafios transformadores que o país tanto necessita. É o que esperamos, que
esta carta para uma pedagogia política possa alcançar a esperança de muita
gente, neste dia da justiça, para que nos desembruteça, e que nos auxilia, ao
menos para este que escreve e para alguns que possam ler (ou ouvir), enfim,
para que nunca mais cultivemos as nossas próprias vidas secas. Que o povo possa
ser o intérprete de si mesmo, dos seus caminhos e descaminhos, de sua ação
política, que o povo seja seu guia constitucional (haberle, 1997).
REFERÊNCIAS
ADORNO,
Theodor W. Educação e emancipação.
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995.
BENEVIDES, M. V. De M. A cidadania ativa: referendo, plebiscito e iniciativa popular.
São Paulo: Ática, 1991.
CANIVEZ,
Patrice. Educar o cidadão? Campinas,
São Paulo: Papirus, 1991.
FREIRE,
Paulo. Pedagogia da Tolerância. Rio
de Janeiro/São Paulo: Paz e Terra, 2018.
GRACILIANO
RAMOS. Vidas Secas. 91ª ed. Rio De
Janeiro: Record, 2003.
GRAMSCI,
Antonio. Cadernos do Cárcere. (Org.
Carlos Nelson Coutinho). V. 2. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.
HABERLE, Peter. Hermenêutica Constitucional: a sociedade aberta dos intérpretes da
Constituição – contribuição para a interpretação pluralista e “procedimental”
da Constituição. Sérgio Antonio Fabris Editor: Porto Alegre, 1997.
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