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Vinício Carrilho

Elogio à mulher


Judoca Beatriz Souza - Foto: Alexandre Loureiro/COB - Gente de Opinião
Judoca Beatriz Souza - Foto: Alexandre Loureiro/COB

Nosso primeiro ouro nas Olimpíadas de 2024 veio com a garra de uma mulher negra. Não poderia haver simbolismo e conquista maior, nesta infindável sociedade patriarcal, machista, que é a nossa. A judoca Beatriz Souza já está inscrita, faz parte, da justiça histórica brasileira – que também é poética, como “sinal” de um bom, justo e belo “Elogio à mulher”. Especialmente, diante do machismo de corte racista: num cenário catastrófico da “misoginia classista”.

Isso que escrevo hoje, esse Elogio à mulher (sem aspas, porque é radicalmente verdadeiro), traz muitas memórias da minha casa, da minha criação, da minha mãe especialmente. Como a imensa maioria das mulheres brasileiras, minha mãe foi guerreira até o último respiro. Os suspiros foram e são nossos, desde sua partida.

Meu Elogio hoje tem, para mim, o passado e o presente.

Nesse presente, mas do ano passado, me alinhei (e ainda estou nessa linha) a quem defendia a indicação de uma mulher negra ao Supremo Tribunal Federal (STF). É óbvio que seria uma jurista que se reportasse a todos os quesitos técnicos e intelectuais que a própria lei exige. Nem falo disso porque é óbvio demais.

Porém, como sabem, a pauta dessa luta política pela afirmação do direito da mulher negra – notadamente nas hostes do poder que pode mudar a vida de milhares, milhões de outras mulheres negras – foi derrotada.

O indicado, como sabemos, foi um homem branco, formado em “elite”, rico – de certa forma. Pois bem, são águas passadas; mas que, ao menos, essas águas passadas possam, no futuro próximo, mover nosso moinho para outra direção.

Que possamos aprender com os erros dos outros (a não indicação de uma mulher negra ao STF) e, com isso, possamos aprender a sermos menos machistas. Lembrando-se que, sob a sociedade patriarcal (quase a mesma dos séculos XVII, XVIII), nós somos machistas. A questão também não é negar essa obviedade, porém, investir no aprendizado diário, vigilante (autocrítica), para que, sobretudo, as meninas negras não sofram o massacre que suas mães negras ainda sofrem.

A mulher negra no STF seria decisiva nessa curvatura de nossa história, racista e machista. Não foi.

Mas, que a Bia Souza seja um enorme presente a quem luta contra o racismo e o machismo, que essa medalha de ouro seja o melhor Elogio às mulheres brasileiras, que todas as mulheres condenem o machismo, o racismo, a misoginia, o feminicídio.

E que esse meu singelo Elogio à mulher (notadamente a mulher negra) sirva de autoaprendizado a alguém, assim como está servindo para minha autocrítica.

Que meu Elogio à mulher estimule muitos outros, outras, a produzirem seus manifestos, muitos outros Elogios à mulher, e que digam um basta cada vez mais alto, decisivo.

Que esse Elogio à mulher arrebate você.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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