Sexta-feira, 2 de agosto de 2024 - 08h04
Desde a Guerra do
Paraguai – e antes dela –, todas as vezes em que os militares estiveram na cena
nacional as consequências foram terríveis e são sentidas até hoje – quem sabe
por quanto ainda até nos livrarmos desses escombros sombrios.
Temos
uma história recheada de violência, corrupção, tortura e mortes. Não há um
sinal de grandeza em nada do que os militares fizeram, desde, sobretudo, a
Guerra do Paraguai – assassinando milhares de crianças, mulheres, idosos,
pobres, no país vizinho.
O evento funesto mais próximo é o
afamado 8 de Janeiro de 2023. Numa tentativa de golpe fascista, os chamados
“pés pretos” (forças especiais, selecionadas dentro da tropa) estavam lá, na
organização, na logística, no butim que se seguiu em Brasília, junto aos três
poderes.
A partir de 1964, vimos os piores dias
do país, com mais sequestros, mortes, violência, sadismo extremado – que,
aliás, pelo nível doentio nem podemos descrever aqui.
Em 2018, o Fascismo Nacional chegou ao
poder no Planalto Central. Com o lema “Deus, Pátria, Família”, invocava a
marcha que trouxe o “golpe cívico-militar” em 1964 e sustentou os chamados Atos
Institucionais, um golpe dentro do outro, um golpe atrás do outro. O lema em
1964 era: “Marcha da família com Deus pela liberdade”. Troque liberdade por
propriedade e está tudo ok.
O Deus da época era outro, era católico,
hoje é neopentecostal, mas num ramo bem específico. Até a algum tempo rezavam
os salmos da Teologia da Prosperidade, enriquecer rezando, porém, de um pouco
pra cá passaram a entoar cânticos da Teologia do Domínio – e o santo do milagre
é aquele mesmo Rei Davi: bastante brutal, inclusive contra os “amigos”. Então,
o percurso agora é a dominação.
Na essência, se acharmos algo como o
Clerical-fascismo, da Itália de Mussolini (amigo de Hitler, o pior facínora da
história humana), não será mera coincidência, mas sim total semelhança.
Por que falamos disso?
Porque o poder ungido em 2018 tinha a
patente de capitão (sic). E com ele foram ungidos outras personagens de estirpe
clerical e militar – tudo já na esteira da Teologia do Domínio.
As formas de dominação, na lição
clássica da Sociologia, são: dominação tradicional, dominação carismática,
dominação racional-legal. Nosso eterno e reverenciado patriarcalismo, machismo
misógino, tem enquadro na dominação tradicional. Nossos beatos e comerciantes
da fé (alguns associados ao tráfico internacional de drogas) creem em seu
“carisma” para domesticar, dominar e, acima de tudo, lucrar com a fé alheia. E
desde 1988, notadamente, com a Constituição Federal de 1988, conhecemos (ao
menos em desenho institucional) a dominação legitimada democraticamente.
Por tudo isso, e por muito mais, é
preciso dizer NÃO a esse projeto de Escola cívico-militar. Não é possível que
militares, criados sob esses lemas e “consciências” venham a organizar, gerir
escolas públicas.
Para
ficarmos com outro exemplo, bastaria perguntar como é que soldados da Polícia
Militar de São Paulo vão ensinar Ética às crianças e aos jovens, se são criados
para festejar as mortes ocorridas no massacre de 500 presos no Carandiru - se
são especialistas em atirar especialmente contra jovens negros e pobres das
periferias?
Nossas escolas devem ser laicas,
dirigidas por profissionais da educação, nossos conteúdos devem passar pela
ciência, pela crítica social, pelos Direitos Humanos, pela emancipação e pelo conhecimento
ético e científico. Jamais deveríamos estar discutindo isso: militares
treinados sob o símbolo da morte ensinando ética.
Não se trata apenas de falta de noção,
de lógica, mas, sobretudo, trata-se de imoralidade. É imoral se pensarmos que a
ordem democrática não será, nunca será, mantida com “ordem unida”. Ordem
democrática e ordem unida são repelentes.
Tanto são repelentes quanto devemos
repelir as ações de escola cívico-militar.
Houve um tempo, mais do que sombrio,
em que a escola pública ensinava Educação moral e cívica...pois bem, na esteira
do conteúdo militar reinante, hoje bem sabemos o quanto era uma educação imoral
e cínica.
A ciência que não muda só se repete, na mesmice, na cópia, no óbvio e no mercadológico – e parece inadequado, por definição, falar-se em ciência nes
A Educação Constitucional do Prof. Vinício Carrilho Martinez
Introdução Neste texto é realizada uma leitura do livro “Educação constitucional: educação pela Constituição de 1988” de autoria do Prof. Dr. Viníci
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