Quinta-feira, 23 de junho de 2022 - 16h28
A quem interessa esse estado de coisas que se desenrola em
toda a sociedade nacional, especialmente no Pantanal e na Amazônia brasileira?
Ainda que a Polícia Federal tenha dito que não há mandantes nos bárbaros
assassinatos do jornalista inglês Dom Philips e do indigenista brasileiro Bruno
Pereira, quais são os atores interessados na eliminação física dos opositores,
defensores da natureza e dos códigos da vida social?
Além da já tradicional oposição entre civilização e
barbárie – que o digam os 32 milhões de famintos no Brasil de 2022 – podemos
assegurar que nosso retrocesso moral, humano, ambiental, é muito pior do que se
supõe pela visão do senso comum. Além de se confirmar que o país está submerso
no Estado Paralelo, agora também não há mais esconderijos ao Fascismo
Miliciano: numa analogia simplista, corresponde ao esboçado no filme Tropa de
Elite II.
Porém, contabilizando-se tudo isso e muito mais – como a
depreciação praticamente absoluta acerca do que é a República ("honeste
vivere") –, nosso embate diuturno opõe as ações estatais ao que iremos
denominar de condições estatutárias (conceituais) que garantiriam um mínimo de
inteligência social: aqui subentendida como ingrediente de uma Ética de
Responsabilidade pela vida de mais de 200 milhões de pessoas.
No Brasil de hoje há a imposição da Stasi, nos dois
sentidos: corroem-se as condições essenciais da sobrevivência e da convivência
humana, seja economicamente, seja social e psicologicamente – com a sociopatia
em alta –, e se põe o Estado brasileiro a atuar nas bases de uma terrível
polícia secreta. Apenas para um registro, foi assim que a Abin (Agência
Brasileira de Inteligência) “visitou” a FUNAI (Fundação Nacional do Índio) e,
logo em seguida, Bruno Pereira seria caçado institucionalmente – antes de ser
abatido por munição de caça no interior da floresta.
Apenas para registrar, a Stasi, a notória “polícia secreta”
da antiga Alemanha Oriental, contabilizava, em seu auge, nada menos que 20% da
população como “informantes”. Medo era a tônica. Medo é o que se vive no Brasil
de hoje.
Em 2022, o Brasil ainda enfrenta uma calamidade
institucional – sem nos esquecermos do negacionismo estatal que ainda vitima
brasileiros e brasileiras sob a COVID-19 –, as referências e alicerces do
Estado, enquanto Poder Público, estão gravemente minadas. Diz-se, por exemplo,
que as eleições implicam em “ganhar o governo” (ou o direito de governar), mas
que o maior e intenso desafio virá em seguida, ou seja, não será nada fácil
“ganhar o Estado” – tal o nível de comprometimento institucional com o Fascismo
miliciano.
Entendemos, por fim, que após o Golpe de Estado de 2016, o
país virou as costas para qualquer princípio elementar e definidor de sua
institucionalidade; entre puxadinhos e cercadinhos informais, as próprias
condições de sobrevida e estabilidade pública (racionalidade: razoabilidade,
proporcionalidade, previsibilidade) estão no abatimento conceitual mais grave
que já tivemos.
Entendemos que o século XX seria o marco histórico/teórico
do que denominamos por Estado Contemporâneo, contudo, retroagimos para além de
1945. Caminhamos seguramente (pela Stasi) ao encontro do tormento e da tortura
generalizada. Por fim, para efeito apenas de Ilustração, vejamos alguma
tipologia pública que estamos (institucionalmente) caçando e destruindo: Estado
Social (1916), Estado Democrático (1949), Estado de Bem-Estar Social (a partir
do Plano Marshall), Capitalismo Monopolista de Estado (décadas de 1960 a 1980),
Estado Ambiental (década de 1990 em diante, sob o chamado capitalismo de
risco), Estado de Direito Social ou Democrático (1972), Estado de Direito
Democrático de 3ª Geração (século XXI).
Na prática, especialmente para os 32 milhões que agonizam
de fome, nós retroagimos ao Estado Fascista (1919) e, com isso, impusemos todo
o fardo do Estado Neoliberal (década de 1970 em diante). Moralmente, nosso
atavismo remonta à Idade Média. Era das Trevas, aqui e agora.
Nós estamos sob as configurações necessárias à imposição de
um Estado de Emergência – quer seja ambiental, quer seja sanitária – e ainda
não o fizemos por uma razão simples: o movimento de deflagração não estaria no
sentido de limitar espaços das relações sociais, mas, sim, seria dirigido como
barreira de contenção ao Estado miliciano, atuando-se a Emergência Pública,
portanto, em total antagonismo e confronto humanitário às manobras e ações do
Fascismo estatal. Neste caso, veríamos uma espécie de Revolução Ética.
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