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Vinício Carrilho

“GOLPE MILITAR” - A psicose política está e estará em nossos dias


Vinício Carrilho Martinez – Cientista Social - Gente de Opinião
Vinício Carrilho Martinez – Cientista Social

Como entender o bárbaro assassinato (homicídio) do guarda municipal Marcelo Arruda pelo policial federal penal (Jorge José da Rocha), em Foz do Iguaçu (PR)? O homicida declara-se bolsonarista, cristão, “cidadão de bem” e antiviolência. Discurso já bem conhecido por aqui.

         Não é fácil encontrar uma avaliação psicológica, política, societal, que dê conta dessa ação, mais ainda se lembrarmos que foi durante um aniversário de 50 anos, e que o homicida já havia passado com arma em punho no salão de festa – jurando-se ser um vingador do bem e que todos ali deveriam morrer. Na segunda vez entrou no salão e atirou no petista, que revidou – mas morreu em seguida.

Se o atual presidente da República prega violência, armamentismo da sociedade civil, ódio social e político – “eliminação de 30 mil petralhas” (sic) –, extermínio de indígenas (“Certo é o exército americano que eliminou os índios” - sic), não está clara a simetria entre “ideologia fascista” e homicídio doloso (premeditado, por motivo torpe, sem permitir condições de defesa à vítima)? Se o próprio homicida não fosse baleado pela vítima, teria matado mais quantas pessoas?

Difícil não associar essas situações, notadamente, quando temos em consideração uma lógica básica entre ação e consequência – como decorrência. Também não é difícil concluir que o motivo torpe do brutal assassinato é uma “intolerância política”. Porém, o que é intolerância política? 

Basicamente, seria a intolerância diante de uma oposição política – tanto é brutal quanto brutaliza. Quando há ausência total de associação cognitiva com o Bom Senso, o indivíduo intolerante supõe ou imagina que a pessoa eleita como “adversário político” deve, precisa, ser convertido em inimigo – e, como tal, só lhe resta ser extirpado da vida social. Eliminação total, pura, simples e direta.

Em outro momento histórico, assassinos não convidados para festas de aniversário levaram a Humanidade ao Nazismo. Todos se lembram como acabou a 2ª Grande Guerra Mundial. E todos deveriam se lembrar que, após as dezenas de milhões de mortes, o Tribunal de Nuremberg caçou inúmeros psicopatas não convidados a festas de aniversário e os levou à pena de antecipação da morte.

         Outra possível explicação associa o assassínio à polarização das eleições. Contudo, isso seria uma falácia, uma vez que não houve enfrentamento entre o homicida e a vítima, que o algoz nem fora listado entre os bem-queridos na festa, e, por fim, o local da festa era afastado, isolado do meio urbano. Ou seja, o “assassino declarado bolsonarista” foi até à festa, duas vezes, para efetivamente matar.

Outra hipótese nos leva a pensar que estamos diante do dilema entre civilização e barbárie: o bolsonarismo não suporta divergências, está abduzido pelo ódio social, pelo atavismo cultural, sendo conduzido por desideratos, sem consideração com as reais condições da vida social: sociopatia. Em que pese a vítima fosse vinculada ao principal partido de oposição ao candidato do bolsonarismo, e ainda que não o fosse, seria eliminado. A vítima seria eliminada pelo simples fato de não ser bolsonarista. Será, portanto, uma seita de desesperados?

Por fim, o que surge como o mais óbvio nessa equação denominaremos aqui como “realismo político” e diz respeito à Ideologia do Mal Maior: tudo seria movido pela, praticamente certa, derrota nas eleições de outubro – o mais tardar em novembro. Isto é, diante da derrota anunciada na reeleição do empossado, o bolsonarismo é continuamente alimentado pelo ódio para que secrete o aumento e o agravamento do caos social e do terrorismo político. 

A cada dia mais preocupado com a possibilidade real de derrota, o primeiro presidente não reeleito no pós-emenda da reeleição aposta no aumento vertiginoso da violência política. Por que? Porque assim, com o embrutecimento da guerra civil planejada, as forças armadas seriam acionadas para “controlar o caos”.

Esse homicídio, se nada for feito de modo incisivo, será apenas a senha para que muitos outros atos terroristas ocorram (bombas de cocô já foram lançadas) e, assim, especialmente o exército teria o comando acionado pelo art. 142 da Constituição Federal de 1988 – como típico poder moderador sob o mandato de um qualquer Estado de Emergência Política. Vale a pena ler o caput do referido artigo da CF88:

         As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem” (grifo nosso).

 

Certamente, trata-se da pior redação conferida a algum artigo da Constituição Federal de 1988, uma vez que permite às Forças Armadas tomarem o poder para garantir a lei e a ordem. Independentemente de quem tenha produzido a deslealdade ao Estado de Direito e garantido a desordem.

Então, nesse cenário surreal, pode-se concluir que se trata de uma aberração política e de ações bruscamente inconstitucionais – em retrocesso flagrante do Processo Civilizatório, atacando-se mortalmente a democracia e a República. O bolsonarismo, já decretado como derrotado nas próximas eleições, alimenta o caos para tirar proveito da confusão que planejou. A psicose política está e estará em nossos dias. Não são os algozes da democracia que deveriam sofrer intervenção imediata? Por outro lado, será que nós teremos tanta omissão, assim, a fim de permitirmos um Golpe Militar em pleno 2022?

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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