Domingo, 15 de outubro de 2023 - 12h27
Há uma declaração clássica, dotada de tanta
verdade que poucas lhe fazem concorrência – e nos diz assim: “Na guerra, a
verdade é a primeira que morre”.
No caso específico, a verdade
morta diz que, nas ações militares, Israel não luta contra o Hamas, pois, na
prática do incendiário fósforo branco, leva a morte disseminada para toda a
população civil de Gaza: palestinos ou não.
A guerra travada entre Israel
e a Palestina (Gaza) tem uma história longa e não é nosso enfoque nesse texto.
Nossa premissa é Ética, ou seja, diante do princípio civilizatório, tenhamos
clareza da condição humana: nem sionismo (Estado Sionista de Israel), nem
antissemitismo: fenecimento do Estado de Israel. Não temos aqui torcida Fla x
Flu, especialmente porque a morte de milhares de pessoas – notadamente da
população civil desarmada – geraria um colapso geopolítico na região e isto
poderia resultar numa escalada bélica sem precedentes: 3ª Guerra Mundial, com
emprego de tecnologia atômica.
Repito,
a premissa é simples e clara: nem sionismo, nem antissemitismo.
Com
isso em mente, deveríamos descredenciar as ações do Hamas abatendo centenas ou
já milhares de pessoas, em uma Rave, nas casas, nos Bunkers de refúgio, e
desarmadas para o ódio naquele momento. Do mesmo modo, é urgente condenar as
ações de sufocamento que o Estado de Israel (sionista) impôs a Gaza num
apartheid palestino: qualquer pessoa pode/deve ver os bombardeios diários que
matam civis. Sem contar o uso de bombas de fósforo branco[1], já banidas pela
Organização das Nações Unidas (ONU). Este fato, em si, já configura crime de
guerra. Contudo, como todas as guerras, essa também tem uma história como pano
de fundo para se revelar.
Na
história da humanidade, em sua protuberância bélica, as famosas lutas entre o
bem e o mal, via de regra, terminam em zero a zero ou na soma-zero. Seguindo-se
a Ciência Política clássica, soma-zero quer dizer que ambos os contendores sempre
perdem e, quando alguém ganha, as perdas são maiores do que os trunfos. Essa
leitura binária da política é bíblica, mas também deve constar da Torá e do
Alcorão.
E
é essa leitura binária, messiânica, construtora de narrativas de ocasião –
notadamente presas na lógica medieval dos cavaleiros Templários a libertar
Jerusalém –, que vem mobilizando a cena internacional e alimentando a extrema
direita mundo afora. Com essa força motriz, no Brasil, pelo menos desde 2009 –
mas, com certeza, desde 2013/14 –, os tentáculos fascistas saem lancinantes dos
buracos de esgoto: aqui não há expressão que melhor defina o chorume político
fascista.
Obviamente, essa lógica maniqueísta, binária,
empobrecida como a luz que é engolida pela caverna escura, se apossou da guerra
Israel x Palestina. E aqui cabe uma observação: a guerra que o Estado de Israel
(e aliados, como os EUA) trava, neste momento, não é contra o Hamas. É contra
os dois milhões de pessoas (palestinos ou não) que estão açodadas na Faixa de
Gaza.
A Faixa de Gaza é um gueto
implantado a fórceps contra um inimigo difuso, e promovido por quem o sofreu na
pele em Varsóvia: os episódios contam que em 1943 o levante judeu contra os
nazistas foi um dos maiores da história mundial da resistência. Esse parágrafo
é subliminar e cabe a quem lê também entender as entrelinhas.
Pois bem, colocar-se a favor
da sobrevivência do povo palestino – ainda que a tese de 2 Estados possa estar
bem abalada –, contra o genocídio de dois milhões de pessoas e que se prenuncia,
sobretudo, se o Exército de Israel promover uma invasão de Gaza por terra, ou
ser contra a morte lenta porque não há água potável, remédios, alimentos, neste
apartheid hostil a qualquer princípio de humanidade, em Gaza, não faz ninguém
ser defensor do Hamas.
O Hamas é um grupo terrorista
e suas últimas ações não desmentem sua atual nomenclatura criminal. Não importa
se os EUA ou Israel criaram o Hamas, não é isso que está em questão. Mas, sim,
fugirmos da lógica binária do bem e do mal, açoitada que é pela inverdade que
domina toda narrativa maniqueísta, para entendermos que o Hamas não é o
sinônimo da Palestina. Assim como torcer ou não para o Flamengo não define o
que é ser brasileiro ou brasileira.
Particularmente, entendo que o
Hamas deu vazão (um pretexto, uma justificativa) para o Estado de Israel
invocar a Razão de Estado – inclusive ou especialmente porque na primeira
ofensiva do Hamas houve perda de território, de soberania. É como se estivessem
invocando Hobbes (e não só Bodin, que se detinha com o Direito Natural/Moral)[2], a fim de acionar o Estado
com todas as forças de exceção disponíveis (força extrema) frente ao ataque
externo. Essa é a leitura promovida pelo Estado, colocando-se como máquina de
guerra contra os insurgentes reais ou imaginários que foram guetualizados, por
ele mesmo, o Estado.
Porém, no esforço de
confundir, para dividir e criminalizar, uma versão do bolsonarismo (leia-se
Fascismo Nacional) tenta reduzir o povo palestino ao Hamas. Desse modo, propõe
que professores e professoras que defendam a Palestina (na cabeça deles está
escrito Hamas) sejam criminalizados no Brasil[3].
É verdade que o maniqueísmo é
tão fracassado que o famoso 0 e 1 (zero e um) nem serve mais à informática dos computadores
quânticos. Porque não são mais binários. Entretanto, ainda sobrevive na
inconstância ética do Legislativo brasileiro
A nossa realidade, infelizmente,
ainda nos remete ao Homem das Cavernas, aquele que se protege da luz com a
escuridão das trevas prolongadas pela ignorância. Aliás, para esses indivíduos,
cabe lembrar que sentir ódio é uma reação perfeitamente humana, mas, o que eles
fazem é incitação ao crime de ódio social. O que eles promulgam, outras listas
de professores, é o crime em si.
Por essas e por muitas outras,
de fato, não quero bem a nenhum(a) fascista – e isso não me faz criminoso. Pelo
contrário, manter-me na máxima distância do Fascismo é o que me afasta da
criminologia social.
[1] É um tipo de Napalm sofisticado,
amplamente empregado pelos EUA no Vietnã. O fósforo branco não para de queimar
até que consuma toda a carne humana.
[2] Para o filósofo Thomas
Hobbes, ou o poder é supremo ou é impotente, simplesmente porque não há, e não
pode haver, limites à própria soberania. A soberania é infatigável porque o
homem egoísta deve ser forçado a viver em sociedade, e a vida social deve-se
totalmente à soberania estatal. Daí que, em nome da Razão de Estado – a
justificativa para o Estado existir – toda força será empregada, sem reservas
de moralidade. É exatamente assim que age o Estado de Israel, invocando uma
ameaça de “estado de natureza”. Essa é a sua justificativa ou Razão de Estado.
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