Sábado, 5 de novembro de 2022 - 11h12
Hoje, por volta das 10hs da manhã, uma
moça (muito querida) me pediu para definir Necrofascismo na linguagem do
botequim. Diante da minha incapacidade, lembrei de outra moça, leitora anônima
que nem conheço, ao me dizer que Necrofascismo na linguagem do botequim é mais
ou menos “colocar um monstro no poder”. Outra pessoa (que também não sei o
nome, um transeunte que ouviu a conversa) me disse que é equivalente aos
bêbados, arrastados pelos botecos assombrados desse país, sentados na cadeira
do poder. Eu nem discuti.
No
boteco, portanto, continuou a leitora anônima, o Necrofascismo seria descrito
como o forte ódio dirigido às mulheres (aos berros, o governante tenta destruir
as mulheres como um todo: isto se chama misoginia). Na linha de um movimento internacional
autointitulado de “celibatários involuntários” (porque as mulheres simplesmente
os desprezam), condoído por “machos eunucados”, o digníssimo disse a quatro
ventos que a sua filha foi o resultado de uma “fraquejada”. O machismo é total,
o desprezo às mulheres não tem limite: na linha de “você não merece nem ser
estuprada”.
O mesmo mandatário
reúne as piores milícias (assassinos) em torno do seu gabinete, defende a luta
armada e o ódio social (“morte aos petralhas” disse ele); esse indivíduo é
aquele que zombou da COVID-19, zombou dos que morriam sem oxigênio para
respirar (fez “ensaios” de falta de ar, na TV e em Manaus); ainda empossou
ministros e secretários que faziam (fazem) saudações, apologias nazistas, em
rede nacional. Isso é sociopatia, disse-me a moça.
O mesmo abominável do
poder vociferou que “gostaria de comer um indígena morto” (isso é canibalismo e necrofilia), falou que “pintou um clima” (crime) quando viu
meninas de 13, 14 anos: venezuelanas refugiadas no Brasil (o nome disso é pedofilia). Como se não bastasse, ainda se glamourizou (em
vídeos) tentando “naturalizar”, ou seja, dizer que é normal “transar com
animais” (o crime é de zoofilia).
Mas
acabou o inventário? Não, nem de longe – bradou a moça, pois, além de se
associar a dezenas de sicários e milicianos (medalhar), é preciso nunca
esquecer que demorou meses para comprar a vacina – que teria evitado a morte de
centenas de milhares de pessoas. Junto a isso, o inominável construiu uma
“realidade paralela” atacando por quatro anos a Democracia, a civilidade,
mostrou total desprezo pela vida humana, riu quando subjugou os mais pobres,
alimentou uma série de seitas que amam mais as armas de fogo do que qualquer
tipo de Deus.
Numa
síntese de Sociologia de Botequim, disse-me a moça, Necrofascismo é isso e
muito mais: esse (des)governo é a pior face do Mal Público que se aninhou no
“coração de seus adeptos e seguidores”. Nosso Necrofascismo anima-se com a
morte dolorida (por fome), promove a morte programada, retira dinheiro das
Políticas Públicas (diz que no Brasil de 30 milhões de famintos não há fome).
Também
o Necrofascismo capturou o Estado, como se fosse seu governo. Porém, alertou a
leitora anônima, explicar no boteco que isso é prova do Fascismo Institucional
exige um pouco mais de quem tentar essa missão. Mesmo que o exemplo do “golpe
eleitoral” do domingo da eleição (30.10.2022) seja incontestável, não só pela
prevaricação explícita da Polícia Rodoviária Federal (PRF), embarrigando em
blitz o direito de votar dos mais pobres – ainda é preciso lembrar que essa
mesma PRF assassinou Genivaldo de Jesus Santos na câmara de gás (asfixiado) de
uma viatura. É a mesma PRF – coligada com algumas PMs, em alguns Estados – que nada
fez para desobstruir as principais rodovias do país, no último evento de
tentativa de golpe (o Capitólio Tupiniquim, na sequência da cartilha de Trump,
nos EUA). Assim me contou a moça.
No
boteco, você ainda pode dizer que, sob o Necrofascismo, “ -- Jesus foi morto
pelo Messias!” – esse foi o arremate da jovem leitora. Por fim, alertou-me, não
diga que essas alucinações foram recomendadas por um astrólogo (o mitomaníaco
que deixou 40 milhões de brasileiros vendo estrelas), porque os caras podem ter
curiosidade em ler – você viu que nem citei o nome desse desencarnado.
Juridicamente, para finalizar, disse-me a leitora, o Necrofascismo é o ápice da
negação do Objeto Positivo da CF88, em constante e sistemática à violação dos
Direitos Humanos Fundamentais.
Tecnicamente, fechando o ciclo, a moça (leitora anônima) me
assegurou que o julgamento de pessoas assim (psicopatas no comando da máquina
do poder) deveria se dar no âmbito do Tribunal Penal Internacional – por crimes
cometidos contra a Humanidade. O exemplo histórico, mais notável, é o Tribunal
de Nuremberg, enforcando nazistas do alto comando. A questão a saber é se a
“longa manus” de Haia nos alcançaria. Ao que rendi, é obvio, pois ainda
sacramentou a leitura dizendo que:
Teoricamente, tecnicamente, ainda podemos pensar o conceito de
Necrofascismo – ao menos inicialmente – como uma arquitetura, uma construção – mesmo
que não seja propriamente um Projeto Político – em que se articulam inúmeras
teias (significativas) do protofascismo, como a negação da Ciência, a liturgia de uma novilíngua
(fala-se por meio de entidades nada divinas), do Fascismo
Clássico (articulação de milícias no
poder e nas ruas), da Necropolítica (o governante lamenta não termos dizimado as
populações indígenas) das Guerras
Híbridas (o gabinete do ódio, a
articulação da Lava Jato, o Golpe de 2016) e do Fascismo
Nacional: o vigor com que ressurgiu o
Capitão do Mato é em si uma potência do escravismo e da ausência de Iluminismo
entre nós (em 2022). Lembrando-se que isto é um brevíssimo sumário.
Ajudei? Ou melhor,
ajudamos, a moça e eu?
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