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Vinício Carrilho

O QUE É NECROFASCISMO - Sociologia do Boteco


O QUE É NECROFASCISMO - Sociologia do Boteco - Gente de Opinião

Hoje, por volta das 10hs da manhã, uma moça (muito querida) me pediu para definir Necrofascismo na linguagem do botequim. Diante da minha incapacidade, lembrei de outra moça, leitora anônima que nem conheço, ao me dizer que Necrofascismo na linguagem do botequim é mais ou menos “colocar um monstro no poder”. Outra pessoa (que também não sei o nome, um transeunte que ouviu a conversa) me disse que é equivalente aos bêbados, arrastados pelos botecos assombrados desse país, sentados na cadeira do poder. Eu nem discuti.

         No boteco, portanto, continuou a leitora anônima, o Necrofascismo seria descrito como o forte ódio dirigido às mulheres (aos berros, o governante tenta destruir as mulheres como um todo: isto se chama misoginia). Na linha de um movimento internacional autointitulado de “celibatários involuntários” (porque as mulheres simplesmente os desprezam), condoído por “machos eunucados”, o digníssimo disse a quatro ventos que a sua filha foi o resultado de uma “fraquejada”. O machismo é total, o desprezo às mulheres não tem limite: na linha de “você não merece nem ser estuprada”.

O mesmo mandatário reúne as piores milícias (assassinos) em torno do seu gabinete, defende a luta armada e o ódio social (“morte aos petralhas” disse ele); esse indivíduo é aquele que zombou da COVID-19, zombou dos que morriam sem oxigênio para respirar (fez “ensaios” de falta de ar, na TV e em Manaus); ainda empossou ministros e secretários que faziam (fazem) saudações, apologias nazistas, em rede nacional. Isso é sociopatia, disse-me a moça.

O mesmo abominável do poder vociferou que “gostaria de comer um indígena morto” (isso é canibalismo e necrofilia), falou que “pintou um clima” (crime) quando viu meninas de 13, 14 anos: venezuelanas refugiadas no Brasil (o nome disso é pedofilia). Como se não bastasse, ainda se glamourizou (em vídeos) tentando “naturalizar”, ou seja, dizer que é normal “transar com animais” (o crime é de zoofilia).

         Mas acabou o inventário? Não, nem de longe – bradou a moça, pois, além de se associar a dezenas de sicários e milicianos (medalhar), é preciso nunca esquecer que demorou meses para comprar a vacina – que teria evitado a morte de centenas de milhares de pessoas. Junto a isso, o inominável construiu uma “realidade paralela” atacando por quatro anos a Democracia, a civilidade, mostrou total desprezo pela vida humana, riu quando subjugou os mais pobres, alimentou uma série de seitas que amam mais as armas de fogo do que qualquer tipo de Deus.

         Numa síntese de Sociologia de Botequim, disse-me a moça, Necrofascismo é isso e muito mais: esse (des)governo é a pior face do Mal Público que se aninhou no “coração de seus adeptos e seguidores”. Nosso Necrofascismo anima-se com a morte dolorida (por fome), promove a morte programada, retira dinheiro das Políticas Públicas (diz que no Brasil de 30 milhões de famintos não há fome).

         Também o Necrofascismo capturou o Estado, como se fosse seu governo. Porém, alertou a leitora anônima, explicar no boteco que isso é prova do Fascismo Institucional exige um pouco mais de quem tentar essa missão. Mesmo que o exemplo do “golpe eleitoral” do domingo da eleição (30.10.2022) seja incontestável, não só pela prevaricação explícita da Polícia Rodoviária Federal (PRF), embarrigando em blitz o direito de votar dos mais pobres – ainda é preciso lembrar que essa mesma PRF assassinou Genivaldo de Jesus Santos na câmara de gás (asfixiado) de uma viatura. É a mesma PRF – coligada com algumas PMs, em alguns Estados – que nada fez para desobstruir as principais rodovias do país, no último evento de tentativa de golpe (o Capitólio Tupiniquim, na sequência da cartilha de Trump, nos EUA). Assim me contou a moça.

         No boteco, você ainda pode dizer que, sob o Necrofascismo, “ -- Jesus foi morto pelo Messias!” – esse foi o arremate da jovem leitora. Por fim, alertou-me, não diga que essas alucinações foram recomendadas por um astrólogo (o mitomaníaco que deixou 40 milhões de brasileiros vendo estrelas), porque os caras podem ter curiosidade em ler – você viu que nem citei o nome desse desencarnado.

Juridicamente, para finalizar, disse-me a leitora, o Necrofascismo é o ápice da negação do Objeto Positivo da CF88, em constante e sistemática à violação dos Direitos Humanos Fundamentais.

Tecnicamente, fechando o ciclo, a moça (leitora anônima) me assegurou que o julgamento de pessoas assim (psicopatas no comando da máquina do poder) deveria se dar no âmbito do Tribunal Penal Internacional – por crimes cometidos contra a Humanidade. O exemplo histórico, mais notável, é o Tribunal de Nuremberg, enforcando nazistas do alto comando. A questão a saber é se a “longa manus” de Haia nos alcançaria. Ao que rendi, é obvio, pois ainda sacramentou a leitura dizendo que:

Teoricamente, tecnicamente, ainda podemos pensar o conceito de Necrofascismo – ao menos inicialmente – como uma arquitetura, uma construção – mesmo que não seja propriamente um Projeto Político – em que se articulam inúmeras teias (significativas) do protofascismo, como a negação da Ciência, a liturgia de uma novilíngua (fala-se por meio de entidades nada divinas), do Fascismo Clássico (articulação de milícias no poder e nas ruas), da Necropolítica (o governante lamenta não termos dizimado as populações indígenas) das Guerras Híbridas (o gabinete do ódio, a articulação da Lava Jato, o Golpe de 2016) e do Fascismo Nacional: o vigor com que ressurgiu o Capitão do Mato é em si uma potência do escravismo e da ausência de Iluminismo entre nós (em 2022). Lembrando-se que isto é um brevíssimo sumário.

Ajudei? Ou melhor, ajudamos, a moça e eu?

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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