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Vinício Carrilho

Racismo Incalculável


Vinício Carrilho Martinez – Cientista Social - Gente de Opinião
Vinício Carrilho Martinez – Cientista Social

SÚMULA: Na luta contra o racismo, não é coincidência – nem mera semelhança – o fato de que a luta antirracista também deve ser uma Educação pautada (estimulante) para meninos e meninas brancas.

Considerando-se o racismo estrutural, incalculável na dor afligida, incomensurável na potência de desumanização e de destruição social.

Considerando-se o embotamento, o endurecimento, o embrutecimento e o “emburrecimento” decorrentes.

Considerando-se que seja obrigatório debater o racismo incansavelmente, assim como o Fascismo que se retroalimenta da dessocialização no Brasil.

Consideramos formular questões mais duras, com a clareza que merecem, como se vê logo abaixo:

• Todo nazista é racista!

• Todo racista é nazista?

Assim, propomos pensar o racismo – ainda que desgastante, embrutecedor, porque traz as piores histórias, as maiores tragédias e de consequências incalculáveis.  

Há mais três fatores a se conseguir inicialmente:

• O embrutecimento leva a fortes e incisivas resistências.

• O endurecimento da realidade leva ao endurecimento das posições e relações.  

• O embrutecimento leva a escolhas sem volta.  

• O emburrecimento decorre da negação do próprio racismo.

Desse modo, observamos que o racismo propaga ódio social e violência institucional.

Há um crescente armamentismo social: literal e simbólico.

Há muita munição nas falas e nas ações.  

Vivemos um tipo agudo de luta de classes, de "luta de raças", como um racismo que nega a sobrevivência de quem é considerado como “inferior”.  

Esse racismo é tão obscuro e recalcitrante que nenhuma palavra seria mais racista (menos racionalmente adequado ao Humano) do que o próprio termo "racismo".

Contudo, ninguém saberá o que é o racismo se não sofrer no imaginário ou na carne viva desse Mal agudo.  

Só quem pode externar o "lugar dessa fala" é quem tem o racismo tingido na pele, todos os dias, por outros seres dotados de supremacia.  

Quem pode descrever a intolerância, a extrema desigualdade, o preconceito, melhor do que a vítima?

O algoz logo esquece ou simplesmente nega.

Mas, todos sabemos aonde isso vai dar.

O racismo dói no corpo e no espírito de quem sofre; destrói vidas e por isso, indiscutivelmente, "as vidas negras importam".

Importam para os negros, brancos e não-brancos. As vidas negras importam para a Humanidade.  

E aqui temos outra certeza: a luta contra o racismo é semelhante ao combate ao Fascismo, deve abranger brancos e não-brancos, mulheres e homens, crianças, jovens e adultos.  

Se o Fascismo gerou o Nazismo, um dos seus tipos, e se o Nazismo foi sobretudo racista, pode-se ter uma primeira conclusão: o Fascismo é altamente racista, com requintes de supremacia branca.  

Porém, o Nazismo alemão preconizou o extermínio racial de uma cultura ("raça") na chamada Solução Final.  

Essa ideia, articulada com a exclusão, subjugação, eliminação, é o que gera outra sintonia – outra conclusão parcial: todo nazista é racista (e fascista).

A "questão judaica", assim colocada, leva-nos a pensar se todo racista não guarda, esconde em si, um nazista também!?

As teses supremacistas não estão evidenciadas, com as premissas e as circunstâncias racistas?

Ou será que os racistas, convictos do escravismo (às claras ou às escuras), serão mais benevolentes se não lhes opusermos um freio eficaz, como ocorreu em Nuremberg?

Então, todo racista não é nazista, em sua ânsia e forma de ser fascista?

Olhando-se desse modo, o "racismo estrutural" é ainda mais complexo e enraizado do que supomos.  

Afinal, no Brasil há um tipo de moto-contínuo entre o Fascismo atual e o racismo escravista do passado-presente: está nas sombras e catacumbas da história, mas pulula e procria como ratos, ao menor descuido.  

E para piorar há um mito, um embuste, de que não temos racismo.  

Ora, se não houvesse racismo, por que razão a Constituição Federal de 1988 o definiria como crime inafiançável e imprescritível?

Se não houvesse racismo porque tanta gente lutaria contra, especialmente contra os que negam o racismo ativo na história social desse país?

Esse mito, por exemplo, leva os racistas a desacreditarem de outro racista que, por ventura, assuma-se como um indivíduo racista – mas, “arrependido”.  

Por muitas razões, algumas até insondáveis, os piores racistas não se admitem racistas, assim como os fascistas não aceitem o apelido.

Com o mentiroso contumaz, ou traidor, não será diferente. Será igual, na mentira contada mil vezes até se tornar realidade.  

Também não será coincidência que esse instrumental (mentiroso profissional) tenha sido umas das piores invenções, armas, do III Reich.

Além do mito da supremacia ariana, Goebbels incumbiu-se da mentira nazista oficial.  

Esta associação entre a estratégia da mentira oficial (negação do antissemitismo) com as piores práticas racistas foi um dos eixos do nazifascismo.

E, reveladoramente, é um dos traços mais agudos do racismo nacional.  

Então, será coincidência que todo racista seja nazista?

Afirmamos, em conclusão, que meninas e meninos devem ser pautados pela luta antirracista porque essa é uma luta que deve ser iniciada na escola – quando não, desde o berço –, o mais cedo possível, com o incremento de metodologias em que vigore o respeito, a diversidade, as práticas sociais saudáveis e onde, igualmente, seja ensinado que não se tolera a “intolerância negativa”: a afirmação da desigualdade, do ódio social, da discriminação injusta e aniquiladora do Outro, de todas as outras – e que seja uma educação inclusiva de todos os pobres e negros, a fim de que os brancos e os não-brancos respirem o mesmo ar com civilidade e empatia.

Propomos, pragmaticamente, uma Cultura de Direitos Humanos, que se propague, enfaticamente, por meio da Educação em Direitos Humanos.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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