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Vinício Carrilho

Toda tese é uma antítese


 Toda tese é uma antítese - Gente de Opinião

A ciência que não muda só se repete, na mesmice, na cópia, no óbvio e no mercadológico – e parece inadequado, por definição, falar-se em ciência neste caso (sequer de inovação). A ciência que não muda, também não emancipa – isso também é óbvio. A ciência emancipada é equivalente da educação transformada, transformadora (emancipadora). A educação que não muda é empoeirada – é sectária, mítica, redentora. A educação emancipadora é sedutora, humanizada: é antissemita, antissionista, antirracista, anticapitalista.

É como se houvesse, e estivesse em funcionamento, um “saber militante” – mas, tratando-se de um movimento de transformação que advém da própria lógica na construção do argumento (como “lógica societal”), do conhecimento que se modela de alguma forma em uma “epistemologia política”. Portanto, não se trata, neste caso, de emancipação política, cultural, institucional nos moldes tradicionais como entendemos a “militância” social, política, partidária.

Equivale a dizer que o conhecimento construído a partir desta conexão com o real, com as forças e com as formações propriamente sociais, históricas, econômicas (sistêmicas) se transforma num caminho, em um empuxo diretivo de outra racionalidade “agora colocada a postos da descompressão” (portanto, um saber militante, e que milita pela ciência com consciência, e que é colaborativo de uma epistemologia política capaz de transformar a sociedade, a realidade).

O “conhecimento colaborativo” seria ele mesmo visionário e revolucionário. Esse saber militante, essa outra epistemologia política, atuaria como um saber que denuncia (“o que é e como está”) e pronuncia o dever-ser: um saber que se sabe ter consciência do “que fazer” e do “como fazer”. isto, evidentemente, é uma parte constante e emergente do “fazer-se política”. De modo mais explícito, o saber militante assim se apresenta como recurso mental com profundos reflexos sociais, e que são instigantes da memória social e da transformação política. O saber militante é político (epistemologia política) e teleológico – do presente ao futuro, e com domínio da história (denunciando-se, ainda, o revisionismo histórico).

          Teoricamente, pelo sentido imediato da expressão, o conhecimento deve nos levar a conhecer, compreender, esclarecer algo e, portanto, não pode obscurecer. Porém, também é claro que todo conhecimento contém e expressa alguma conotação política, seja para guiar para aqui ou para ali e, assim, não é neutro em nenhum sentido. De todo modo, o saber militante é político na forma de esclarecer e guiar as ações, nortear a reflexão acerca daquilo que se está prospectando ou de quem e como se avalia – tem uma finalidade política que se “esclarece” de imediato, isto é, o sentido está contido nas premissas, nas razões de ser, nos marcos que se estabeleceu para dar prosseguimento às investigações, avaliações, ações daí decorrentes.

É como se dissesse que a política (ou o potencial político) está na própria definição, na escolha, no objeto a ser analisado: o recorte é político, pois carrega a visão de mundo, o entendimento anterior ao que se propôs avaliar, interpretar. Pela conclusão que é previsível, o objetivo do conhecimento é o desvendamento, o desvelamento e aí está sua força política, na oferta de outro entendimento – e que é capaz da transformação radical (na raiz dos fatos), uma vez que conhecendo “como as coisas são” e “o que se quer”, sabe-se com mais clareza “o que dever ser” e “o que fazer”.

Se pensarmos que nenhum conhecimento terá real validação humanitária, se estiver apartada da dignidade humana (por exemplo, exclusivamente, a serviço do capital) surge natural a relação da ciência com os direitos humanos. Este seria um objeto validável, a não ser que se separe a humanidade de sua própria ciência – e esse é o repertório ético, digamos assim, do saber militante que se constitui de um conhecimento político, isto é, uma epistemologia política alinhada aos objetivos da descompressão social.

Levando-se em consideração a negação, a obstrução, a opressão, a tese aderente à dignidade humana é uma antítese, é a negação da negação, e, desse modo, é uma antítese ao “atual estado de coisas”, ao status da negação. Como vemos, a tese é uma afirmação da mudança e uma negação do estágio de negação que se apresenta.

O que nos conduz ao significado mais amplo de que, uma tese – constituída em dignidade humana – só pode ser uma antítese (e de novo a essência política do conhecimento se avoluma e esclarece o “fazer-se política”. Então, qual é o pano de fundo, a cosmovisão que se desprende do conhecimento político[1]? É o “conhecimento” que performa toda tese (com vistas à dignidade humana) como uma poderosa força de transformação social (antítese: ethos colaborativo para a transformação).



[1] Há redundância no emprego do termo “conhecimento político” – se todo conhecimento é político, por essencial –, mas, empregamos como forma de reafirmação da “tese” aqui esboçada, de que a tese é antítese. 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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