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Vinício Carrilho

Trilhões - essa é a fortuna da Sinistralidade societal


Trilhões - essa é a fortuna da Sinistralidade societal - Gente de Opinião

Por que alguém teria (tem) o direito de se tornar trilionário?

Falamos aqui da possibilidade de Elon Musk (o dono do famoso X, banido do Brasil pelo STF) em se tornar o primeiro trilionário deste planeta.

Então, por que, para que alguém possa se tornar o primeiro trilionário do mundo[1] – em fortuna avaliada em dólar –, milhões, bilhões de outras pessoas “devem” viver em absoluta miséria, com fome aguda, dor – por falta de equipamentos médicos?

Será que esse indivíduo tem (ou terá) alguma consideração pelo sujeito, pelo ser social – ou os lucros e os meios de aquisição dessa fortuna estratosférica estão em primeiro lugar?

Será que o trilionário de amanhã (Elon Musk) está ou já esteve empenhado na defesa da democracia, do combate às piores formas de desigualdade social, da emancipação do humano?

Será que é um bilionário (trilionário amanhã) empenhado na Ética social, na segurança da cidadania e da soberania dos povos – ou seu mega negócio tem “assuntos mais importantes” na Lua e em Marte?

Qual é o nível de “informação” que esse indivíduo produz, junto aos seus pares?

Na prática, construída por esse futuro trilionário (o mesmo que diz: “darei golpe quando eu quiser”) e por seus pares milionários, em concomitância à miséria humana que colecionam – jamais poderão gastar nem 10% de suas mega fortunas –, na condição efetiva e real, esses indivíduos (altamente dessocializados) provocam e mantém um fenômeno que chamaremos de “Sinistralidade societal”.

Por falta de um termo mais adequado, e pensando na necessidade de outro conceito sociológico que abrigue essas “loucuras sinistras e sistêmicas”, vamos tratar como “Sinistralidade societal”.

Vale uma explicação inicial: sinistralidade vem de sinistro, como um tipo de acidente grave (a exemplo dos seguros de automóveis e residenciais), porém, também nos remete a algo não apenas terrível, fatal (como o acidente), ou seja, tratamos de algo sombrio, bizarro, altamente destrutivo, apavorante, algo como o pior pesadelo em vida.

Além disso, projetemos essa condição de sinistralidade para o conjunto geral não só de uma sociedade ou de algumas sociedades (países mais pobres, a África, a América Latina, boa parte do Oriente Médio), mas já incutindo efeitos muito sinistros para a Humanidade.

Portanto, um poder ou capacidade de impor sinistralidades sobre as relações sociais, com indiferença ao poder soberano, à própria soberania popular e estatal, capaz de desfazer atividades, setores, as próprias bases econômicas e de produção, e atuante a fim de que a cultura daí resultante lhes seja dócil, controlada, obediente.

A Sinistralidade societal, como se vê, não é somente social, é política, econômica, cultural, ideológica. Por meio de sua supremacia, uma imposição sem nenhuma contestação, não há qualquer pedra na Terra ou na Lua que não possa ser remexida, removida (assim como as pessoas e os Estados), sempre ao inconteste bel prazer dos bilionários e futuros trilionários. Sim, porque uma vez que seja rompida essa marca dos bilhões, quem ficou para trás irá querer o mesmo: “O homem mais rico do mundo” deve guardar sua virilidade no cofre do sonho aberrante.

Dizem que a ganância pela posse e propriedade (pelo poder também) tem um efeito similar à cocaína: esse “lucrar e enriquecer cada vez mais” (“o primeiro trilionário) atuaria na mesma estrutura cerebral em que a cocaína age. Talvez realmente seja verdade, especialmente quando observamos que essa é a droga preferida pela maioria dos operadores de mercado fazendo trade, especulando com as finanças dos outros.

Não causa assombro, neste caso, que milionários (ou trilionários) sejam sempre associados ao uso de drogas com forte poder alucinógeno. Em parte, pelo conjunto da obra da Sinistralidade societal, esse tipo de dependência química se associaria aos “sonhos”, desejos, impulsos, compulsões por “deter tudo”, ser dono de tudo. Como se pudessem ser donos da realidade.

Não bastaria, assim, serem donos de toda a riqueza do mundo, das pessoas, de suas produções, pois, nessa ânsia, loucura, ganância total, querem se apossar da própria realidade. Como se quisessem construir outro mundo, à sua imagem e semelhança, igual aos seus caprichos e fantasias.

É óbvio que esse desvario em se apossar da realidade jamais irá ocorrer, pois seria equivalente a se tornarem donos da lei da gravidade, como se fossem capazes de inverter a noite pelo dia. Porém, como não conseguem isso, vão tornando a vida de milhões, bilhões de pessoas cada vez mais obscuras (a mente deles é obscura) e a realidade em que vivemos em algo muito sinistro.

Como não mandam na realidade, mas, com total (fatal) manejo dos recursos de poderio incontrolável, tornam nossa realidade desconexa dos valores humanos, sociais, ambientais. Como são absolutamente incapazes de domar a lei da gravidade, tornam nossa realidade uma distopia das mais graves que a Humanidade já conheceu.

Não conseguem dominar a realidade (as condições objetivas da Humanidade) e nem, por completo, nossa subjetividade, porém, de tanto tentarem, destruindo, atacando, todos os sinais e suportes de vida, acabam por nos relegar isso que chamamos de Sinistralidade societal.

Em sua loucura individual e social, os bilionários e trilionários (absolutistas) dissolvem, com sua Sinistralidade societal, as condições objetivas e as subjetividades humanas, tanto quanto destroem as condições ambientais de suporte da vida – não só humana – no planeta.

Em tempo: é muito provável que essa Sinistralidade societal não seja uma invenção, uma moda pós-moderna. É bem provável que tenha a idade do capital – que é anterior ao capitalismo, bem anterior aos irmãos de José quando o venderam como escravo. No entanto, nunca o capital teve o poder de destruir toda a vida no planeta. Agora tem. E outro aspecto que diferencia completamente nossos “tempos sombrios” é a inversão completa que demos ao significado de fortuna: na renascença europeia, a Fortuna era entoada como “valor contra o furor”, a ira, o poder de fazer o mal. Isso está assim nos versos de Petrarca e nas máximas de Maquiavel (que nunca foi maquiavélico como Elon Musk e seus pares). Hoje, a fortuna é a extrema riqueza de meia dúzia de indivíduos capazes de destruir o planeta inteiro para concretizarem suas perversas ambições.

Enfim, podemos dizer que a Sinistralidade societal é letal, devastadora, sombria, sinistra (uma aberração imoral, antissocial), macabra (anti-humana), bizarra (alucinógena), porquanto seja uma alucinação com o poder absolutista.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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