Sábado, 28 de setembro de 2024 - 16h13
Falamos
e fazemos política todos os dias, toda hora – até alguns sonhos são sobre
política. O problema é que não nos damos conta disso. Sonhar com riqueza
acordado pode ser alucinação – ainda mais se se é muito pobre. Porém, sonhar
com riqueza, mas dormindo, pode revelar um inconsciente desejo de mudar a vida.
Outro fato é que ambos os sonhos (dormindo e acordado) são profundamente
ideológicos.
Também
a ideologia é política ou expressa orientações políticas e essas, por sua vez,
modificam, conduzem as ações de muitas pessoas que, a priori, nada tem a ver
com os propagadores ou formuladores dessa ou daquela ideologia. Por definição,
ideologia é uma “visão curta”, uma névoa, uma distorção da realidade – também
pode ser uma mentira bem contada, por mil vezes.
Então,
mesmo sonhando, faz-se política dormindo ou acordado. Sonhar com a política,
essa que transborda a paciência em anos eleitorais, também revela muita coisa.
Aliás, a revelação sobre fatos, circunstâncias, elementos, situações, é a
política agindo contra a ideologia – tanto quanto a política exercida tanto
pode revelar (descobrir) quanto ocultar e, neste caso, a política viraria
insumo ideológico.
Muitas
pessoas sonham com a política enquanto dormem, porque alguma coisa no cenário –
naquele dia ou nos anteriores – trouxe algo relevante, marcante.
Particularmente, nunca tive esse tipo de pesadelo, como tampouco sonhei em ser
“político profissional”. Já tive funções eletivas, contudo, nunca investi numa
“carreira política”. Se tivesse esse nutriente, teria sonhado acordado com a
política.
Pensei
nessa história, assim como poderia ter pensado em outras – incluindo a história
política e a história da política: próximas entre si, mas não idênticas;
portanto, diferentes entre si –, porque achei um livro depois de um mês de
procura aqui na minha biblioteca.
É
um livro muito antigo, comprado em sebo (como a imensa maioria dos que tenho)
faz décadas e que tem uma história curiosa, comigo. Já li e resenhei, utilizei,
em momentos e situações bem diferentes. Algumas vezes incluía a necessidade de
uma abordagem bem básica para aulas de graduação.
Minha
história com esse livro é antiga; mas, me lembrei de um fato mais juvenil. Com
uns 20, 22 anos, estávamos na Capital, São Paulo, eu e outros jovens da mesma
idade. A grana sempre foi curta, além da visão de mundo (que não é ideologia)
nos levar aos sebos, valorizando os livros recomprados em alternância da posse.
Pois
bem, num belo dia fomos a um dos sebos. Antigamente, eram centenas espalhados
pela capital, hoje são raros. E lá cada um de nós tomou seu caminho no meio das
estantes, das áreas e dos temas de maior interesse. Não compramos muita coisa,
porque a grana ainda deveria render algum passeio no mesmo dia, porém, cada um
comprou ao menos um livro usado.
O
meu, naquele dia, e que achei hoje, chama-se A Ciência Política, de Marcel
Prelot, publicado pela longínqua Difusão Européia do Livro em 1964 (o nome da
editora tinha acento). Devo ter comprado por volta de 1986 – quando já lia um
pouco melhor assuntos mais complexos.
Depois
dos passeios, voltamos para casa e, não sei porque – provavelmente por sugestão
de um dos tios –, fizemos uma aposta. Nem todas as apostas juvenis daqueles
tempos eram saudáveis, pois havia um senso de competição em tudo e isso era
horrível, pensando hoje.
Naquele
dia, ao contrário da maioria das vezes, a aposta foi legal: apostamos quem
conseguiria ler seu livro inteiro (com compreensão mínima) no menor tempo
possível. Como os livros não eram do mesmo formato, do mesmo tamanho, fizemos
uma estimativa para lermos mais ou menos a mesma quantidade de textos.
Na
verdade, a aposta era para ver quem lia seu livro (estimando-se o tamanho dos
textos) num prazo não superior a 10 horas. Por isso a aposta foi honesta, uma
vez que havia a possibilidade de muitos ganhadores. Esse meu livro tem 117
páginas e foi lido em 10 horas.
Não
me recordo exatamente, contudo, penso que todos nós conseguimos. No grupo havia
meninas, mas eram crianças, e então não participaram do mesmo modo, ainda que
tenham participado de alguma maneira da instigação às leituras.
É
claro que não me lembrava de todo o conteúdo do livro, após as 10 horas de
leitura. Me lembrava do suficiente, assim como os demais, para checarmos uns
aos outros a fim de não haver nenhum engodo.
A
competição e a leitura em si foram extremamente politizadas. No meu caso mais
ainda, pois acabara de ler cem páginas sobre a Ciência Política (e a política,
propriamente dita). Com os demais não foi diferente. E, no conjunto, penso
hoje, inventamos ali, meio sem querer, sem premeditação, sem regras fixas, uma
competição justa, premiadora de todos que lessem o seu bocado.
O
objetivo não era derrotar ninguém, e ninguém foi derrotado, e é isso o que me
faz pensar agora em outro tipo de regramento: pensar em situações nas quais as
regras da vida pública (da política que nos organiza) tenham esse propósito,
esse pressuposto: premiar a todas e todos que cumprissem suas metas,
alcançassem seus objetivos, realizassem suas missões – sem ter derrotado
ninguém.
A
primeira regra seria simples: “cumpra seu papel, não derrote ninguém, para ser
premiado”.
Em
pouco tempo seria um Direito Humano.
A
primeira missão que travaria hoje, por essas “novas regras”, viria enquanto
educação pública que estimulasse fortemente as crianças e os jovens a lerem e
estudarem “o que é política”, como suas vidas, nossas vidas, são formatadas por
regras que desconhecemos, feitas por pessoas que muitas vezes não têm regra
nenhuma, nada de ética, nada de responsabilidade, nada de bom a oferecer.
Com
este exemplo e o desdobramento que dei à história – a interpretação política de
hoje – também é fácil perceber que podemos “sonhar acordados” com a política.
Afinal, toda vez que você pensar num mundo melhor, com pessoas melhores,
dormindo ou acordado, você estará fazendo política. Esse sonho será intenção e
ação, no futuro próximo ou na realidade imediata.
Penso
que fizemos política naquele dia de 10 horas de leitura, assim como penso que
estou fazendo agora, ao trazer uma história e um sonho, uma Utopia, por tempos
melhores, por regras mais honestas e pessoas mais justas.
Essa
história tem um pouco menos 40 anos. E me diz que a memória é altamente
política, porque o que lembramos, como lembramos, ou já esquecemos, diz muito
sobre cada um de nós – no passado e no presente.
É
legal sonhar com isso e mais ainda quando posso compartilhar com você essa
minha “sensação política”.
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