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CACOAL: a pandemia, o coronavírus e a educação...


CACOAL: a pandemia, o coronavírus e a educação... - Gente de Opinião

A população de nosso querido estado de Rondônia tem vivido momentos realmente muito difíceis, nos últimos vinte ou trinta dias, com o surgimento desta complexa doença provocada pelo coronavírus e também pelas consequências que essa calamidade toda traz aos estados e municípios. Algumas dessas consequências são de natureza secundária e não possuem relação direta com a saúde, mas afetam diretamente a população, em virtude das circunstâncias. Entre essas situações, está o setor de educação e a falta de compromisso de políticos, governantes, representantes de instituições e até mesmo diversos outros setores da sociedade. No caso da educação, os prejuízos poderiam ser muito menores, caso o Conselho Estadual de Educação não fosse tão irresponsável como tem sido. Infelizmente, dezenas de milhares de estudantes em Rondônia, em todos os municípios, serão prejudicados, pela negligência, omissão e falta de compromisso de muitas autoridades que têm a obrigação de zelar pela educação...

No decorrer desta semana, o Conselho Estadual de Educação apresentou a Resolução 1.253/20-CEE/RO, normatizando a precarização do ensino em Rondônia e colocando em jogo todo o trabalho que foi feito até hoje, embora ainda seja necessário melhorar muita coisa. O CEE acaba de instituir o ensino a distância em todos os níveis do Ensino Básico. A decisão do Conselho Estadual de Educação é, no mínimo, irresponsável, porque sugere o ensino a distância para o ensino infantil e fundamental, faixas etárias nas quais as crianças estão sem a devida maturidade para assimilar esse modelo de ensino. Claro que os defensores da teoria do faz-de-conta irão bater o pé e dizer que não há problema; que o importante é contabilizar qualquer coisa como aula, para contar nas “lives” e postagens do governo de Rondônia; que tudo está resolvido. O curioso nisso tudo é que as autoridades que possuem a obrigação de fiscalizar e o dever de zelar por uma educação de qualidade estão assistindo a tudo caladinhas e de braços cruzados. E por que as autoridades e órgãos de fiscalização batem palmas para a resolução do CEE? Pela mesma razão que batem palmas para o desastroso e excludente processo de militarização de escolas: os filhos ou netos de deputados, promotores, juízes, desembargadores, diretores de escolas e membros do Conselho Estadual de Educação, com raríssimas exceções, muito raras mesmo, não estudam em escolas públicas.

 

No Brasil, existe uma tradição muito antiga e que é cumprida à risca em Rondônia: aquilo que não presta, que não serve, que não tem nenhuma qualidade é oferecido pelos governantes, e demais autoridades, aos pobres e aos filhos dos pobres. Aquilo que é bom pertence sempre aos ricos. E,  muitas vezes, aquilo que não presta é empurrado, goela abaixo, dos pobres, com a participação e o apoio de muitos pobres que praticam a vassalagem, em troca de cargos ou outras benesses individuais e efêmeras, quando não voláteis... Uma outra discussão que precisa ser trazida à baila é que o uso de ferramentas tecnológicas é absolutamente necessário no processo de ensino e todos os professores de Rondônia utilizam as mais diversas ferramentas. Todavia, o uso de tecnologias em sala de aula,  e com a participação efetiva dos professores, não pode ser confundido com o ensino a distância, normatizado pelo Conselho Estadual de Educação, sem que haja nenhuma discussão com a sociedade e sem nenhuma necessidade. As aulas foram suspensas em 17 de março. Hoje é 17 de abril.   Neste período, tivemos 04 sábados e 04 domingos.  Além disso, há o decreto do governo de Rondônia estabelecendo que os 15 dias de férias de julho estão incluídos no período de suspensão das aulas. Como o momento requer,  certamente os professores vão negociar os dias de férias, para não prejudicar os alunos. Assim, os alunos de Rondônia foram prejudicados em 07 dias letivos, até hoje. Qual a necessidade de tanta precipitação em criar o ensino a distância, numa discussão que envolveu apenas o secretário da educação e o presidente do Conselho Estadual de Educação??? (Porque isso não pode ter sido a decisão de um Conselho de Educação). Nem mesmo os dois filósofos da honestidade foram consultados. Quem vive em Rondônia sabe que a educação já teve greves de 60 dias; 90 dias; e até mais do que isso, sem que o ano letivo fosse comprometido uma única vez...

 

É claro que o secretário de educação vai aparecer em entrevistas e redes sociais, tentando explicar marcas de batom em cueca, como tem sido a rotina desta Seduc. Entretanto, não existe uma explicação plausível para tamanha estupidez. Esta decisão do CEE, combinada com a problemática de saúde pública, criada pelo coronavírus,  misturada à falta de responsabilidade do secretário de educação e do governo de Rondônia, certamente produzirão muito mais prejuízos aos estudantes de Rondônia do que a própria pandemia... Tenho dito!!!!

 

 

*Francisco Xavier Gomes

Professor da rede Estadual e Articulista

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