Quarta-feira, 25 de março de 2020 - 11h06
A célebre frase de Thomas Paine, proferida em
plena batalha de independência dos Estados Unidos, há mais de duzentos anos,
nunca esteve tão atual e verdadeira.
Nossa geração, ao menos a dos até meio século
de vida, não testemunhou uma crise dessa grandeza, que desafia o mundo inteiro.
O Centro de Porto Velho/RO no sábado último
estava completamente fechado. Bem mais que em dia de Natal que caiu em pleno
domingo. Cenário de terra arrasada. Cenário de guerra – e olha que o míssil, o
verdadeiro míssil sequer chegou. Ainda.
O que vai ser de ambulantes, autônomos e
comerciantes? Como sobreviverão por dois, três meses (ou mais!!!!) sem o
ganha-pão?
Todos eles fazem de dia para comer de noite ou
mesmo trabalham de sol a sol, diuturnamente, para pagar as contas no final de
cada mês... Conseguem imaginar o desespero de, em meio a tamanha crise, não ter
com que saldar os compromissos?
E os pobres, o que acontecerá com eles?
Não se iludam!
Quando algo está difícil para os ricos (classe
média para cima, na verdade), aí incluídos todos os funcionários públicos, que,
a despeito de tudo, receberão seus salários no final do mês; para os pobres
estará muito pior.
E nem precisa ser pobre para estar numa
situação, no mínimo, bem desconfortável.
Dizem que o governo aprovou/aprovará medida
autorizando a suspensão de contratos de trabalho por até quatro meses; mas, o
que será dos trabalhadores no período???? É possível suspender, também, o ato
de comer durante a crise?
Na Argentina, que não tinha/tem um terço dos
casos e, sobretudo, das mortes do Brasil, já se decretou quarentena total. No
vizinho país, as pessoas só podem sair de casa para comprar remédio ou comida.
Nessas terras, já se observa o aumento dos
preços de coisas essenciais, como o álcool em gel e as máscaras. Dirão que tem
o aspecto econômico pelo meio (maior procura, escassez do produto etc.) – mas, quando
o fator humano será levado em conta? Quando o amor será considerado na equação?
A Itália, país mais assolado pelo vírus, até
agora (os EUA, famosos por liderar todo quadro de medalhas das Olimpíadas,
estão querendo assumir a dianteira que pouco orgulho confere), adotou uma
medida controversa. Para dizer o mínimo.
O governo decretou que deixará os mais idosos
dentre os idosos (os acima de 80 anos) sem atendimento. Não podendo salvar a
todos, já estão escolhendo a quem salvar – caso típico de guerra ou naufrágio.
Fico pensando se essa solução, que é prevista
até no direito brasileiro (estado de necessidade – você pode até cometer violência,
desde que seja para salvar a sua vida ou a de terceiro), seria a mais
condizente, justamente nestas horas, em que a caridade deveria prevalecer.
No entanto, não julguemos para não sermos
julgados.
Se essa notícia – a da Itália sacrificar a população
mais idosa – não for verdade, o leitor que me perdoe. Apenas disseminei algo
que recebi.
Engraçado como o conhecimento nunca esteve tão
ao nosso alcance. Atualmente podemos saber (quase) tudo a apenas alguns
cliques. No entanto, nunca corremos tanto risco de descobrir que tudo que
sabemos pode ser mentira.
Seja como for, ninguém há de duvidar da
gravidade do momento.
E, o coração pesa por dizer isso, a situação
pode piorar. No fundo, acho que ela vai piorar. E muito! Aliás, em termos de crise,
nunca nada está tão ruim que não possa piorar.
Imaginem quando começar a adoecer pessoas
próximas de nós? Imaginem quando começar a morrer pessoas conhecidas e,
sobretudo, amadas?
Imaginem quando tivermos que pegar senha para
ir aos supermercados, como já está acontecendo no sul do país.
O que vai ter de gente com saudade do chefe
chato ou do colega da mesa ao lado, que vivia reclamando da vida. O que vai ter
de gente com saudade da correria....
O que vai ter de gente contraindo COVID-19 sem
nunca ter tido contato com o vírus....
Não se assuste, prezado leitor, porque isso é
plenamente possível. Tem gente que até engravida imaginariamente – de crescer a
barriga e tudo mais. Nossa mente é muito poderosa. Para o bem e para o mal.
O que vai ter de gente adoecendo, enfermidade,
se abusar, até mais grave que a virose mundial, por ver tanta doença, tanta
pessoa agonizando e falecendo.
Existem tantas pessoas preocupadas com
familiares (o que vai ser dos mais idosos???); famílias isolando-se – parente
proibindo até visita de parente, como tem que ser mesmo. O que vai ser de todos
nós?
Li num artigo (na verdade, só vi o título) que
o pânico é mais grave e perigoso até que o próprio vírus.
E, de acordo com um cartaz de um filme a
respeito de assunto similar (epidemia provocada por vírus), nada se
espalha como o medo.
O Ministro da Saúde disse que nosso sistema de
saúde entrará em colapso em abril.
O que fazer, então, diante do apocalipse que
bate às nossas portas?
Bem, além de FICAR EM CASA (A VACINA É
FICAR EM CASA!!!!), talvez devêssemos seguir Paulo como nunca fizemos
nesses dois mil anos: GUARDEMOS A FÉ!
Ou se preferirem algo mais próximo e menos
religioso, sigam a instrução do cartaz de outro filme sobre o mesmo assunto: TENTEM
MANTER A CALMA.
Os mais céticos irão dizer que num tal cenário
de calamidade é muito complicado manter a fé, a calma e a esperança.
Pois vos digo com toda a força do meu coração: é
nos momentos de tempestade que mais a nossa fé tem que aflorar; é nos tempos
difíceis que mais precisamos demonstrar nossa crença em Deus; nas épocas
tempestuosas que temos que fazer prevalecer nossa humanidade; nas horas mais
escuras que têm que sobressaltar os talentos; nas ocasiões de provação e
privação que provamos nosso verdadeiro valor e caráter.
Não é a dificuldade da batalha que há de nos
deixar esmorecer. Pelo contrário, quanto mais difícil for a guerra, mais temos
que nos esmerar; mais temos que dar o nosso melhor – sobretudo em prol dos
necessitados. Quanto mais desesperadora for a situação mais temos que manter
a paz, a serenidade e, sobretudo, a fé.
Essa tempestade vai exigir muito de governos e
sociedades, em todo o planeta. Sobretudo em termos de solidariedade....
No entanto, se refletirmos bem haveremos
de constatar que, no fundo, o mundo já estava doente antes mesmo do
coronavírus. Talvez, no fundo, o vírus tenha vindo para nos curar.
O vírus veio para (tentar) nos salvar de nosso
egoísmo, de nossa falta de amor, de nosso apego excessivo por eletrônicos, do
nosso distanciamento, de nossa frieza, de tudo. A doença, que nos afligia e
aflige (e continuará a nos afligir, mesmo depois da crise, se Deus não vier em
nosso socorro) é muito grave.
Vivíamos/vivemos em um mundo de
superficialidades, onde, não raro, a essência é desconhecida ou relegada.
Comentava com a minha valorosa equipe de
trabalho dia desses que estamos mais próximos agora, em regime de teletrabalho
(Home Office), que antes. O fato é que precisamos nos distanciar para
perceber o tanto que ansiamos pela companhia uns dos outros.
Quantas vezes, nos últimos anos, não trocamos a
companhia de pessoas queridas, abraços, carícias e mesmo a alegria de uma
conversa olho no olho pelos benditos smartphones? E agora? Os smartphones
vão suprir nossa necessidade de pessoas queridas ao nosso redor por dois, três
meses?
É na saudade que se dá
valor...
Tivemos que nos distanciar para dar mais valor a estar perto.
Essa tempestade vai passar. Toda tempestade
passa. Nenhuma montanha é alta o suficiente.
Urge, então, que aprendamos todos com a crise.
Nenhum momento é mais propício para o crescimento que as épocas mais
turbulentas.
As crises são, não raro, o maior combustível
para o avanço da humanidade. Que o digam as grandes guerras que assolaram o
mundo no século passado. Quanto avanço tecnológico, em todos os campos
(Medicina, aviação, armamento etc.), experimentamos depois da Segunda Grande
Guerra?
Que tal, agora, avançarmos em nossa
humanidade? Avancemos naquilo que mais nos informa enquanto seres humanos e
que, por mais contraditório que possa parecer, mais está ausente na prateleira
de nossos corações: o AMOR.
A doença faz tudo parecer pequeno.
Assim, muito obrigado, Senhor Coronavírus!
Muito obrigado por fornecer ao mundo uma
chance de ouro, única mesmo, de se curar da sua doença.
Oxalá, todos nós aproveitemos...
Reginaldo Trindade
Procurador da República
Responsável, no Estado de Rondônia, pela
Defesa do Povo Indígena Cinta Larga, de abril de 2004 a dezembro de 2017
Pós-Graduado em Direito Constitucional
Membro da Academia Rondoniense de Letras
Cidadão Abençoado
Ps. Para terminar mesmo essas confusas
linhas, transcrevo, literalmente, uma mensagem abençoada que recebi de uma
pessoa muito querida – Linda e Jovem. A lição está aí. Segui-la ou não é com
cada um de nós....
“Quando tudo isto passar....
Desejo que tenhamos
aprendido que igreja não é templo.
Que família é o que
temos de mais importante.
Que não somos donos do
amanhã
E que não temos o
controle de nada.
Desejo que tenhamos
reaprendido a brincar com os nossos filhos.
A passar mais tempo
junto de quem amamos.
A olhar com carinho os
mais velhos
E a escola e o hospital
como os lugares mais importantes da cidade.
Desejo que tenhamos
aprendido que o trabalho não é tudo.
Que viver é recomeçar
todos os dias.
Que é preciso coragem
para enfrentar problemas.
E que Deus está sempre
conosco, não importa o que aconteça.”
Pr. Roberto Amorim de Menezes
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