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Saúde

Existe jeito certo de comunicar uma morte?


O programa de Educação Médica Continuada que o Conselho Regional de Medicina de Rondônia oferece aos médicos e aos acadêmicos em fase de conclusão do curso apresentou nos últimos dias 3 e 4, uma importante abordagem sobre como comunicar más notícias médicas. Na abertura do “Workshop sobre Comunicação de Más Notícias - desafios na prática dos profissionais da saúde”, o professor doutor Franklin Santana Santos interagiu com o público de cerca de cem pessoas, composto por médicos, psicólogos, assistentes sociais e acadêmicos de medicina e psicologia, sobre os impactos que as más notícias provocam nas pessoas.

Com carga de 14 horas-aula, o curso é gratuito e contempla o objetivo principal do programa: renovar conhecimentos e trazer aos atuais e futuros profissionais da medicina as novidades e novos métodos desse tema que é, inexoravelmente, um dos atos médico.

Para melhor ensinar sobre a melhor forma de comunicar uma má notícia médica, Franklin Santana ensina que o profissional de saúde deve começar pensando inicialmente na própria morte. “Sei que é meio complicado essa proposta, mas não podemos fugir desse tema, afinal, a morte pode chegar para cada um de nós a qualquer momento, em qualquer lugar. Logo, não temos como fugir desse debate”, acentua o especialista

O palestrante aplica o método de interação com a plateia e repassa, de forma dinâmica, conhecimentos dignos de seu currículo de geriatra; doutor em ciências pelas Faculdades Metropolitanas Unidas de São Paulo (FMUSP); pós-doutor em psicogeriatria pelo Instituto Karolinska, da Suécia; formação complementar em Saúde e Espiritualidade pela Duke University e Bioética pela FMUSP. Um universitário do 6º ano de medicina da Universidade Federal de Rondônia resumiu a iniciativa do Workshop como quebra de paradigma na complementação da formação do profissional médico, já que a grade curricular não contempla esse tema em profundidade.
 

Antes de encerrar o workshop, no sábado, 4, o especialista concedeu a seguinte entrevista:
 

Qual é o forte de sua atuação médica?
Atualmente eu tenho um instituto de saúde e educação chamado Instituto de Saúde e Educação Pinus Longaeva, em São Paulo. Para isso, a gente tem uma parceria com a Faculdade Santa Cecília, de Santos, onde nós temos dois cursos de pós-graduação. Pós-graduação em Tanatologia é o estudo da morte, em morrer e, outra em cuidados paliativos onde assiste as pessoas que estão morrendo, os terminais.

 

O que o senhor trouxe de novidades nessa área de medicina?

Franklin - Bom, nós trouxemos basicamente, primeiro uma reflexão sobre comunicação na terminalidade, na finitude, ou seja, quando eu vou dar uma notícia que envolve morte. Por que a gente tem que treinar primeiro a maneira e discutir a questão da morte? Porque é a pior notícia que a gente pode dar ou receber é que a gente vai morrer. Nós não estamos preparados, a sociedade não nos educa para isso e as faculdades também não educam, não treinam, tanto na questão da comunicação, como na questão da morte, do morrer. Então nós praticamente abordamos esse processo, ‘como é que as pessoas veem, a morte?’ Parece até que a morte é só com os outros, os outros é que morrem. E a gente não costuma, digamos assim, pensar na nossa própria morte ou na morte daqueles que nós amamos. Então nós trabalhamos um pouco essas questões porque isso gera muita ansiedade no médico, porque é ele quem vai dar a notícia com relação a essa questão. Para que o médico possa dar a notícia, tecnicamente falando, ele precisa lidar com as próprias questões emocionais dele. Então, Nós trabalhamos basicamente isso com eles.

O senhor desenvolve uma forma de transmitir esse conhecimento interagindo sempre com o público. Qual é a sua avaliação em relação à participação do público de Rondônia na sua palestra?

A gente viu que há um interesse, mas inicialmente como o assunto é um assunto-tabu e, as pessoas se sentem muitas vezes constrangidas, digamos pelo fato de se expor publicamente, a questão da vergonha e tal, aos poucos, à medida que eles vão se familiarizando com o tema e com o ambiente eles acabam participando e contando as suas histórias, os seus dramas, as suas dificuldades vividas na prática clínica. E isso é muito importante. Paulo Freire, que foi um grande educador brasileiro, já falava que a gente deve partir da realidade das pessoas. Então, não adianta eu vir aqui como um especialista de São Paulo, quando a realidade em Rondônia é outra. Então eu preciso ouvir, captar essa realidade de Rondônia para que a gente possa inserir então as técnicas de comunicação de más notícias nesse contexto que é daqui. E foi muito boa a participação de todos eles, estavam muito atentos.

Doutor, desde sempre a morte foi algo que sempre provocou medo ou é envolta, de certa forma, num mistério que as pessoas às vezes se negam a discutir. E, conversando com acadêmicos, percebi que eles citam que o curso de formação médica negligencia essa questão da comunicação das más notícias. O senhor acha que as faculdades que praticam o ensino médico negligenciam nessa parte da formação?

Sim. Das 180 faculdades de medicina que nós temos e já estamos indo para quase 200 faculdades no país, se tivermos umas seis ou sete faculdades que têm na grade curricular uma carga horária destinada à comunicação de más notícias, por exemplo, é muito. Então, praticamente os médicos saem das faculdades completamente despreparados para dar más notícias. E ele vai aprender com os outros, digamos assim, na intuição e, na grande maioria das vezes fazendo de forma inadequada. E, com isso as consequências também com relação a essas questões, tanto da questão da finitude, quer dizer, não é ensinado a ele lidar com a morte a despeito dele trabalhar praticamente todos os dias com a morte. E ele vai ter que dar notícia de morte quase todos os dias dependendo da área que atua. Por exemplo, se você trabalha num pronto- socorro ou numa UTI a chance de que você dê uma má notícia quase todo dia é muito grande. E como que você pode sair das faculdades depois de seis anos com mais de dez mil horas de carga horária e não ter desenvolvido essa habilidade? É uma grande falha das faculdades e a gente tem alertado as faculdades, os médicos, a sociedade em geral para essas questões. E, uma coisa interessante foi exatamente isso, porque partiu de um órgão oficial da medicina, que é o Conselho Regional de Medicina de Rondônia – Cremero, vendo essa necessidade, essa falha, decidiu incluir no programa de Educação Médica Continuada, para chamar a atenção dos médicos e oferecer a oportunidade para que eles aprendam a fazer de uma forma melhor.

Fonte: Cremero

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