Sábado, 9 de junho de 2012 - 18h03
Paula Laboissière
Agência Brasil
Brasília – O uso indiscriminado de medicamentos, sobretudo antibióticos, aumenta de forma considerável o risco de casos de superbactérias – micro-organismos resistentes à maior parte dos tratamentos disponíveis. O alerta é do diretor da Sociedade Brasileira de Infectologia, Marcos Antonio Cyrillo.
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que 440 mil casos de tuberculose resistente são registrados no mundo todos os anos, além de cerca de 150 mil mortes decorrentes de infecções por superbactérias.
“Não há hospital livre disso. Lógico que um hospital de grande porte e de alta complexidade ou um hospital universitário com vários leitos de UTI [unidade de terapia intensiva] e que interna pacientes com cirurgias complicadas são o tipo de lugar que pode ter mais bactérias resistentes. Mas nenhum hospital ou casa de repouso com longa permanência está livre disso”, observou Cyrillo.
Para o infectologista, o uso indiscriminado de antibióticos configura, de certa forma, um problema cultural, já que o profissional de saúde se sente mais seguro ao receitar o medicamento. “Ele acha que está fazendo um bem para o paciente, mas vários fatores precisam ser levados em conta na hora de fazer um programa de prevenção e também de orientação para o uso de antibiótico”, reforçou.
Na tentativa de conter os casos de superbactéria no Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determinou que a venda de antibióticos só pode ser feita com a apresentação de duas vias da receita médica. O objetivo, de acordo com a gerente de Vigilância e Monitoramento em Serviços de Saúde, Magda Machado, é restringir a automedicação, já que uma via fica retida pelo estabelecimento.
Ela lembrou que, após os casos da superbactéria KPC (Klebsiella pneumoniae carbapenemase) registrados no país nos últimos anos, a Anvisa editou uma nota técnica que trata da identificação, prevenção e controle de infecções relacionadas a micro-organismos multirresistentes. Entre as obrigatoriedades nas unidades de saúde está a higienização das mãos por meio do uso de álcool em gel por profissionais de saúde e visitantes.
Francisca Silva, 52 anos, é representante de laboratório e tem medo de contrair qualquer tipo de infecção resistente a medicamentos. “Tomo certos cuidados com a higiene porque trabalho em hospital e, por isso, estamos suscetíveis a todo tipo de contaminação. Procuro me proteger de qualquer uma delas”, contou.
A dona de casa Andreia Queiroz da Silva, 34 anos, tem lúpus, doença que compromete o sistema imunológico, e também se preocupa em manter hábitos como lavar as mãos com água e sabão quando frequenta unidades de saúde. “Acho que está faltando informação sobre essa superbactéria. Nos hospitais, é comum vermos panfletos com orientações sobre a higienização das mãos, mas muita gente não segue.”
Cleide Teixeira, 39 anos, é enfermeira e trabalha há 19 anos na mesma unidade de saúde. Além da higienização das mãos, ela usa luvas cirúrgicas descartáveis como alternativa para se proteger e proteger os pacientes de microorganismos multirresistentes. “Nós, profissionais de saúde, estamos expostos a qualquer tipo de doenças. Temos a obrigação de evitar que os pacientes sejam contaminados”, avaliou.
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