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A INVENÇÃO DA TRAGÉDIA: AS ELIZES DA VIDA



Por William Haverly Martins

O gênero “tragédia”, a mais antiga obra literária apresentada num determinado espaço físico, como o teatro, apareceu pela primeira vez na história, no século VI A.C. como obra dos gregos, mas foi William Shakespeare no século XVI/XVII, Racine e um punhado de outros autores espalhados pelo mundo, que desenvolveram a forma de tragédia, que evoluiu para o que a gente conhece hoje. Mas, com certeza, a arte de Shakespeare se sobressai A INVENÇÃO DA TRAGÉDIA: AS ELIZES DA VIDA - Gente de Opiniãopelo sublime poder de dar luz à cegueira: ao explorar a tragédia, a comédia, a poesia, deu nova dimensão ao humano, desnudou os labirintos da alma, sem empirismo, sem comparação, mas com o poder visionário de se locomover entre paixões, desejos, sonhos, demonstrando os limites do homem no relacionamento e, na maioria das vezes, as formas de emersão da indignação, pelo conhecimento que deságua na violência.

Quando a tragédia não estreia, mas é furo de reportagem da imprensa de todas as cores, agrega interrogações das mais variadas especialidades, desperta o interesse de todas as idades, atrai os sentimentos e os porquês de todas as classes, exatamente porque é absurdamente humana, a grande novidade aqui é a evolução das mulheres: antes só os homens matavam violentamente “por amor”.

Durante muitos dias, o rádio, a televisão, os jornais e as revistas explorarão o caso que abalou a sociedade paulista: uma loirinha de rosto angelical matou e esquartejou o marido milionário e nisei.

O romance que ela viveu está no imaginário da grande maioria das adolescentes mundiais, esteve nos contos de fada, nas estórias de príncipes encantados. A vontade de concretizar sonhos e apressar a esperança arrasta a maioria das mais bonitas, simples e despreparadas emocionalmente, para a prostituição, tornando-as conhecidas como garotas de programa, com visibilidade em vários sites da internet.

A doce Elize esteve na “galeria do amor”, até o dia em que encontrou o japa que lhe deu uma moldura de princesa, o nome Matsunaga e a teletransportou para um castelo da zona oeste de São Paulo: um apartamento/cobertura de mais de 500m2. Erasmo de Rotterdam, de seu túmulo de 1511, lembrou-me: “De fato, o amante mais apaixonado já não vive mais em si, mas inteirinho no objeto amado; quanto mais sai de si mesmo para se fundir neste objeto, mais se sente feliz. E quanto mais perfeito é o amor, mais forte o tresvario – e mais feliz”.

Elize e Marcos viveram o amor sexual, esta paixão: o tresvario, até mesmo o crime a fez feliz: “no amor, basta uma noite para fazer de uma mulher uma deusa”. O material determinava o espiritual: ela sentia-se uma deusa do amor, como extensão das curvas perfeitas de seu corpo jovem. E se achava dona da vida, dona do objeto Marcos Matsunaga, não aceitou dividi-lo, nem suportou o destino escolhido por ele, em momento de alucinação, de machismo, de poligamia: “VOU TE MANDAR DE VOLTA PARA O LIXO DE ONDE VOCÊ VEIO”.

Nem a uma deusa é facultado amar e manter-se sábia, Elize deve ter esquartejado o marido lembrando-se da forma como conseguiu toma-lo da primeira mulher, pena que não ouviu os sussurros de Shakespeare: “Deleites violentos têm fins violentos. Morrem no meio do seu triunfo, como o fogo e a pólvora que se consomem logo que se beijam”.

Casos como o de Elize e Marcos, mais do que nunca, demonstram as várias faces do amor: enquanto sincera afeição humana, é recíproco, deseja o bem, promove a felicidade, entretanto, se controlado pelo ciúme e pelo desejo, transforma-se em sentimento mesquinho, meramente sexual: a pessoa amada vira objeto do apetite, podendo descambar para finais violentos, pois que o gozo o apaga, a saciedade o extingue, a posse o cega.

Fonte:  williamhaverly@gmail.com
Detalhes biográficos: baiano de nascimento, mas rondoniense de paixão, cursou Direito na UFBA e licenciou-se em Letras pela UNIR, é professor, escritor, presidente da ACRM – Associação Cultural Rio Madeira e vice-presidente da ACLER – Academia de Letras de Rondônia, onde ocupa a cadeira 31.             

 

 

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