Segunda-feira, 9 de abril de 2012 - 10h51
Por William Haverly Martins
A água, a mãe de todas as criaturas, vem exercendo, ao longo dos milênios, certo fascínio no ser humano: as pessoas se banham em exclamações das mais variadas temperaturas, diante de uma majestosa, ou de uma humilde porção do líquido vital, ou simplesmente experimentam a sensação dos sentidos, escorrendo pelas lembranças, sob o compasso do coração, usando os olhos e a face, como pontos nevrálgicos da emoção.
Há os que se libertam com a beleza do mar e o cantam em versos de exaltação. Houve quem, ainda que simbolicamente, atribuiu a um grande navegador poderes que pudessem por um fim ao comércio de humanos e a aceitação do absurdo: “Colombo! fecha as portas dos teus mares!”
Há os que esticam o olhar oblíquo na direção do poente e o ouvem, batendo com força, o peito da saudade, às vezes destruindo com a inocência de um tsunami.
Há os de pele escura que não se esquecem das histórias dos ancestrais e o veem maculado, como um caminho tingido de dor.
Há os que trazem no nome a marca do outro lado do oceano: fugindo das grandes guerras, construíram famílias em gostosa miscigenação. E há os que moravam nas Américas e viram os conquistadores surgindo, como assombrações, do mais profundo do mar.
A água possui inúmeras vertentes, cada qual com sua cor, cada qual com seu sabor, cada qual com sua sina: Brota da terra, sobe aos céus, chove, desce montanhas, serras, colinas. Se estreita, se alarga, pode ser mansa, braba, poética, salvadora, parceira de políticos e de piadas:
– Quando vejo este riacho e esta grama verde, eu me lembro de minha mãe, discursava empolgado o político do interior de Minas Gerais, quando o malandro, da plateia, indagou:
- Ela era égua? – recebendo, do alto do palanque, imediata resposta:
- Era não, filho da puta, era lavadeira.
A água se estende aos quatro cantos do mundo, deixando em cada margem um poeta, um sonho, uma esperança, um alento de vida e, quando junta tudo num único lugar, como o suprassumo da estética, quando elimina as fronteiras, deixa aos humanos, o maior exemplo de transfiguração pela convivência pacífica: os oceanos!
A água exerce sua parceria com o ser humano desde que ele surgiu na face da terra, mas há um tipo de companheirismo que faz dela matéria prima de significativo valor: o professor José Valdir Pereira, rondoarense (mistura de cearense com rondoniense), cunhou os seguintes versos, olhando o mar da sua terra natal: “O mar encheu-se de doçura com as lágrimas do jangadeiro enquanto as ondas o embalavam, desfazendo sua dor”. Aproveitando sua passagem por esta que foi sua cidade por mais de quarenta anos e em sua homenagem fizemos a paródia: O Mardeira encheu-se de doçura com as lágrimas do canoeiro enquanto os banzeiros o embalavam desfazendo sua dor.
O Rio Madeira, nosso querido madeirão, tão maltratado pelo progresso, continua o símbolo maior dos que enxergam esta terra com o olho do coração: sem nenhum sentimento de revolta pelo aprisionamento de suas águas, devolve a agressão com a beleza do reflexo avermelhado do sol poente, ao tempo em que aceita em seu leito o carinho dos cascos madeirados ou ferrosos em busca de alimento, percurso, ou admiração.
O Madeira, para o portovelhense, não é só um belo exemplar da natureza, é um confidente, um profundo e silencioso ouvinte, que se mostra conforme a inspiração, a sensibilidade e o amor de quem olha: seus banzeiros são nossas ondas afetivas, sua cor barrenta se confunde com o azul do fim da linha. MARdeira é só uma questão carinhosa e de ponto de vista, o radical em questão está em todos os rios da Terra.
Baiano de nascimento, mas rondoniense de paixão, professor, escritor, presidente da ACRM - Associação Cultural Rio Madeira e Vice-presidente da ACLER – Academia de Letras de Rondônia.
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