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ATÉ ONDE VAI A IRRESPONSABILIDADE DO GESTOR PÚBLICO?


 ATÉ ONDE VAI A IRRESPONSABILIDADE DO GESTOR PÚBLICO? - Gente de Opinião

William Haverly Martins

Nos estertores de 2011 redigi uma matéria reclamando do descaso das autoridades constituídas para com os prédios e monumentos que representam o nosso patrimônio histórico/cultural. Evidenciava com mais vigor o caso do desaparecimento do Monumento aos Pioneiros (Video AQUI). Parte daquele material foi adaptado ao decorrer destas linhas, mas o fato central continua se sobressaindo, contundente: mais de um ano depois, o monumento continua desaparecido. Os companheiros jornalistas da Rede Record desenterraram o mote, mas não localizaram o corpo físico. Semana passada o assunto voltou à pauta de vários sites do jornalismo eletrônico.

Estou pensando em fazer uns cartazes: PROCURA-SE! DE PREFERÊNCIA EM PERFEITO ESTADO – A MEMÓRIA DO POVO DESTA NOSSSA AMADA TERRA AGRADECE QUALQUER INFORMAÇÃO SOBRE O MONUMENTO AOS PIONEIROS. Embora a indignação permeie meus escritos, colocando balas emocionais no pente de minha metralhadora verbal, sei que muito ainda precisa ser feito no cérebro do gestor público: lobotomia popular para injeção de conscientização, educação, compromisso.

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FOTO DO JORNALISTA E TURISMOLOGO IVO FEITOSA
 

Esta matéria deveria ter saído semana passada, mas não acreditando no sumiço irresponsável, convidei o colega de trabalho e historiador, Anísio Gorayeb, para um tour pelas secretarias responsáveis pela guarda do Monumento aos Pioneiros: na Semob nos remeteram à Sempre, onde contatamos com um fiscal que nos disse que também ele estava à procura do “tal” monumento para atender a um ofício/solicitação do Ministério Público. Dias depois liguei para o “tal” fiscal e ele me respondeu que não havia encontrado nada: “Acho que a construtora destruiu o monumento”. Simples assim.

O Marco Divisório, monumento que estabelecia os limites do estado do Mato Grosso com o estado do Amazonas, foi destruído pelas bombas irresponsáveis dos construtores da hidrelétrica de Santo Antonio: os pedaços viraram um quebra cabeça para os alunos de arqueologia e história da Unir, a construção de um novo marco não possuirá o mesmo valor histórico/sentimental. Prometeram compensações...

“O mal não deve ser imputado apenas àqueles que o praticaram, mas também àqueles que poderiam tê-lo evitado e não o fizeram”.  As sábias palavras do grego Tucídedes valem para muitos portovelhenses, inclusive para o arquiteto que descaracterizou a Praça Jonathas Pedrosa, trocando a estátua do ex-governador do Amazonas por um monumento à bíblia, despachando a bela escultura de Afonso Ligório, artista plástico do rol dos melhores, comprometido com as coisas da nossa gente, para os confins de um barracão da EFMM. Tempos depois, dizem que a estátua foi guilhotinada e juntada ao aterro do Rio Madeira, nos idos de 1993. Mais um trabalho para nossos alunos do curso de Arqueologia da UNIR: desenterrar o que a irresponsabilidade soterrou. E aqui vai mais uma constatação – apesar da decapitação imbecil a praça continua Jonathas Pedrosa e não praça da bíblia – a voz do povo...

O majestoso Monumento aos Pioneiros que estamos tentando encontrar foi inaugurado pelo Governador Jorge Teixeira de Oliveira no Trevo do Roque, em setembro de 1984, uma obra de autoria da arquiteta Hélvia Lúcia Reis de Fraga e Silva. Está desaparecido desde o início da construção dos viadutos/problema.

O fato concreto é que ninguém sabe, nem o DNIT, por onde anda aquele pedaço da nossa memória. “Gratifica-se” a quem denunciar ao Ministério Público os responsáveis pelo sequestro do Patrimônio, ou o paradeiro do belíssimo mural: são 8 painéis desenhados e assessorados pelo artista plástico Hélio Gomes da Silva, executado em cimento aparente em alto e baixo relevo com a técnica denominada afresco. Leiam o depoimento da arquiteta, no dia da inauguração:

Agradeço àqueles que cooperaram para que minha ideia fosse adiante. Nossa história é rica e jamais se perderá, pois ficará gravada eternamente no cimento daquele Mural, para que no futuro todos saibam que a prosperidade desta terra foi conquistada com o sangue, suor e lágrimas de todos nós, Os Pioneiros”. 

Falta a alfabetização do olhar: nossos jovens só saberão valorizar, a ponto de cobrar do gestor público providências, quando compreenderem o que veem - sem um elo entre amor e conhecimento - nossos pupilos serão ludibriados pelas autoridades sem raízes, comprometidas apenas com a “comissa por fora”.  

Os poucos soldados lúcidos, defensores do Patrimônio Histórico Material e Imaterial, estão perdendo a luta para o tempo e poderão perder a guerra para o capital. O capital é maior do que a memória. O capital destrói tudo e não guarda nada, promovendo a favelização do espaço público e histórico de nossa cidade. Os donos do tempo estão desintegrando a memória, apagando os componentes da nossa frágil identidade. Desde a segunda metade do século dezenove, Nietzsche já falava em falso moralismo: não basta se indignar.

williamhaverly@gmail.com

Detalhes biográficos: baiano de nascimento, mas rondoniense de paixão, cursou Direito na UFBA e licenciou-se em Letras pela UNIR, é professor, escritor, presidente da ACRM – Associação Cultural Rio Madeira e vice-presidente da ACLER – Academia de Letras de Rondônia, onde ocupa a cadeira 31.             

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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