Quarta-feira, 5 de outubro de 2011 - 12h19
Por William Haverly Martins
O medo e a indignação são dois sentimentos detestáveis e precisam ser superados sob pena de se viver a angústia da impotência diante do mundo contemporâneo. Superar os medos sociais, como a timidez, as fobias e o medo da morte, faz parte de todo e qualquer programa que ambicione a liberdade pessoal, os medos nos aprisionam, nos restringem as atitudes. Mas Certos medos nos acompanham a vida pelas veredas da memória, o medo do exército, por exemplo, entrou em nossas vidas, desde os anos 64, com as armas da truculência, da tortura e da morte, permaneceu por longos anos, crocitando em nossas vidas frases agourentas como a do corvo de Edgar Allan Poe – Never more – nós somos dos que superaram este medo e não se intimidam com o corvo/papagaio porque ele foi sepultado pela indignação popular, never more.
Hoje, no entanto, só a indignação não resolve, apesar de estarmos indignados com a atitude destruidora do BEC que virou BED, o sentimento da indignação é sempre contra os outros, é silencioso e subjetivo, é preciso indignar-se com a indignação e tomar uma atitude, uma ação concreta. Os caras chegaram aqui em meados da década de sessenta e a primeira coisa que fizeram foi amarrar um corvo falante no nosso maior patrimônio – never more – acabaram com a Estrada de Ferro Madeira Mamoré, sem nenhuma satisfação plausível aos moradores deste rincão do oeste brasileiro. Não dava lucro, prejuízo, ah não me venham com estas baboseiras, sabemos bem o que dá prejuízo a esta nação.
Anos depois, associaram-se a outros batalhões, de fronteira, de selva, de artilharia e, agora, iniciam novas destruições, desta vez, absurdamente, estão destruindo suas próprias memórias, a gente sabe que a grande maioria dos militares que vem para Rondônia é desmemoriada, depois de pouco tempo retorna aos seus estados de origem. Principalmente os mais graduados, vem em busca de promoção e caça níqueis, pois ao serem remanejados recebem uma boa quantia, quase uma aposentadoria precoce, pouco estão se lixando para o patrimônio ou a memória do povo.
Agora eles amarraram um corvo no topo de uma escola que durante mais de 40 anos ajudou jovens dos bairros do Triângulo, Areal, Tupi, Baixa da União, Vila Miséria a se afastarem das drogas, a se afastarem da marginalidade. As paredes tremem com o crocitar da estupidez fardada – never more. Um quartel será erguido onde outrora funcionou a escola de 1º grau Coronel Carlos Aluísio Weber, um retrocesso para um país tão carente de educação e deficiente em salas de aulas. Mas a megalomania militar não tem limites, devem estar com medo da política expansionista do companheiro Evo Morales. Por que destruir uma escola se terra não é o problema?
Para ganharem o que ganham, sem fazerem nada, curtindo o bem bom das grandes cidades, dizem que estão cumprindo os ditames da Constituição, protegendo nossas fronteiras. Deveriam, então, instalar seus batalhões no município de Costa Marques, ocupar o Forte do Príncipe da Beira, deveriam se acomodar ao longo do Guaporé, do Mamoré. Ali poderiam saber o que significa o medo da morte para muitos brasileiros, dividindo o espaço com mosquitos e doenças endêmicas, ali poderiam sonhar com seus estados de origem, suas esposas e filhos e ouvirem de retorno o never more do corvo.
Estamos exercendo nossa ação da forma que sabemos, indignação é pouco, estamos levando palavras à luta na esperança de que sejamos ouvidos por um governador que não é daqui, por um prefeito baiano, por um arcebispo sulista, por deputados, por vereadores, na esperança de que sejamos ouvidos pelo povo, mas não temos cacoete de líder, se tivéssemos iríamos pra frente da escola com o maior número possível de alunos e brecaríamos aquelas ações.
Sabemos que muita gente já deve estar indignada com nossos relatos, mas é pouco, eles não respeitaram sequer São Francisco, anunciaram no dia do santo, 04/10, a destruição da capelinha que por mais de quarenta anos foi o palco da união sagrada de grande parte de nossos moradores mais ilustres. É isto mesmo, amarraram mais um corvo na torre da capela de São Francisco, a conhecida igrejinha do 5º BEC. Pior de tudo é que não ouvimos a reclamação da igreja, a mudez do Arcebispo talvez se explique pelo medo oriundo dos distantes sessenta e quatro, talvez ainda esteja amordaçado pelo medo da farda verde oliva.
Invocamos aqui a força do santo e a ajuda dos devotos, façam uma procissão, uma vigília, espantem o corvo com orações e promessas: São Francisco, o protetor dos animais, haverá de modificar a índole malvada deste corvo/papagaio em vez de never more lhe ensinará in perpetuum. As coisas sagradas, principalmente aquelas que são caras à memória e à identidade de um povo não devem ser destruídas.
Já não basta atrasarem o progresso, impedindo a saída da cidade pela Avenida Rogério Weber, já não basta o latifúndio verde oliva da cidade, herança dos anos de ditadura, já não basta o abraço com braços de ferro, tanto pela Rodovia como pela Estrada do Santo Antonio, impedindo que a cidade se estenda até a Universidade, condenando ao isolamento aquela que por determinação de origem deveria ser uma das responsáveis pelo avanço tecnológico e sociológico do estado, já não basta o anacronismo ideológico que deixa o estado muito maior do que deveria ser, já não basta a arrogância de muitos militares que se acham donos do país, já não basta termos de conviver com a corrupção nos três poderes e ainda nos privam de reverenciarmos nossa memória, ainda plantam um corvo que repete insistentemente aos nossos pleitos, anseios e sonhos: Never More. Está na hora de um basta. A sociedade precisa exorcizar seus medos e aprender a transformar sua indignação em ação concreta.
Never more não deve ser o crocito do corvo da morte, mas o grito de uma sociedade consciente da força da união para que ocorram modificações e da certeza que para crescer é preciso superar os medos. Nunca mais deveremos permitir que os coturnos pisem nos nossos direitos. Vamos à luta pela preservação da igrejinha de São Francisco e pela permanência da Escola Carlos Aloísio Weber.
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