Sábado, 22 de dezembro de 2012 - 10h05
William Haverly Martins
O homem nasce mentiroso, egoísta, torna-se hipócrita e aprende desde cedo a usar as técnicas da dissimulação, da desfaçatez, em prol de uma convivência necessária. O homem sorri pras pessoas e fala mal delas pelas costas, é arrogante e finge simpatia até mesmo no interior das igrejas: existe momento mais hipócrita do que o “saudai-vos uns aos outros” no decorrer da missa? Sem as hipocrisias mútuas nos tornaríamos intoleráveis uns para os outros.
Nesta época do ano as mentiras se evidenciam com mais vigor: a figura do bom velhinho capitalista é usada para amenizar a consciência de quem faz caridade para chamar a atenção dos demais, escondendo, no bojo das ações temporárias, um coração impuro. É como se a humanidade dedicasse o mês de dezembro para o outro, embora agnóstico pareço ouvir as palavras de Jesus sobre essa comoção popular: - hipócritas!
Decididamente o mês de dezembro é o mais hipócrita do ano, é o mês da brincadeira mais chata do mundo, conhecida por amigo-oculto, do parente que passa 364 dias do ano sem aparecer, e quando dá as caras, geralmente durante a ceia comemorativa pelo aniversário de Cristo, trás nas mãos uma garrafa de cidra, a qual ele batizou de champagne. É o mês do sorriso largo e falso, dos tapinhas nas costas.
O mundo não se dá conta de que o socialismo pregado por Jesus, ou o do Manifesto Comunista divulgado por Marx e Engels, nasceu fadado ao insucesso porque o homem já surge para a vida sob o império do egocentrismo e da concorrência. Charles Taylor tem razão quando afirma que não existe uma identidade coletiva. Este negócio de amai-vos uns aos outros é balela de religião e de livros de autoajuda: primeiros os meus, depois os teus. Venha a mim o reino e o pão de cada dia, o outro que se vire...
Se estabelecermos uma comparação midiática entre os ícones – Jesus e Noel – facilmente se percebe que Jesus só aparece em presépios e em algumas emissoras de TV aberta que divulgam filmes religiosos, já Papai Noel está em toda parte, invade nossa vida, com a apelação do sorriso puro de uma criança. Um prega a divisão do pão e o amor ao próximo, o outro é a cara do capitalismo e ajuda a movimentar bilhões de dólares em torno da hipocrisia.
Para não fugir à regra geral da incoerência, dispo-me da pele de lobo implacável, esqueço os preconceitos, absorvo os acordes mágicos das músicas natalinas, me visto de curupira e ando pra trás, buscando uma infância perdida no tempo, quando as cartinhas eram feitas entre os sonhos do porvir. E as palavras brotavam pintadas de esperança! Mas não consigo evitar a mescla ocorrida na memória da terceira idade, os argumentos ressurgem amarelados, uma farsa em meio ao desespero de uma espera longa e sórdida:
Papai Noel, gostaria de não ser um mandacaru o ano inteiro, mas a vida cravou espinhos por todo o meu corpo, cansei de dar meu tempo, minha atenção e meu afeto para gente falsa, sem educação, sem sensibilidade para entender os momentos de carência da alma. Embora cacto, ainda produzo frutos vermelhos e suculentos e queria que você disponibilizasse esses frutos na ceia dos que me cercam, eles representam a sinceridade na rabugice, a busca insana e constante de uma felicidade inalcançável, porque sombra.
Consciente de que a mentira é mais interessante do que a verdade, desejo um Feliz Natal a todos, principalmente às crianças, sem elas a festa poderia ser cancelada.
williamhaverly@gmail.com witahaverly@hotmail.com
Detalhes biográficos: baiano de nascimento, mas rondoniense de paixão, cursou Direito na UFBA e graduou-se em Letras pela UNIR, é professor, escritor, presidente da ACRM – Associação Cultural Rio Madeira e vice-presidente da Acler – Academia de Letras de Rondôna, onde ocupa a cadeira 31.
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