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Greve na Unir: um desabafo



 Prof. Estevão Rafael Fernandes*
 
Temos nós, sociedade rondoniense, acompanhado atentamente as notícias que a imprensa e os amigos trazem da greve da Unir. Acompanhamos, com especial atenção e preocupação, neste final de semana, a desastrada (e desastrosa) ação policial que acabou com um professor preso e um Deputado Federal vítima de truculência policial. Não sou sindicalista ou político. Sou professor e tenho orgulho disso. No entanto, neste final de semana me envergonhei de algumas coisas.

Me envergonhei da postura da Reitoria de minha Universidade. Mais que isso, me decepcionei. Como assim, um professor é preso sob circunstâncias no mínimo suspeitas e ninguém da Universidade presta solidariedade, ou mesmo emite uma nota oficial, dizendo que exigirá da Polícia explicações sobre a prisão de um dos seus? Não me importa se a administração da UNIR concorda ou não com o fato de o professor e os alunos estarem lá, naquele momento mas NADA justifica o silêncio da instituição. Como assim, as alunas afirmam que os policiais as assediaram dentro do prédio da Reitoria e a Universidade não se pronuncia? Os muros de nossa Universidade são sagrados e, independente de sua administração discordar com a postura de seus alunos e professores, mesmo assim são SEUS alunos e SEUS professores. Mais que um vínculo administrativo, há um vínculo afetivo: ou alguém aí realmente acha que os alunos estão dormindo em um prédio sem água nem luz e os professores, ao relento, por outro motivo que não um sincero amor e respeito pela instituição?

Me envergonhei ainda, como cidadão, da postura de nosso Excelentíssimo Senhor Senador Valdir Raupp. Senhor Senador, vai um exemplo de um dos grandes nomes do partido que o senhor preside, o PMDB, na esperança que o senhor nele possa se espelhar.

Em 1968, quando o exército invadiu o campus da UnB, prendendo professores e alunos, o Deputado Márcio Moreira Alves foi à tribuna defender os professores e alunos contra a ação das Forças Armadas. Ele sugeriu, em plena ditadura militar, que a população boicotasse os desfiles de 7 de setembro. A resposta do Governo Militar foi feroz e, ironicamente, bem parecida com a sua dada aos alunos neste final de semana. Os militares exigiram a cassação do mandato de Moreira Alves por “uso abusivo do direito de livre manifestação e pensamento e injúria e difamação das forças armadas, com a intenção de combater o regime vigente e a ordem democrática instituída pela Constituição”. Soa familiar?!

Na defesa desse nobre Deputado, na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, Moreira Alves fez um belo discurso, do qual destaco o seguinte trecho:

“O mandato popular confere ao deputado não apenas o direito como o dever de expressar livremente suas opiniões, que se presume serem a de seus eleitores.

Nunca é esse dever mais sagrado que quando seu exercício se opõe às violências, ao arbítrio, aos desmandos, abusos e crimes dos poderosos. O exercício da denúncia pode fechar um Congresso, mas sem ele um Congresso não pode ficar aberto. Exercê-lo é honrar a vontade do povo. Traí-lo é oferecer a própria representação popular à execração de todos os homens de bem. O silêncio é a cumplicidade. O silêncio é o preço que nenhum parlamentar pode pagar por sua representação sem dela demitir-se.”


ISSO é defender a Democracia – e, diga-se, em pleno regime militar. A força dessas ideias foi tamanha que a única forma de o governo militar - que tanto dizia defender a democracia e as instituições - calar o Congresso foi baixando o AI-5, página negra na História do país.

Ironicamente, entre tantos motivos de vergonha, neste final de semana me orgulho dos detentos do presídio onde foi preso nosso professor Valdir. Eles ficaram consternados com a prisão do professor, deixando claro que cadeia não é lugar para educador. Interessante... logo eles, os presos, demonstram saber o que nem nossa Reitoria, tampouco nosso Senador parecem ignorar.


*Antropólogo. Professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Rondônia.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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