Quinta-feira, 22 de dezembro de 2011 - 14h33
Por William Haverly Martins
Na natureza, a camuflagem, o mimetismo, são exercícios de sobrevivência da espécie, muitos animais, notadamente os lagartos, usam o corpo, como símbolo mudo, como artimanha na arte de afastar o predador, ou na disputa do alimento nem sempre farto: alguns inflam o peito, querendo aparentar o que não são, outros usam a língua protrátil, capaz de ser projetada à longa distância, como arma poderosa na cadeia alimentar.
Na natureza humana, os pigmentos da linguagem, as máscaras da aparência, a desfaçatez e a obliquidade são consideradas regras da boa convivência: a simples hipocrisia, ou a hipocrisia social, ao longo das civilizações, vem sendo a marca humana na luta pela preservação da espécie, um relativo exercício de política de boa vizinhança, centrado em meias palavras, em afagos forçados que, na maioria das vezes, escondem egos inflados e garras afiadas na inveja.
A moral assimilou a hipocrisia, se é que existe moral (Nietzsche contestava a Moral), ou seja, a maioria da sociedade aceita a hipocrisia como um modo de ser ético, mas foi da moral religiosa o pontapé inicial da involução humana. Não é nosso propósito o aprofundamento destes questionamentos, mas, e unicamente, lamentar o processo de deterioração do caráter: a corrupção dos valores éticos e o exercício do egocentrismo, sob a capa do falso moralismo, colocam em cheque a alma humana na sua arrogância de espécie dominante.
A ambição transformou a hipocrisia não apenas numa simples regra de agrado ao próximo, uma gentileza, um elogio falso, mas numa forma de galgar degraus, ampliar espaços, destruir o próximo, a partir de uma engendrada rede de mentiras, quase sempre com o conluio dos credos religiosos. O homem constrói um futuro funesto na contramão da racionalidade: a moral e a política, sob o império da hipocrisia, plasmam a humanidade e a natureza.
Mente saudável é a que aceita e desfere verdades no ambiente da convivência, sem se preocupar com conseqüências. Mesmo sabedora de sua impotência minoritária, mesmo sob o risco da antipatia, não se camufla, ao contrário, enfrenta as adversidades ao lado da razão: os sensatos não abdicam do direito de ser honestos em suas decisões e pronunciamentos, ainda que sofram com a incompreensão, ainda que venham a ferir susceptibilidades. Sensatez não quer dizer grossura, você pode ser sensato, honesto e educado.
A passividade da sociedade em relação aos hipócritas de carteirinha precisa ser contestada com veemência, sob pena de construirmos um ambiente onde lobos e cordeiros pastam as mesmas oportunidades, comprometendo a utópica igualdade do bem-estar social, corrompendo a contestada consciência moral: o hipócrita é um homem algemado as suas convicções doentias, tentando se equilibrar em um pensamento único.
O homem não pode ser inimigo do próprio homem, precisa dar continuidade ao seu aperfeiçoamento, na simbólica retirada das capas da evolução, não permitindo que o adversário que traz dentro de si o vença e o cegue. A hipocrisia comedida, a mentira que não prejudica, usada no dia a dia, em forma de falso elogio, ou para camuflar pequenos desvios de personalidade, como amaciantes das asperezas da verdade, é tolerável, entretanto há que se vigiar o hábito e as intenções, a fim de que não se transformem na máscara que esconde o cinismo, nem na droga do convencimento: o elogiado, desinformado, ao acreditar no elogio, se deixa manipular, comprometendo valores e conquistas humanas.
Detalhes biográficos: baiano de nascimento, mas rondoniense de paixão, cursou Direito na UFBA e licenciou-se em Letras pela UNIR, é professor, escritor, presidente da ACRM – Associação Cultural Rio Madeira e ocupa a cadeira 31 da Acler – Academia de Letras de Rondônia.
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