Sábado, 3 de dezembro de 2011 - 08h16
Por William Haverly Martins
Nesta quarta-feira, 30/11, encerrou-se o Seminário Conheça Porto Velho: “Ame e Preserve seu Patrimônio Histórico-Cultural”. Uma feliz iniciativa do Instituto Ipary, com o patrocínio da Prefeitura de Porto Velho e o gerenciamento da Fundação Cultural Iaripuna. Indiscutível o alto nível das palestras e o propósito do Instituto de valorizar nossas raízes, consolidando nossa identidade. Mas, muito ainda precisa ser feito, falta conscientização, educação, compromisso.
Não adianta a Prefeitura patrocinar um evento desta natureza, se ela mesma não cuida do Patrimônio Histórico Material sob a sua responsabilidade, prédios tombados como Patrimônio Histórico estão ao “deus dará”, os barracões da EFMM, recentemente restaurados, já estão com o telhado comprometido e com sérios problemas de manutenção. A segunda parte da restauração foi anunciada com estardalhaço, mas só Deus sabe quando e como será feita.
O Velho Sobrado de Santo Antonio está com seus dias contados porque um irresponsável de um órgão que deveria cuidar da identificação, manutenção e preservação do Patrimônio de uma região, sem nenhum compromisso com esta terra, disse que nosso histórico casarão não era histórico e podia ser alagado pelas lucrativas águas da represa, conhecida por hidrelétrica.
A Igrejinha de São Francisco, repleta de lembranças de um tempo em que era conhecida como a Igrejinha do 5º BEC, foi absurdamente bombardeada pela artilharia pesada da 17ª Brigada de Infantaria e Selva, com direito a gemidos inexpressivos deste escriba, a fotos expressivas do Ivo Feitosa, mas sem ouvir uma reclamação oficial, uma unicazinha reclamação das nossas autoridades municipais e eclesiásticas. Mas, não tenho dúvidas, foram amaldiçoados por São Francisco: dá neles, São Chico.
O Monumento aos Pioneiros inaugurado pelo Governador Jorge Teixeira de Oliveira no Trevo do Roque, em setembro de 1984, uma obra de autoria da arquiteta Hélvia Lúcia Reis de Fraga e Silva, está desaparecido, uns dizem que se encontra soterrado nos escombros do que deveria ser um viaduto, outros asseveram que está ao léu, nos fundos de um depósito da empresa que enricou, construindo viadutos fantasmas. O fato concreto é que ninguém sabe por onde anda aquele pedaço da nossa memória. Gratifica-se a quem denunciar ao Ministério Público os responsáveis pelo seqüestro do Patrimônio e o paradeiro do belíssimo mural: são 8 painéis desenhados e assessorados pelo artista plástico Hélio Gomes da Silva, executado em cimento aparente em alto e baixo relevo com a técnica denominada afresco. Leiam o depoimento da arquiteta, no dia da inauguração:
“Agradeço àqueles que cooperaram para que minha ideia fosse adiante. Nossa história é rica e jamais se perderá, pois ficará gravada eternamente no cimento daquele Mural, para que no futuro todos saibam que a prosperidade desta terra foi conquistada com o sangue, suor e lágrimas de todos nós, Os Pioneiros”.
“O mal não deve ser imputado apenas àqueles que o praticaram, mas também àqueles que poderiam tê-lo evitado e não o fizeram”. As sábias palavras do grego Tucídedes valem para muitos portovelhenses, inclusive para o arquiteto que descaracterizou a Praça Jonathas Pedrosa, trocando a estátua do ex-governador do Amazonas por um monumento à bíblia, despachando a bela escultura de Afonso Ligório, artista plástico do rol dos melhores, comprometido com as coisas da nossa gente, para os confins de um barracão da EFMM. Tempos depois a estátua foi guilhotinada e juntada a escombros, no aterro do Rio Madeira, nos idos de 1993. Trabalho para nossos alunos do curso de Arqueologia da UNIR, agora livres do Fantasma Rosa que atormentou a vida daquela universidade.
Falta educação e compromisso na alfabetização do olhar, nossos jovens só saberão valorizar quando compreenderem o que vêem, sem um elo entre amor e conhecimento, nossos pupilos serão ludibriados pelas autoridades sem raízes, mas comprometidas com a “comissa por fora”. Os poucos soldados lúcidos, defensores do Patrimônio Histórico Material e Imaterial, estão perdendo a luta para o tempo e poderão perder a guerra para o capital. O capital é maior do que a memória. O capital destrói tudo e não guarda nada, promovendo a favelização do espaço público e histórico de nossa cidade. Os donos do tempo estão desintegrando a memória, apagando os componentes da nossa frágil identidade. Desde a segunda metade do século dezenove, Nietzsche já falava em falso moralismo: não basta se indignar.
williamhaverly@gmail.com witahaverly@hotmail.com
Detalhes biográficos: baiano de nascimento, mas rondoniense de paixão, cursou Direito na UFBA e licenciou-se em Letras pela UNIR, é professor, escritor, presidente da ACRM – Associação Cultural Rio Madeira e ocupa a cadeira 31 da ACLER – Academia de Letras de Rondônia.
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