Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

ACRM

VIOLÊNCIA NA UNIVERSIDADE



Por William Haverly Martins

Foi preciso uma pesquisa séria, efetuada de dentro pra fora, o que quer dizer a partir de documentos oficiais, com autoria de Dom Paulo Evaristo Arns, um homem acima de qualquer suspeita, para que o povo se conscientizasse dos abusos e absurdos cometidos em nome do que ficou conhecido pela História Oficial como Revolução de 64. Foi preciso a publicação pela Editora “Vozes” do livro Brasil Nunca Mais para que tomássemos conhecimento da truculência absurda, na maioria das vezes desnecessária, usada pelos organismos repressores deste país. Pois bem, a gente achava que isto nunca mais se repetiria, mas se repetiu, e vem se repetindo Brasil afora em quase todos os episódios envolvendo greves de universitários e professores. Por enquanto, são fatos isolados, mas se não reagirmos, podem se alastrar como uma coceirinha que vira sarna.

Recentemente o STF se pronunciou contrário ao uso público de algemas em pessoas envolvidas em corrupção, notadamente em políticos corruptos, ou asseclas, tudo em nome do constrangimento. O que dizer, então, da atitude da Polícia Federal que de arma em punho ameaçou com a morte estudantes e professores que se posicionavam nas escadarias da UNIR centro, em atitude pacífica de trincheira da moralidade, usando como armas máquinas fotográficas e celulares?  

O que o STF, ou o Ministério da Justiça, teriam para dizer à sociedade da prisão constrangedora de um professor universitário desarmado e da agressão a um Deputado Federal no mesmo episódio? Como negar, se as fotografias documentam a ação e a truculência? Precisamos de uma Polícia Federal forte, ágil e eficaz que atue na defesa da sociedade sem corporativismo e pirotecnia, mas com pessoal treinado, compromissado com o bem e não com atitudes individuais extravagantes de demonstração de força desnecessária em hora e local inapropriados.

A indignação maior deste escriba é com parte da sociedade organizada, parte da imprensa, parte dos estudantes e professores da própria UNIR, que não toma partido diante de um claro caso de corrupção, que silencia ou se posiciona covardemente em cima do muro. O Senhor Reitor está sendo investigado por todos os órgãos controladores da nação (CGU, TCU, etc.) e processado pelo Ministério Público Federal e ainda há quem diga que isto é apenas uma briguinha política pelo poder. Sim, ele até poderá ser inocentado, porque a corrupção se generalizou no país, e as ações da justiça não são mais confiáveis, principalmente quando se tem padrinhos poderosos.

Parece que no Brasil a corrupção está tão institucionalizada que quem a defende é valorizado e protegido, confundindo a população. Vem sendo assim no Senado Federal, na Câmara Baixa, nos Ministérios, nos organismos dos Estados, Municípios e até na Justiça, a ponto da Ministra Ellen Gracie do STF dizer em entrevista às páginas amarelas da Revista Veja: “O Poder Judiciário é o menos corrupto dos poderes”. Mais tarde, a corregedora nacional de Justiça, Eliana Calmon, asseverou: “a magistratura está com gravíssimos problemas de infiltração de bandidos escondidos atrás da toga”.

Os jovens começam a passar da indignação a ação, em todo o país, muita gente vem saindo em passeatas, protestando contra a corrupção, a campanha pelas “diretas já” também começou assim, timidamente, depois tomou conta do país. Aqui em Porto Velho, o exemplo da resistência à corrupção vem sendo dado por corajosos estudantes e denodados professores da Universidade Federal de Rondônia, que fizeram das escadarias da UNIR centro, uma barricada moral contra os atos corruptos do Reitor e seus partidários e contra as demonstrações de violência do Estado.

A resposta à pergunta feita pelo jornal espanhol El País em 07/08/2011: “Que país é este que junta milhões numa marcha gay, outros milhões numa marcha evangélica, muitas centenas numa marcha a favor da maconha, mas não se mobiliza contra a corrupção?”, está tomando corpo no país, esperamos que os rondonienses reforcem com músculos sadios este corpo, assumindo atitudes corajosas de denúncias, como que aplicando penicilina na nação contra o cancro da corrupção, que compromete o crescimento e o desenvolvimento do país.

williamhaverly@gmail.com          witahaverly@hotmail.com

Detalhes biográficos: baiano de nascimento, mas rondoniense de paixão, cursou Direito na UFBA e licenciou-se em Letras pela UNIR, é professor, escritor, presidente da ACRM – Associação Cultural Rio Madeira e ocupa a cadeira 31 da ACLER – Academia de Letras de Rondônia.             

 

 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoDomingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

NÃO PERGUNTES POR QUEM OS SINOS DOBRAM - NECROLÓGIO DO ACADÊMICO HERCULANO MARTINS NACIF

NÃO PERGUNTES POR QUEM OS SINOS DOBRAM - NECROLÓGIO DO ACADÊMICO HERCULANO MARTINS NACIF

  Por William Haverly Martins Só os poetas são donos do privilégio inominável de ser ele mesmo e o outro ao mesmo tempo, só eles conseguem ingressar o

ASSOCIAÇÃO CULTURAL SE REÚNE COM GENERAL DA 17ª BRIGADA PARA FALAR DE PROJETOS CULTURAIS DO EXÉRCITO EM RO

ASSOCIAÇÃO CULTURAL SE REÚNE COM GENERAL DA 17ª BRIGADA PARA FALAR DE PROJETOS CULTURAIS DO EXÉRCITO EM RO

Presidente da ACRM, Francisco Lima e o general Novaes Miranda em reunião na 17ª Brigada Hoje, 26 de março, a Associação Cultural Rio Madeira, represen

MANIFESTO 'VIVA MADEIRA-MAMORÉ'

MANIFESTO 'VIVA MADEIRA-MAMORÉ'

  A Estrada de Ferro Madeira-Mamoré (EFMM) esteve conectada à extração da borracha desde o ano de 1903, a partir do Tratado de Petrópolis entre Brasil

Integrantes da ACRM visitam obra de restauração da antiga Câmara Municipal

Integrantes da ACRM visitam obra de restauração da antiga Câmara Municipal

Ontem, dia 31 de janeiro de 2014, por volta das 09h30 da manhã, vários integrantes da Associação Cultural Rio Madeira, ciceroneados pelo presidente Wi

Gente de Opinião Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)