Antônio Cândido da Silva
Tenho acompanhado com interesse a discussão em torno da demolição do “Mercado do Cai N’água,” e do possível destino que será dado à caldeira ali instalada nas décadas 50/60 do Século passado.
A caldeira foi elevada à categoria de bem histórico e digna, portanto, de debate popular na imprensa local onde os mais estapafúrdios comentários estão sendo feitos em torno do assunto.
Silvio Santos tem razão quando diz que qualquer assunto referente à Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, gera discussão, o que não devia ser o caso, porque a caldeira e a cobertura do Mercado do Cai N’água nunca pertenceram à serraria instalada pelos americanos (após 1908), quando começou, também, a ser instalado todo o parque ferroviário.
Assim, não podemos dizer que os dormentes utilizados na construção da ferrovia foram serrados com ajuda dessa caldeira, porque dormentes são lavrados e não serrados e, no caso da Madeira-Mamoré, os quase 600.000 dormentes utilizados, vieram 350.000 da Austrália e o restante do Norte e Nordeste brasileiro.
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Observemos a foto da serraria dos americanos, feita por Dana Merrill para constatarmos que a serraria foi construída no sentido Leste/Oeste (veja-se o rio Madeira) enquanto a o mercado do Cai N’água como todos podem lembrar (já que foi demolido há apenas 15 dias) foi feito no sentido Norte/Sul, embora o sentido da caldeira tenha seguido o mesmo das caldeiras da serraria americana.
Vendo mais atentamente, em close, as caldeiras em questão, chegamos à conclusão de que são completamente diferentes pois enquanto as americanas possuem formas arredondadas, a mais recente foi construída com linhas retas e cantos arredondados.
Não há como dizer que se trata do mesmo maquinário.
Diz a reportagem do site Rondônia ao Vivo que a caldeira é de fabricação Alemã, o que nos leva a seguinte pergunta:
Porque os americanos importariam uma caldeira alemã se eles produziam, dominavam a técnica, fabricavam e exportavam tais equipamentos?
Isto posto, convém esclarecer que o “Mercado do Cai N’água” realmente abrigou uma serraria, que nunca foi “serraria das 11” como quer o Senhor Valmir Queiroz e nem “Serraria Santo Antônio” como quer o meu preclaro amigo Silvio Santos.
O galpão, a serraria e tudo o que nela existia, foi construído pelo governo do Território Federal do Guaporé, como disse, entre os anos 50/60 do Século passado, anterior ao governo de Petrônio Barcelos, com o nome de “SERRARIA TIRADENSTES.”
A serraria Santo Antônio, existiu na BR–364, logo depois do Trevo do Roque, sentido Rio Branco de propriedade do senhor Emil Gorayeb, cujo galpão ainda está lá e pode ser visto por quem quiser.
Para garantir o que afirmamos, anexamos o Decreto nº 462, de 10 de junho de 1966 que, por si só, diz tudo. Afinal de contas ninguém transfere, a quem quer que seja, aquilo que não lhe pertence.
Assim sendo, chegamos à conclusão de que não é correto vincular o galpão e a caldeira que faziam parte da Serraria Tiradentes à história da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. No entanto, se pudermos preservar a caldeira como parte da história do Território Federal do Guaporé e de Rondônia, aí sim, a briga tem razão de ser. Não nos esqueçamos, porém, de aprofundar as pesquisas (o que não cheguei a fazer) para que a história seja contada de maneira correta e com riqueza de detalhes...
Veja fotos do Galpão/Arquivo do Gentedeopinião
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Fonte: Antônio Cândido da Silva(*) - a.candido.silva@hotmail.com
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*Membro da Academia de Letras de Rondônia Membro da União Brasileira de Escritores – UBE – RO. Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)